Na cidade de Maracaibo, onde residem 1,5 milhões de
pessoas e que foi, em tempos, o lugar de onde se exportava metade da produção
petrolífera da Venezuela, a decadência vê-se por todo o lado. Um sintoma são as
falhas de eletricidade, com efeitos a muitos níveis. Por exemplo, na
conservação da carne, que muitas vezes acaba por apodrecer e ser comprada assim
mesmo - por não haver outro remédio, se as pessoas querem comer. A Associated
Press foi ao mercado central de Maracaibo e constatou que os clientes de facto
compram carne meio apodrecida, fazendo o que podem para tornar tolerável o seu
consumo. "Cheira um pouco mal, mas limpa-se com um pouco de vinagre e
limão", explica um homem que compra carne para alimentar os seus três
filhos, de 6, 9 e 10 anos. O homem, de 55 anos, é guarda num parque de
estacionamento. Conta que a sua mulher emigrou porque já não aguentava as
privações, deixando-o sozinho a tomar conta das crianças. Ao princípio pensou
que a carne lhes podia fazer muito mal. "Eu tinha medo que eles ficassem
doentes, porque são pequenos. Mas só o mais pequenino teve diarreia e vomitou",
diz. Embora o governo responsabilize os EUA e outros países
pela situação desesperada no país, um talhante não tem dúvidas sobre quem tem a
culpa daquilo que os clientes são forçados a aguentar. "Claro que comem a
carne, graças a Maduro. A comida dos pobres é comida podre". Além do caos económico, as coisas pioraram quando a 10
de agosto um fogo destruiu o principal cabo elétrico. Se os cortes de
fornecimento já duravam há quatro meses, a partir daí agravaram-se ainda mais.
No mercado de Maracaibo, a AP encontrou pelo menos quatro talhos a vender carne
estragada.
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