quarta-feira, novembro 27, 2013

Os portugueses já não querem tantos filhos como no passado



Segundo o Público num texto da jornalista Raquel Albuquerque, “em média, os portugueses em idade fértil têm um filho mas desejariam ter dois. Primeiro Inquérito à Fecundidade em quase duas décadas ajuda a perceber por que não nascem mais crianças no país. Há três realidades diferentes a ter em conta quando se fala na fecundidade: o número de filhos que um casal já tem, aqueles que espera ainda vir a ter e aqueles que, na verdade, desejaria mesmo ter. Olhar para essas diferenças ajuda a perceber o que está em causa. Em 2013, em média, as pessoas têm um filho, pensam ainda vir a ter 1,8 filhos, mas desejariam ter 2,3. Está é uma das conclusões do Inquérito à Fecundidade, apresentado nesta quarta-feira e realizado em 2013 numa parceria entre o Instituto Nacional de Estatística (INE) e a Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS). O último inquérito era de 1996 e, desde então, não era feita nenhuma análise qualitativa sobre a fecundidade, apesar de se assistir a um declínio significativo que colocou Portugal na cauda da Europa e do mundo em termos de fecundidade.
No máximo, dois filhos
Hoje, o número desejado de filhos não ultrapassa os dois. É aqui que se encontra um dos principais pontos do estudo: apesar de continuarem a querer ter filhos, a concepção de família para os portugueses já não ultrapassa uma dimensão pequena. Mas não é por acaso que hoje as famílias não têm a dimensão que tinham: o aumento da escolarização, a diminuição da mortalidade infantil, a existência de métodos contraceptivos eficazes, a urbanização, entre muitos outros factores, explicam essa realidade. “Isso leva a que a ambição das famílias não seja ter descendências numerosas”, apontou Maria João Valente Rosa, directora da Pordata. “Em especial para quem já tem filhos, os custos financeiros foram o motivo mais apontado para não terem mais”, considera a directora da Pordata. Com base nos resultados, percebe-se que, para 67% das mulheres e 68% dos homens que decidiram não ter mais filhos, a razão principal foram “os custos associados a ter filhos”. Para 48% das mulheres e 59% dos homens, “a dificuldade em conseguir emprego” foi outra razão apontada. Para 51% das mulheres e 46% dos homens que já têm filhos, o desejo é não ter mais. A maioria das pessoas que não tem filhos tem menos de 30 anos, mas é nesta faixa etária que se encontra também a proporção mais elevada de pessoas que pensam ter dois ou até mais. "Ver os filhos crescerem e desenvolverem-se” é o motivo mais apontado para a decisão de ter filhos. Outras razões, como a “realização pessoal” e “ver a família aumentar”, são também apontadas.
Desfazer mitos
“Há um resultado que me agrada particularmente”, aponta António Barreto, presidente do conselho de administração da FFMS. “Não há grandes diferenças entre homens e mulheres e isto contraria um facto. É grande em Portugal a tendência de culpabilizar as mulheres pela baixa taxa de fecundidade, porque querem estudar, trabalhar ou ser como os homens. Ver que não existem muitas diferenças é um sinal de progresso.” O inquérito vem ainda contrariar a ideia de que em zonas rurais existe a vontade de ter mais filhos do que numa zona urbanizada, mostrando que não existem diferenças expressivas segundo a área de residência. Outra das perguntas do inquérito tinha a ver com os incentivos que são considerados necessários para aumentar a natalidade. “Aumentar os rendimentos das famílias com filhos” foi a resposta da maioria dos inquiridos, seguida da necessidade de “facilitar as condições de trabalho” e de “alargar o acesso a serviços para ocupação dos filhos durante o tempo de trabalho dos pais”. Quando comparado com os restantes países da União Europeia a 27, percebe-se que Portugal (com uma taxa de fecundidade de 1,35 em 2012) está no fim da lista. Abaixo estão apenas a Letónia, Polónia, Roménia e Hungria, com valores entre 1,34 e 1,23 filhos por mulher. Os resultados deste inquérito, feito através de entrevistas pessoais a mulheres com idades entre os 18 e os 49 anos e a homens entre os 18 e os 54 anos, continuarão a ser publicados no primeiro semestre de 2014”