sábado, julho 11, 2020

Líder do Chega da Madeira lamenta que André Ventura “se rodeie de hooligans”. Ventura propõe expulsão do crítico: “Não tolero bandalheira”

Miguel Tristão Teixeira publicou no Facebook uma carta aberta a Ventura a chamar a atenção para a vergonhosa campanha eleitoral do partido no Porto, protagonizada por José Lourenço, eleito presidente da distrital. Líder do Chega da Madeira diz que os princípios do Chega estão feridos de morte e que André Ventura arrisca ficar rodeado de “lambe-botas”. André Ventura decidiu propor internamente, esta quarta-feira, a “suspensão imediata, com vista à expulsão”, do líder do Chega da Madeira. Na missiva, a que o Expresso teve acesso, Ventura avisa que “uma coisa é democracia interna, outra bandalheira, isso eu não vou tolerar”. A proposta do presidente do Chega para expulsar Miguel Tristão Teixeira é justificada “face à gravidade das declarações públicas” feitas pelo presidente “demissionário” do partido na Madeira, que alega colocarem “em causa o bom nome do partido”. Na origem da cisão está uma carta aberta que o presidente do Chega da Madeira dirigiu, esta terça-feira, a André Ventura, publicação em que criticava a “vergonhosa” campanha eleitoral da distrital do Porto, exortando-o a responder ao país e a todos os militantes se existe “conflito de interesses ou não na concelhia do Porto”. O visado no post de Miguel Tristão Teixeira é o vice do partido Diogo Pacheco Amorim, que o líder madeirense refere que lhe telefonou “a dizer que em seu nome pedia para não interferir” nas eleições do Porto.
Na opinião do líder madeirense, José Lourenço, o candidato vencedor derrotou o adversário Rui Rocha “sem olhar a meios, depois de ter afastado de forma indecente Jorge Pires”, anterior presidente do Chega/Porto. No post, Tristão Teixeira diz a André Ventura que só lhe restam três coisas: “Anular as eleições, demitir o vice Diogo ou expulsar-me do partido (esta é a mais fácil)”. O madeirense de 61 anos, membro da Chega desde a fundação até meados de junho, adverte André Ventura que os princípios do partido “estão feridos de morte”. “Você arrisca ficar rodeado de lambe-botas, que sempre são mais fáceis de digerir do que pessoas que desde o início são o coração do partido”.
O dirigente prestes a ser expulso garante que André Ventura tem virado as costas a quem “fez a luta pelo partido”. Ao Expresso, Miguel Tristão Teixeira lamenta que o partido esteja a crescer à “custa dos hooligans do futebol”, o que, antecipa, irá “minar e acabar com o partido”, que alega já estar “descredibilizado” pelo facto de “André Ventura andar enrolado no sistema”, desfazendo-se das pessoas “mais válidas”. “Ainda há quem adira ao partido porque gosta de ver, e bem, o show do André na Assembleia da República e porque têm esperança de que o Chegue seja um partido diferente, que se bata contra o compadrio e a corrupção”, sustenta o militante, que já sabe que vai ser expulso, mesmo que não tenha sido ainda oficialmente informado.
Para Tristão Teixeira, André Ventura “andou mal” ao aceitar o financiamento de ações do Chega de Caesar De Paço, ex-cônsul honorário de Portugal em Pal Cost, nos EUA, e dono da multinacional americana Summit Nutritionals Internacional, recém-fundador da Fundação De Paço, com sede em Cascais. “Temo que essa ligação sombria venha a criar problemas ao partido e que não exista incompatibilidades pelo facto de José Lourenço ser diretor-executivo desta fundação e Diogo Pacheco Amorim membro do conselho consultivo”, adverte. A adesão ao partido europeu Identidade e Democracia também não é vista com bons olhos pelo ainda militante do Chega, por recear a radicalização do partido e a colagem à extrema-direita (Expresso, texto da jornalista Isabel Paulo)

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