segunda-feira, abril 01, 2019

Nota: o (compreensível...) eleitoralismo oportunista de Costa mas que ele nega

António Costa não é politicamente um "patinho" daqueles que se julgam donos do mundo mas que acabaram de entrar na arena.
Costa sabe a "cartilha" toda, e sabe - até porque tem alguns anos de ligação a esta área - que a comunicação, neste caso a comunicação institucional "versus" a manipulação que a comunicação política propicia a reboque de decisões populistas, são factores fundamentais num ano eleitoral. Cada vez mais importantes, mesmo que ainda não decisivas.
Costa sabe, como eu sei, que em ano eleitoral é conveniente estudar adequadamente as técnicas do anúncio ou implementação de medidas populares, até porque é sabido que há estudos científicos que demonstram que a capacidade de memorização das pessoas se situa entre os 3 a 4 meses. Ou seja, as pessoas retêm uma medida popular - e podem votar premiando os seus autores - num prazo de tempo bem definido e limitado. Depois disso outras questões, sobretudo sociais e económicas, acabam por "limpar" essa memorização.
Ao invés disso, e os partidos sabem disso, se a ideia é criar uma espécie de "caos" à volta de um tema em concreto, preferencialmente com reconhecido impacto social - por exemplo, a educação, a saúde, a mobilidade, o emprego, etc, nada melhor que fazê-lo três a quatro meses antes dos actos eleitorais pelos mesmos motivos antes referidos, insistindo num discurso alarmista, manipulador, distorcendo a realidade que depois o poder experimenta dificuldades em contrariar se revelar incompetência e desprezo pelas pessoas. Por isso não me espanta que, sobretudo nas duas eleições, as regionais madeirenses e as legislativas nacionais, os partidos transformem o debate político numa arena de "picadas" e alarmismos e distorções constantes, tentando todos os protagonistas retirar vantagens dessa postura manipuladora.
Vem isto a propósito - depois de ter divagado um pouco em considerações gerais mas reais - do que se passou hoje em Lisboa a propósito do custo dos novos passes sociais, com António Costa - desde manhã cedo, acompanhado de um vasto séquito, de ministros, secretários de estado, adjuntos, assessores, assessores de adjuntos, mirones, jornalistas, fotógrafos, operadores de imagem, etc - a promover a divulgação das importantes medidas que este governo da geringonça tomou em matéria do custo dos novos passes sociais estabelecendo os 40 euros como limite máximo mensal, gerando poupanças nalguns casos assinaláveis. O discurso de Costa - que recusou sempre aquilo que é inegável e que entra pelos olho e ouvidos de todos, o eleitoralismo oportunista (pelo timing escolhido) das medidas indiscutivelmente importantes e populares (um único passe, para toda a área metropolitana de Lisboa ou Porto e para todos os operadores de transportes) - chegou ao ponto de lembrar que uma pessoa pode ir a Setúbal comer uns chocos fritos, passar por Sintra para comer umas queijadas locais, ou ir aos gelados em Cascais, aos ouriços do mar em Mafra, e depois as enguias em Vila Franca de Xira!
Temos a garantia de que Costa vai girar repetidamente, durante a campanha, em torno de um tema aliciante e inatacável, apesar das desconfianças das pessoas relativamente à capacidade de resposta actual dos transportes públicos ante um inevitável aumento da procura. Mesmo que tenha havido quem garanta que esta medida foi pela primeira vez proposta pelo PCP, mas que foi sendo sucessivamente derrotada na Assembleia da República por "inexequibilidade" agora confirmada. Curiosamente.
O problema é que neste contexto complicado e estranho da geringonça mergulhada numa indisfarçável instabilidade interna ditada pela proximidade de actos eleitorais, o PS acaba por reclamar, mesmo sem o fazer, os méritos de uma decisão do seu governo - não é verdade que o  PCP e o Bloco dizem que o acordo parlamentar é da geringonça mas que o governo é do PS? - deixando atónitos e incomodados os seus parceiros (?) geringonçados. 
Finalmente, reconheço que PSD e CDS, perante esta medida - que eles próprios durante anos puderam implementar, se quisessem, mas nunca a valorizaram pelo menos da forma que estes agora fizeram - ficam ser argumentos para contestar os preços praticados nos passes sociais e o modelo de funcionamento agora adoptado. Fica a expectativa, quanto muito, das esperanças das pessoas, dos utentes em concreto saírem frustradas por esbarrarem na dificuldade ou na impossibilidade dos transportes públicos das áreas metropolitanas, graças à falta de investimentos durante os últimos anos e à pressão resultante do aumento da procura, deixarem de funcionar da forma eficaz que as pessoas reclamam. Acresce que estamos a falar de uma medida que custará anualmente ao Governo e às autarquias aderentes, cerca de 120 milhões de euros anuais. Nem é nada do "outro mundo" que justifique o facto de durante 20 anos ninguém ter feito nada de concreto como agora ocorreu. Vamos a ver se a teoria da memorização dos cidadãos eleitores se mantém ou se no final de Maio se confirmará o que os tais autores dos estudos sobre o tema garantem (LFM)


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