Ainda não foi
desta que os socialistas pagaram a fatura da crise associada à pandemia. Ao
contrário, o PS começou o ano com o seu melhor resultado (39,9%) em cinco
meses, de acordo com a mais recente sondagem da Aximage para o JN, DN e TSF.
À Esquerda, e a
reboque das presidenciais, o momento é de perda para o BE (7,2%) e a CDU (5%).
À Direita, o PSD recupera (26,6%) e percebe-se que André Ventura vale mais do
que o Chega (7,5%), ainda que o partido da Direita radical aproveite a
fragilidade bloquista e esteja agora no terceiro lugar. Os liberais empatam com
um PAN em queda (3,5%). O CDS continua em agonia (0,8%).
Se uma sondagem é
o retrato do momento, é importante referir que este já tem um pouco mais de uma
semana. Em tempos normais, não seria um problema. Sucede que vivemos tempos de
mudanças bruscas e, assim, já não foi possível medir os efeitos políticos do
pico vertiginoso da terceira vaga da pandemia e, sobretudo, a pressão sobre o
Governo, que levaria ao encerramento das escolas. Sabemos, no entanto, que o PS
foi castigado em outubro, quando a segunda vaga progredia sem medidas
restritivas, e que foi premiado em novembro, quando endureceu o combate à
pandemia, limitando a mobilidade dos cidadãos.
DESEQUILÍBRIO À
ESQUERDA
Se o castigo (ou o prémio) também chegará desta vez, os próximos barómetros dirão. Certo para já é que o PS chegou quase aos 40 pontos percentuais, mais dois do que a soma de toda a Direita, que até continua a crescer. Os socialistas estão mais de três pontos acima do que conseguiram nas últimas legislativas, à custa dos parceiros à Esquerda. A defunta geringonça ainda valeria mais de 52 pontos, mas o desequilíbrio a favor do PS é cada vez mais evidente: o mapa de transferência de votos mostra que um quarto dos eleitores bloquistas e comunistas de 2019 escolheria agora o PS.
CDU e BE começam o ano, à custa dessa sangria em direção aos socialistas, em linha com os pobres resultados dos seus candidatos presidenciais no domingo passado. Os bloquistas estão num patamar superior aos comunistas, é certo, mas sofrem um abalo extra: são ultrapassados pela Direita radical pela primeira vez nestes barómetros e descem para o quarto lugar.
Se há mudanças à
Esquerda, é no entanto à Direita que se pode falar em reconfiguração. O PSD até
está em crescimento, mas fica ainda a um ponto do que conseguiu nas
legislativas de 2019 e, pior do que isso, a um pouco mais de 13 pontos
percentuais do PS. Acrescente-se o eclipse do CDS e conclui-se, mais uma vez,
que a Direita tradicional está em perda face ao fulgor da nova Direita,
representada por radicais e liberais.
Uma nova Direita
que, apesar de dividir, acrescenta valor. Somados todos os partidos deste
espetro político, valem agora um pouco mais de 38 pontos percentuais, mais
quatro que em outubro de 2019. Mas corresponde também um cenário que reverbera
com uma das frases mais simbólicas da última noite presidencial: "PSD,
ouve bem, não haverá Governo em Portugal sem o Chega". André Ventura
dixit.
RADICAIS À FRENTE
DO BLOCO
A Direita radical
até começa o ano praticamente com a mesma percentagem com que terminou o
anterior. Mas há uma alteração simbólica importante: o Chega seria agora o
terceiro maior partido, se houvesse eleições para a Assembleia da República,
ultrapassando os arquirrivais do Bloco. O partido vale menos, ainda assim, que
o seu líder. E a explicação é simples (ler texto à parte): um terço dos votos
de Ventura são de eleitores sociais-democratas que, por ora, regressam ao
partido de origem.
Também a
Iniciativa Liberal começa o ano exatamente no mesmo patamar com que acabou o
anterior e, curiosamente, um pouco melhor do que o seu candidato presidencial,
Tiago Mayan Gonçalves. Está dois pontos acima das últimas legislativas, mas
revela alguma instabilidade nos resultados, quando se analisam os diferentes segmentos
da amostra e, em particular, a sua distribuição regional. Os próximos meses
dirão se este já é o seu patamar.
Os liberais
empatam no fundo da tabela com o PAN, que está em queda há dois meses, para
voltar praticamente à casa de partida (a projeção é praticamente igual ao
resultado eleitoral de outubro de 2019). A perda de fulgor coincide, por um
lado, com o fim do mediatismo conseguido com as negociações para o Orçamento do
Estado, e, por outro, com a ausência de exposição mediática durante as presidenciais.
Centristas em
dificuldades
O CDS continua a
sua descida aos infernos, ainda que o resultado seja um pouco melhor do que os
0,3% de dezembro. Recorde-se que os centristas baixaram para a casa do ponto
percentual a partir do barómetro de setembro (Jornal de Notícias, texto do
jornalista Rafael Barbosa)
Sem comentários:
Enviar um comentário