Foi o
ministro dos negócios estrangeiros, Santos Silva, a revelar que afinal a
pretensa "ajuda" dos ingleses à Madeira e aos Açores, e ao turismo
insular, era um embuste, uma palhaçada.
Eu
explico: no caso de Portugal - que ficou fora da lista das chamadas viagens
admitidas por Londres, mas evitáveis, segundo o próprio site do governo
britânico - era aberta uma excepção para a Madeira e os Açores, como existem
excepções em relação a outros países europeus.
O
problema é que ao contrário do que uma primeira leitura - e primeiras notícias
- indiciava, essa "ajuda" inglesa, para o turismo que no caso da
Madeira (mais do que uma tradição centenária continua em valores importantes,
apesar da quebra que o Brexit originou) era uma farsa mentirosa.
Vamos
a factos.
O
problema principal que se coloca aos potenciais turistas ingleses - para além,
da confiança a ter ou não nos países de destino - tem a ver com a
obrigatoriedade de uma quarentena de 14 dias, imposta a todos os que visitam o
país ou regressam ao Reino Unido. O mesmo se aplica, por exemplo, a emigrantes
que pretendam visitar a RAM e regressar ao Reino Unido.
Ora
se no caso de Portugal - excluído da lista divulgada por Londres - a
interpretação imediata e plausível é a de que Londres nem recomenda aos seus
turistas que escolham o nosso país para férias (falo do Continente), o que cria
problemas gravíssimos ao Algarve, já no caso da Madeira e dos Açores, a
Inglaterra admite que os turistas visitem as ilhas portuguesas, mas não os
exclui a obrigação de uma quarentena no regresso.
Perante
tudo isto, pergunta-se: alguém acha que os turistas ingleses que estejam
dispostos a escolher a Madeira como destino de férias, estarão igualmente
disponíveis para se sujeitarem no regresso a uma quarentena de 14 dias, ainda
por cima sujeita a penalizações financeiras duras?
O
peso do turismo inglês na RAM
No
caso do turismo inglês para a Madeira, e considerando os valores de final de
2019 - já que 2020 é um ano atípico - visitaram a Madeira 294.009 turistas
(18,4% do mercado), mas mesmo assim com uma queda
de 7,4% relativamente a 2018, ano em que a Madeira foi visitada por 317.553
turistas ingleses, 19,7% do mercado. No caso das estadias em alojamentos
hoteleiros, elas totalizaram em 2019 as 1.833.639 dormidas, 22,5% do total,
mesmo assim menos que as 1.970.750 dormidas registadas em 2018, 23,6% do total,
registando-se uma queda de 7% entre os dois anos.
O que
diz o governo britânico
O que
diz o governo inglês afinal no seu site institucional e que não deixa dúvidas a
ninguém, embora muitos não se tenham a percebido disso?
É
referido isto:
"Summary:
From 4 July, Madeira and the Azores are exempt from the FCO advice against all
non-essential international travel. This is based on the current assessment of
COVID-19 risks.
From
4 July, Madeira and the Azores are exempt from the FCO advice against all
non-essential international travel. This is based on the current assessment of
COVID-19 risks.
However,
the requirement to self-isolate on return to the UK from Portugal, including
Madeira and the Azores, remains in place. See guidance on entering or returning
to the UK".
Londres
não deixa dúvidas, confirmando as declarações do MNE português que obviamente
não ia inventar: “o requisito de auto-isolamento no regresso de Portugal ao
Reino Unido, incluindo a Madeira e os Açores, continua em vigor. Consulte as
orientações sobre como entrar ou retornar ao Reino Unido”.
O
caricato – ou não - é que o mesmo site que aplica estas restrições, mais
abaixo, nas diversas sugestões deixadas a potenciais turistas ingleses, não
esquece a Madeira e as suas levadas: “Walking the levadas (ancient irrigation
channels) is a popular activity in Madeira, but the walks can be challenging if
you are inexperienced. See Madeira”
E
agora?
Julgo
que o GRM deve insistir junto do governo de Lisboa, e acompanhar as exigências
que estão a ser feitas junto de Londres, para que estas restrições se alterem.
Não sei mesmo se não seria devida uma palavra ao representante diplomático inglês
na capital portuguesa, alertando para o potenciar. Impacto negativo que a imposição
da obrigação da quarentena terá no fluxo turístico para a Madeira. Mas isso é
matéria que cabe, não a uma qualquer Agência de Promoção que não tem
competências para se envolver nestas matérias políticas, mas ao próprio GRM e
ao titular da Secretaria do Turismo, porque a continuar esta situação
francamente duvido que a Madeira possa ter uma mão cheia de turistas ingleses
de visita. E nem falo no impacto social e económico daí resultante. Toca a
trabalhar rapidamente. Muito sinceramente acho que este dossier assume grande prioridade para quem tem a responsabilidade de, nestes tempos dificeis de contradições e sacanagens - muitas delas ligadas a patifarias entre destinos turísticos numa concorrência descontrolada e com muito lobbing à mistura - gerir uma aéra tão sensivel e perigosa, pelo impacto social e económico, como o turismo - (LFM)
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