Acho
que foi Pedro Calado quem recentemente defendeu a urgência da Madeira dar a
volta e encontrar um novo paradigma económico, para que não dependa tanto e tão
excessivamente (e abusivamente) de actividades como o turismo e a construção,
muito volatilizadas, dependentes de factores exógenos que não controlam. Aliás
como se viu agora, com esta crise pandémica que de uma forma bastante intensa,
afectou sobretudo o turismo.
O problema é que eu acho que as pessoas que devem tomar a
iniciativa dificilmente o farão porque acham que nada vai mudar e que o covid19
é apenas um episódio isolado, que não se repetirá no futuro, pelo que tudo
deverá voltar ao normal quando a vacina for descoberta. A descrença perceptível
na classe médica e científica quanto a isso - falo dos alegados
"milagres" de uma vacina e da garantia de imunidade total das
pessoas, quando é sabido que o problema assentas na incerteza de que nunca
haverá uma vacina que combata o medo que se instalou entre as pessoas - a quase
certeza de que o novo normal nada tem a ver com o passado recente, tudo isso
faz-me acreditar que se não forem tomadas as iniciativas que devem ser tomadas,
de discussão, de debate, de troca de ideias, de selectividade de actividades
económicas, etc, etc, se não formos sérios na abordagem da realidade, se não
discutirem livremente, com frontalidade e pragmatismo, o que está mal, o que
deve ser feito e as mudanças que devem ser operadas, suspeito que em caso de
situações futuras semelhantes a esta crise sanitária que estamos todos a
passar, e seus efeitos devastadores, ilhas como a Madeira serão lançadas pelos
caminhos da insolvência, da miséria, da fome e da desgraça, em grande medida
devido à nossa vulnerabilidade, à insularidade e à periferia, sempre
condicionadoras. Por isso haja seriedade e não fiquemos por palavras isoladas,
chavões ou declarações de intenções. Nas redes sociais começam a surgir
movimentos apologistas de medidas concretas muito mais incisivas, por exemplo a
suspensão de autorizações de abertura de determinados negócios, casos de restaurantes
de pequenas dimensões, de lojas de rent-a-car e outros serviços associados ao
turismo, que proliferaram, abusivamente nos últimos anos e que dependeram
apenas e só dos turistas, não dos residentes. E não me venham culpar apenas a
covid19 pelos males do turismo e actividades satélites, porque todos sabemos
que mesmo antes da pandemia as coisas estavam a começar a ficar bem negras, já
havia despedimentos e muitos temiam pelo futuro. E apenas devido ao Brexit ou à
progressiva e lenta normalidade de mercados concorrenciais no norte de África,
cujas crises sociais, políticas e militares desviaram turismo para outros
destinos, criando a ilusão de uma mudança que era meramente pontual. Mas quanto
a isso deixo aos especialistas a tarefa enorme de encontrarem os tais novos
caminhos, de apontarem alternativas, etc. Se é que eles existem.
E não me venham com chavões da treta como as "regras do
mercado" e outras idiotices dessas. Porque quando isto deu o
"berro", essas benditas regras do mercado livre e privado foram
deitadas no lixo e foi o Estado, tantas vezes olhado como o "bicho
papão" que ameaça os privados, quem teve de acudir para que o caos não se
instalasse. A realidade empresarial regional é a que é marcada por uma
fragilidade de tesouraria (e de facturação) quase generalizada, assente em
micros empresas, salvo algumas excepções, com empregos instáveis, com recurso a
outras soluções temporárias, etc, porque a dimensão do nosso mercado é a que é,
e quanto a isso não a podemos esticar.
Dou-vos um exemplo do que pode resultar de uma falta de
organização, de diálogo e de falta de responsabilidade empresarial: numa
determinada zona turística da cidade, e isso já acontecia antes da pandemia (e
não neguem porque todos os dias percorro essa zona e sei do que falo), há
restaurantes, muitos deles lado ao lado na mesma rua, que fecham para descanso
do pessoal à segunda-feira. Em 10 temos 8 fechados! Os poucos turistas que
andam por ai - e dizem que a situação vai melhorar agora, oxalá que sim,
naquele dia em concreto, e na referida zona turística da cidade a que aludo -
apenas podem desfrutar de um ou dois restaurantes abertos na zona porque os
outros estão encerrados. Pergunto: o que é que impede que esta prática seja
alterada e que os restaurantes acordem entre si que as folgas, pelo menos nesta
fase, sejam diluídas ao longo da semana e não concentradas apenas num dia da
semana garantindo assim adequada resposta aos clientes que deixam de esbarrar
com estabelecimentos encerrados, quase porta sim-porta não? (LFM)
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