terça-feira, agosto 11, 2020

Portugal em ‘contramão’ no teste de contactos

Países europeus estão a impor análises a todas as pessoas com risco de infeção. DGS insiste no teste em casos pontuais. A Direção-Geral da Saúde (DGS) vai manter a norma contestada por peritos e pela Ordem dos Médicos que prevê o teste covid apenas a contactos de alto risco e em situações excecionais, mas vários países estão precisamente a impor o contrário. Isto é, o rastreio a todas as pessoas próximas de um caso positivo. O Centro de Controlo de Doenças (CDC) norte-americano emitiu uma recomendação para testar todos os contactos e EUA, Austrália, Dinamarca, Suécia, Irlanda, Bélgica, França e Espanha já estão a adotar a estratégia. Em França, por exemplo, as autoridades de saúde pedem que o rastreio de contactos seja o mais imediato possível, tendo dispensado a prescrição médica. A população pode fazer o teste de forma célere e com comparticipação pública. Na vizinha Espanha os protocolos foram reforçados para que a análise não estivesse limitada a quem apresentasse sintomas da infeção, como acontece em Portugal.

O Expresso sabe que os consultores da DGS que escreveram à diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, reclamando a suspensão da norma, com o aviso de que não iriam colaborar na revisão de procedimentos contra a pandemia enquanto se mantivesse o teste arbitrário, reforçaram os argumentos numa nova missiva. “Os recentes resultados do Inquérito de Seroprevalência revelaram que só diagnosticamos 15% dos casos (1 em cada 6) e que 44% dos indivíduos foram assintomáticos, ou seja, perdemos muitos casos que foram responsáveis pela manutenção de cadeias de transmissão”, sublinham no documento.
Os médicos pneumologistas reiteram: “A norma é equívoca e permite a leitura de que a realização do teste é a exceção (‘pode ser considerada’) e a sua não realização deve ser a regra. Acresce a desvantagem de não estabelecer critérios uniformes de atuação e de avaliação, o que constitui um dos objetivos de uma norma.” Por isso, insistem: “A regra deverá garantir fazer sempre o teste aos contactos de alto risco. A exceção de não fazer poderá ser considerada em situações muito específicas e de acordo com a autonomia técnica da autoridade da saúde.”
Quem está na linha da frente faz ainda outra crítica à norma da DGS. Publicada no final do mês passado, é a primeira orientação para o rastreio de contactos desde que há pandemia. Por outras palavras, os procedimentos para uma das medidas essenciais para travar o vírus foram ‘regulamentados’ seis meses depois de ter sido registado o primeiro caso de covid-19 no país.
“Os testes são uma estratégia muito importante no combate à covid-19 e por isso devem ter critérios para ser feitos. Portugal não está a racionar recursos nem a provocar uma redução da testagem, que aliás continua a ser das mais altas da Europa”, garante a DGS. Ao Expresso, o gabinete de Graça Freitas explica que “a norma não altera nada do que é o procedimento adotado pelos médicos de saúde pública na avaliação do risco e na decisão sobre a realização de testes, apenas veio transpor para normativo a prática que foi sendo seguida desde o início da pandemia”.
“Cada país tem os seus próprios procedimentos e estratégias face à sua situação epidemiológica específica, ainda que sejam consideradas as diretrizes emanadas pela Organização Mundial da Saúde e pelo Centro Europeu de Controlo e Prevenção da Doença”, diz a diretora-geral da Saúde (Expresso, texto da jornalista VERA LÚCIA ARREIGOSO)

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