quinta-feira, junho 05, 2014

As Mães de Tiananmen não deixam o massacre ser esquecido

"Há 25 anos, Zhang Xianling era uma mulher ingénua e foi por isso que o filho morreu. “Quando eu lhe disse para não sair de casa não fui muito convincente. Não acreditava que eles iam usar balas verdadeiras. Que ingénua”. O filho ouviu a mãe, mas ignorou-a. Agarrou na máquina fotográfica, montou na bicicleta e pedalou até Tinanamen para tirar fotografias ao que se estava a passar. As tropas já estavam a chegar à praça de Pequim e Wang Nan, que tinha 19 anos, propunha-se registar tudo. “O meu filho tinha este ideal, um ideal nobre, que era preservar a verdade através da lente da sua câmara”.  Estaria a preparar a objectiva, apontada aos soldados, quando uma bala lhe acertou na cabeça. Zhang diz que o Governo transformou uma mulher ingénua numa activista – ajudou a fundar o grupo Mães de Tiananmen e há 25 anos que a sua missão é responsabilizar o Partido Comunista da China pela morte do seu filho e dos de todas as outras mães, e impedir que o massacre do movimento pró-democracia da Primavera de 1989 caia no esquecimento. “O que eles querem é que as pessoas não saibam o que se passou, que tudo seja esquecido. Mas nesta era em que a Internet está tão desenvolvida as mentiras não vão conseguir sepultar a verdade”, disse Zhang à AFP numa entrevista telefónica. Zhang já está habituada à rotina do 4 de Junho. Algumas semanas antes da data, polícias fardados e à paisana começam a vigiar-lhes os passos. Houve um ano em que decidiu ir ao lugar onde o filho morreu – ficou ali deitado durante horas, a esvair-se em sangue, porque os soldados não deixaram que fosse levado ao hospital, soube a mãe nas investigações que fez entretanto –, prestar-lhe homenagem. A polícia deteve-a e assegurou-se de que não repetiria a ousadia – há uma câmara em permanência apontada ao lugar, à espera que Zhang regresse ou que outra pessoa tente recordar o que ali aconteceu" (leia aqui a reportagem da jornalista do Público, Ana Gomes Ferreira)