terça-feira, agosto 11, 2020

Principais empresas de media perdem €50 milhões em receitas. Media Capital é a mais afetada

Pandemia castiga empresas da comunicação social. Media Capital e Cofina resvalaram para prejuízos, mas ainda nem fecharam oficialmente as contas semestrais. Impresa, dona da SIC e do Expresso, ficou no verde, mas com lucros magros de 178 mil euros. A Media Capital e a Cofina obtiveram prejuízos no primeiro semestre deste ano, o que se deveu sobretudo pelo abalo económico provocado pela covid-19. Os números ainda não são finais, até porque as duas empresas não concluíram o processo de fecho de contas. Ainda assim, divulgaram ao mercado o impacto da covid. E, aí, percebe-se que as receitas verificaram uma forte descida. Juntando os seus desempenhos com os da Impresa (as três empresas do sector cotadas na Bolsa de Lisboa), que conseguiu lucros, verificou-se uma perda de 50 milhões de euros em receitas nos primeiros seis meses do ano.
PERDA DE LIDERANÇA PESA NA PUBLICIDADE DA TVI
Sozinha, a Media Capital perdeu mais de 30 milhões de receitas entre janeiro e junho. Foram menos 36%, fechando o semestre com rendimentos de 55 milhões. A maior pressão foi no campo da publicidade, já que a TVI deixou de ser líder das audiências televisivas do horário nobre no final do primeiro semestre do ano passado. “Em resultado do efeito conjugado da pandemia e da redução de quota de audiência do principal canal televisivo (TVI – canal generalista) face ao período homólogo, os rendimentos operacionais do grupo foram negativamente afetados, nomeadamente ao nível da publicidade”, explica o comunicado enviado este domingo à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

Apesar de ter tentado conter os gastos, a Media Capital – que ganhou no semestre Mário Ferreira como novo acionista e que tem desde aí promovido mudanças na estrutura diretiva – verificou um resultado operacional negativo, o que fez com que tenha registado um prejuízo de 14,4 milhões de euros no primeiro semestre, que compara com o lucro de 5,9 milhões no primeiro semestre do ano passado. A empresa hoje em dia liderada por Manuel Alves Monteiro sublinha que estes números ainda podem ser alterados, já que o processo de fecho de contas ainda não está concluído.
“A INESPERADA E MUITO SIGNIFICATIVA DEGRADAÇÃO”
Neste semestre, a Media Capital teve de registar um custo não recorrente, de 785 mil euros, para rescindir com o seu antigo presidente executivo, Luís Cabral, que foi afastado recebendo uma indemnização – que o grupo sublinha nada ter que ver com qualquer mudança de poder na TVI (aliás, esse tema está em investigação na Entidade Reguladora para a Comunicação Social), como escreveu o Expresso este fim-de-semana.
O primeiro semestre foi aquele em que a Cofina desistiu da compra da Media Capital, deixando o caminho aberto para o seu ex-parceiro, Mário Ferreira, adquirir 30% da empresa. Em fevereiro, se inicialmente a Cofina avançou com as condições de mercado advindas da covid-19 para desistir da compra da Media Capital, posteriormente veio dizer que tinha verificado uma “inesperada e muito significativa degradação da situação financeira e perspetivas da Vertix e da Media Capital, especialmente agravadas pelo presente contexto de emergência causado pela pandemia covid-19”.
Agora, no semestre, a Media Capital apresenta contas efetivamente negativas. Olhando para o fluxo de caixa ("cash flow", entradas e saídas de dinheiro gerado na atividade operacional), o número também é negativo, com as atividades centrais do seu negócio a gerarem 787 mil euros negativos, quando geravam 16 milhões no primeiro semestre de 2019.
NÃO RECORRENTES LEVAM COFINA AO VERMELHO
A Media Capital não foi a única a perder dinheiro no semestre. Aquela que se perspetivava que viria a ser a sua proprietária também. Os prejuízos da Cofina no semestre deveram-se “à ocorrência de custos não recorrentes”. Não são explicados que custos são esses, nem há números exatos, pois a empresa liderada por Paulo Fernandes diz que as contas ainda não estão concluídas nem fechadas. Por isso, avançou, como pede a CMVM, apenas dados sobre o impacto da covid.
As receitas acumuladas da dona do Correio da Manhã no primeiro semestre recuaram 20% face ao mesmo período do ano passado. Serão perto de 11 milhões de euros perdidos para se fixarem nos 34 milhões – número que parte de um cálculo do Expresso feito a partir das receitas de 2019, já que a Cofina não aponta um número absoluto, apenas a evolução. Mais uma vez, a publicidade sentiu o maior embate, mas também houve quebra nos proveitos da circulação.
No semestre, a Cofina teve de pôr de lado 10 milhões de euros, o equivalente à caução que prestou para a compra da Media Capital e que o grupo vendedor, a espanhola Prisa, agora quer passar para a sua posse. Aliás, há um diferendo no tribunal arbitral para tentar resolver essa questão, onde a Prisa pede ainda uma compensação pela quebra do negócio. Além disso, a Cofina arrisca outros 10 milhões de euros por ter de lançar uma oferta pública de aquisição sobre os 5% de capital que a Prisa não detém (caso sobre o qual a CMVM deverá estar a decidir-se).
No semestre, a Cofina sublinha que, no “registo que [lhe] caracteriza”, avançou com “medidas de redução e absoluto controlo de custos”. A empresa de media diz que o resultado operacional foi positivo, apesar de incorporar os custos com a operação de aquisição falhada, pelo que os efeitos não recorrentes que conduziram aos prejuízos serão outros. Mas ainda são uma incógnita.
SIC AJUDA LUCROS MAGROS DA IMPRESA
Nos primeiros seis meses deste ano, a Impresa conseguiu ficar no verde, ao contrário das duas outras empresas cotadas do sector. A dona da SIC e do Expresso registou uma quebra de 95% dos lucros, que se fixaram nos 178 mil euros.
Também aqui, as receitas cederam 12%, sendo a descida travada pelo facto de a SIC ser líder de audiência. Foram menos 10 milhões de euros de receitas geradas no período, passando para os 78 milhões de euros. Os custos operacionais recuaram 9%, pelo que o resultado operacional da empresa liderada por Francisco Pedro Balsemão também se ressentiu, com uma evolução negativa.
As três empresas obtiveram assim, no primeiro semestre, receitas 50 milhões abaixo do mesmo período de 2019, uma descida de cerca de 23%. Neste período, e para compensar o impacto da pandemia, o Governo criou um programa de compra antecipada de publicidade institucional, equivalente a 15 milhões de euros para o sector. A Impresa recebe 3,5 milhões, a Media Capital 3,3 milhões e a Cofina 1,7 milhões (Expresso, texto do jornalista Diogo Cavaleiro)

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