sábado, junho 13, 2015

Alberto João Jardim: “A minha candidatura é uma provocação”

Segundo o correspondente do Público no Funchal, MÁRCIO BERENGUER, "o ex-presidente do Governo Regional da Madeira, Alberto João Jardim, admitiu esta sexta-feira ao PÚBLICO, uma candidatura às eleições presidenciais de 2016. Sem se assumir (ainda) como candidato a Belém, João Jardim, diz-se disposto a avançar, nem que seja para provocar o actual regime político. “Sei que a minha candidatura é uma provocação ao regime instalado, aos partidos políticos e ao poder económico, mas estou disposto a avançar”, garantiu Jardim, à margem do seminário Autonomia Política Regional promovido pela Associação dos Antigos Parlamentares dos Estados do Conselho da Europa, que decorreu no Funchal. A candidatura do ex-governante madeirense foi lançada, através das redes sociais, no Dia de Portugal. O timing não foi deixado ao acaso e Jardim admite que sabia que o movimento de apoio estava a ser preparado. “Fui abordado por um grupo de amigos, madeirenses e continentais, que me lançaram esse desafio”, explicou. O antigo líder do executivo madeirense concordou com o lançamento da campanha de recolha de apoios mas colocou duas condições para avançar: “Tenho de ter o apoio de pelo menos 10 mil proponentes [a lei apenas exige 7.500] e uma base financeira sólida”.
Sem “apoio” dos partidos nem do “grande capital”, o candidato a candidato, antevê dificuldades. “O país não tem maturidade para aceitar uma candidatura fora do grande capital e da esfera dos partidos políticos”, lamenta, acrescentando que não está a contar com o apoio do PSD. “A minha relação com o actual líder do partido é péssima, e sei que só o facto de eu aparecer já o aborrece, quando mais ser candidato.”
O movimento de apoio contava ontem com mais de 2.500 gostos, e se esse dado pode ser irrelevante – até porque muitos comentários não eram nada abonatórios –, o facto da página no Facebook ter sido partilhada por vários dirigentes do PSD sugere que Jardim tem apoios dentro do partido. Ontem, através de André Freitas, assessor pessoal de Jardim desde os tempos da presidência do Governo Regional, foi também colocada a circular nas redes sociais a declaração de propositura da candidatura, que tem como lema Para Mudar Portugal. E como se propõe João Jardim fazer isso? Despertando a consciência dos portugueses para o peso cada vez maior que os lobbies e o poder económico têm nas decisões políticas em Portugal. “Os centros de decisão já não estão nos partidos, estão noutros lobbies e noutros poderes económicos, e é preciso que os portugueses tenham consciência daquilo em que estão metidos”, afirmou.
“Não tenho a finança do meu lado, não tenho o grande capital ao meu lado, e como não enriqueci na política, vivo da minha reforma, não tenho, pessoalmente, dinheiro para me meter nisto”, sublinhou, repetindo o que tinha dito na véspera. “Infelizmente em Portugal, sem dinheiro não conseguimos avançar nestas coisas.” Apesar de dizer que durante os mais de 40 anos em que governou a Madeira incompatibilizou-se com muitos empresários, existem no Funchal grupos económicos ligados à construção, à hotelaria e aos serviços que cresceram com Jardim na presidência. “Isso não é bem assim, até porque a lei apenas permite contributos a título individual, não deixa que as empresas se metam nisto”, disse, defendendo o modelo norte-americano em que tudo é feito às claras. De acordo com a Lei do Financiamento dos Partidos e Campanhas Eleitorais, cada candidatura pode gastar no máximo à volta 1,5 milhões de euros na campanha, sendo que os contributos singulares, sempre em nome individual, não podem ultrapassar os 22,5 mil euros por pessoa. Com ou sem apoio financeiro, fica a certeza que, pelo menos para já, Jardim é candidato a candidato.
Contra uma coligação na Madeira
Num altura em que na Madeira o PSD e o CDS debatem internamente a hipótese de uma coligação para as legislativas de Outubro, Jardim mostrou-se totalmente contra qualquer acordo pré-eleitoral na Região. “Não faz parte da genética do PSD-Madeira coligar-se com outro partido”, afirmou, dizendo não compreender como é que um partido que é poder, o PSD, pode fazer uma aliança com outro que é oposição, o CDS, mesmo tratando-se de umas eleições nacionais. “Isto não faz sentido nenhum, nem para o PSD nem para o CDS, e eu não sou o único dentro do partido a ter esta opinião”, defendeu, garantindo que o PSD-Madeira está dividido sobre esta matéria. Para o ex-líder dos social-democratas madeirenses, são os partidos à esquerda que vão tirar dividendos caso a coligação vá para a frente na Madeira. “Comigo, a hipótese nem se colocava.” Nos Açores, onde ambos são oposição, PSD e CDS não chegaram a acordo. Na Madeira, a decisão será tomada até ao início de Julho"

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