segunda-feira, novembro 04, 2013

Como os ministros aplicam o dinheiro

Escreve o jornalista do Jornal I, Filipe Garcia que "na semana em que o Orçamento do Estado começa a ser discutido, fomos ver como os ministros governam as suas carteiras. Não tenho poupanças neste momento." A frase de Maria Luís Albuquerque, em entrevista à SIC, causou burburinho. Seria possível que a ministra das Finanças não tivesse um pé de meia? Com passados profissionais e, já agora, políticos bem diferentes, entre os 15 ministros do Governo liderado por Pedro Passos Coelho há carteiras para todos os gostos. Das mais compostas, como as de Pires de Lima e Paulo Macedo, às mais modestas, caso de Passos Coelho ou Pedro Mota Soares, e uma certeza - Maria Luís Albuquerque não tem de facto qualquer poupança em seu nome. Em São Pedro do Estoril, a responsável pela saúde das finanças nacionais tem uma moradia em construção e no banco, a Caixa Geral de Depósitos, o respectivo empréstimo no valor de 440 mil euros a pagar até 2047. "Tenho uma casa, que estou a pagar. Tenho despesas, e menos receita, porque somos afectados como todos. Além do mais sou funcionária pública", confessou Maria Luís Albuquerque que, com "três filhos pequenos" e "pouca margem para poupar" apenas regista um Seat Alhandra na declaração entregue ao Tribunal Constitucional.
Investidores típicos
Uma galáxia diferente daquela de onde chega António Pires de Lima, o último reforço de Governo que aceitou o desafio de trocar a Unicer pela pasta da Economia. Nessa altura, o gestor desfez-se de todas as acções de empresas nacionais. Mas amealhou mais de 1,6 milhões de euros. Afinal, o que fazem ao dinheiro os governantes do país? O investidor-tipo português tem entre os 45 e os 64 anos, grau de educação superior e um ordenado mensal entre três e quatro mil euros, retrata o estudo mais recente da CMVM, que já data de 2009. Um perfil em que encaixa grande parte dos membros do executivo. No entanto, não faltam opções originais de investimento, alguns mesmo só justificáveis pelos requisitos éticos das novas funções. "Foi correcto face à posição que agora ocupa. Em prejuízo da rentabilidade, preferiu evitar conflitos de interesses", comenta José Santos Teixeira, presidente da Optimize, sobre a alienação dos títulos nacionais levada a cabo por Pires de Lima quando chegou ao Governo.
Dos fundos a acções da Hugo Boss
Mas há posturas no mercado bem menos consensuais. Se há quem nem tenha poupanças - casos de Maria Luís Albuquerque e Passos Coelho - ou quem limite o seu aforro a depósitos a prazo (Assunção Cristas, por exemplo, mantém uma conta poupança no BPI com 35 mil euros) também há quem ainda tenha certificados de aforro, como Paulo Macedo, ministro da Saúde e antigo administrador do BCP. "Nada contra os certificados de aforro, mas aconselhamos os nossos clientes a investir nas Obrigações do Tesouro que estão com rendibilidades à volta dos 6%", diz Santos Teixeira. Também há quem mantenha o grosso das suas poupanças em instituições estrangeiras - Poiares Maduro tinha, à entrada no Governo, mais de 260 mil euros num banco italiano e Nuno Crato em financeiras norte-americanas. "Revela algum pessimismo quanto à solvabilidade da banca portuguesa, o que até pode ser justificado, mas nesta altura recomendaria a passagem para uma gestora de activos independente", defende o responsável da Optimize. E afinal, entre o ‘americano' Crato e o ‘italiano' Maduro, quem está mais seguro? "Prefiro apostar em euros. É verdade que os EUA nunca vão falir, mas o risco de inflação é maior que na Europa", explica, lembrando que desde o início do ano o dólar já perdeu 8% face ao euro. Paula Teixeira da Cruz, Paulo Macedo e Rui Machete são, entre os ministros, os que mais têm apostado em fundos de investimento. À carteira de investimentos do homem da Saúde, não faltam fundos americanos, asiáticos e europeus, enquanto Teixeira da Cruz aposta sobretudo através da banca nacional - mesmo que mantenha perto de 300 mil euros no Deutsche Bank - enquanto o ministro dos Negócios Estrangeiros apresenta a carteira mais diversificada: tanto tem acções da Hugo Boss, como da Sonae e da PT. Certo é que o imobiliário, em que José Pedro Aguiar-Branco se destaca dos colegas de Governo, já foi um negócio mais seguro. "A população portuguesa está a diminuir e a envelhecer e a oferta que existe já é suficiente. Globalmente não pode ser considerado um bom negócio", explica José Santos Teixeira. Mas Aguiar-Branco está pronto para as oscilações do mercado imobiliário: só no BES tem mais de 370 mil euros"