Escreve o Económico que “um estudo da Cetelem sobre literacia
financeira revela as dificuldades que os portugueses defrontam nos seus
orçamentos, bem como as principais alterações nos seus hábitos de consumo
impostos pela crise. Não é novidade que a crise económica obrigou a maioria das
famílias portuguesas a adaptar os hábitos de consumo de forma a conseguir
cumprir com todos os seus compromissos financeiros. Reajustamentos impostos
pela subida do desemprego, dos impostos e pelo corte de ordenados. O impacto na
vida financeira é de tal ordem que quando confrontadas com uma despesa
extraordinária, muitas famílias não têm como fazer face a ela. E essa realidade
parece estar a agravar-se. Um estudo da Cetelem, realizado no âmbito do Dia
Mundial dos Direitos do Consumidor, revela que entre 2013 e 2014, o número de
portugueses sem qualquer margem orçamental para fazer face a imprevistos
aumentou significativamente. De acordo com a análise facultada ao Diário
Económico, 24% dos inquiridos respondeu não ter nenhuma folga no seu orçamento
mensal para suportar despesas inesperadas. Ou seja, mais do dobro face à
percentagem de respostas nesse sentido - de 10% - verificada no inquérito
realizado no ano passado.
Neste estudo levado a cabo entre 17 e 25 de Fevereiro, através de
entrevistas telefónicas, a Cetelem procurou aferir alguns comportamentos dos
portugueses em várias vertentes da vida financeira. Os 500 inquiridos foram
confrontados com questões relacionadas com a gestão de orçamentos, hábitos de
poupança, conhecimentos sobre produtos financeiros bem como a importância que atribuem
à formação financeira.
Um dos dados que salta à vista nesse estudo e que ajuda a
justificar a reduzida margem para fazer face a imprevistos relaciona-se com o
peso crescente que as despesas fixas assumem nos orçamentos familiares. Nesta
análise, constata-se que perto de 15% dos agregados disponham mais de 75% do
seu orçamento alocado a despesas fixas com a casa, carro, água, luz, gás,
créditos e cartões de crédito, acima dos 12% que se verificava no inquérito
realizado em 2013. Aliás, existe um número significativo de portugueses que
admite ter cortado despesas relacionadas com a saúde, educação e alimentação
devido à crise económica que o país atravessa. Do total de inquiridos, 78,8%
afirmaram ter reduzido gastos com lazer, 76,2% cortaram despesas com vestuário
e 66,2% com combustível. Os domínios da saúde e da educação foram aqueles em
que houve menos restrições, com 30% e 25,4% dos inquiridos a reconhecer este
tipo de cortes. Apesar de ainda existir uma proporção relativamente elevada de
portugueses que consegue ter hábitos programados de poupança, esta margem é
agora bem menor face ao que se verificava no ano passado. Do total de
inquiridos, 30,4% revelou conseguir poupar com uma regularidade mensal. Em
2013, a proporção era de 42,6%. Do lado oposto, é notório também um grande
aumento do número de pessoas que deixou de ter qualquer capacidade de poupança.
No ano passado, 8,6% dos inquiridos estavam nessa situação, enquanto agora já
são mais de 22%. Uma boa notícia é que o recurso ao crédito também diminui
significativamente do ano passado para este ano, sobretudo no que respeita ao
crédito automóvel”