segunda-feira, março 17, 2014

Famílias sem folga orçamental mais do que duplicam

Escreve o Económico que “um estudo da Cetelem sobre literacia financeira revela as dificuldades que os portugueses defrontam nos seus orçamentos, bem como as principais alterações nos seus hábitos de consumo impostos pela crise. Não é novidade que a crise económica obrigou a maioria das famílias portuguesas a adaptar os hábitos de consumo de forma a conseguir cumprir com todos os seus compromissos financeiros. Reajustamentos impostos pela subida do desemprego, dos impostos e pelo corte de ordenados. O impacto na vida financeira é de tal ordem que quando confrontadas com uma despesa extraordinária, muitas famílias não têm como fazer face a ela. E essa realidade parece estar a agravar-se. Um estudo da Cetelem, realizado no âmbito do Dia Mundial dos Direitos do Consumidor, revela que entre 2013 e 2014, o número de portugueses sem qualquer margem orçamental para fazer face a imprevistos aumentou significativamente. De acordo com a análise facultada ao Diário Económico, 24% dos inquiridos respondeu não ter nenhuma folga no seu orçamento mensal para suportar despesas inesperadas. Ou seja, mais do dobro face à percentagem de respostas nesse sentido - de 10% - verificada no inquérito realizado no ano passado.
Neste estudo levado a cabo entre 17 e 25 de Fevereiro, através de entrevistas telefónicas, a Cetelem procurou aferir alguns comportamentos dos portugueses em várias vertentes da vida financeira. Os 500 inquiridos foram confrontados com questões relacionadas com a gestão de orçamentos, hábitos de poupança, conhecimentos sobre produtos financeiros bem como a importância que atribuem à formação financeira.
Um dos dados que salta à vista nesse estudo e que ajuda a justificar a reduzida margem para fazer face a imprevistos relaciona-se com o peso crescente que as despesas fixas assumem nos orçamentos familiares. Nesta análise, constata-se que perto de 15% dos agregados disponham mais de 75% do seu orçamento alocado a despesas fixas com a casa, carro, água, luz, gás, créditos e cartões de crédito, acima dos 12% que se verificava no inquérito realizado em 2013. Aliás, existe um número significativo de portugueses que admite ter cortado despesas relacionadas com a saúde, educação e alimentação devido à crise económica que o país atravessa. Do total de inquiridos, 78,8% afirmaram ter reduzido gastos com lazer, 76,2% cortaram despesas com vestuário e 66,2% com combustível. Os domínios da saúde e da educação foram aqueles em que houve menos restrições, com 30% e 25,4% dos inquiridos a reconhecer este tipo de cortes. Apesar de ainda existir uma proporção relativamente elevada de portugueses que consegue ter hábitos programados de poupança, esta margem é agora bem menor face ao que se verificava no ano passado. Do total de inquiridos, 30,4% revelou conseguir poupar com uma regularidade mensal. Em 2013, a proporção era de 42,6%. Do lado oposto, é notório também um grande aumento do número de pessoas que deixou de ter qualquer capacidade de poupança. No ano passado, 8,6% dos inquiridos estavam nessa situação, enquanto agora já são mais de 22%. Uma boa notícia é que o recurso ao crédito também diminui significativamente do ano passado para este ano, sobretudo no que respeita ao crédito automóvel”