sábado, agosto 17, 2013

Crescimento do consumo pode ser travado já em outubro



Diz o Dinheiro Vivo que “a riqueza produzida em Portugal cresceu 1,1% no segundo trimestre deste ano, relativamente aos primeiros três meses. Este crescimento resulta em parte de uma queda menos acentuada no consumo privado, havendo bons indícios no comércio a retalho e nas despesas das famílias. A recuperação na venda de automóveis é um bom exemplo. Mas o consumo será o caminho ideal para a recuperação da economia? As famílias, que têm poupado mais, só vão decidir quando conhecerem a dose de austeridade a aplicar em 2014.
“Enquanto as taxas de juro da dívida pública se mantiverem em níveis elevados, nomeadamente a relativa às obrigações do Tesouro a 10 anos, que anda pelos 6,5%, isso significa uma capacidade limitada de auto financiamento por parte dos bancos e, logo, o crédito concedido aos particulares é sempre caro, refreando o consumo”, afirma Pedro Cosme Costa Vieira, professor da Faculdade de Economia do Porto. O Banco de Portugal confirma que o crédito às famílias caiu 12,3% em junho face ao mês anterior. Por outro lado, a taxa de juro em novas operações de crédito ao consumo está quase nos 10% e a praticada para outros fins nos 6%, descendo para 3,2% na habitação (Euribor mais spread).
No entanto, há pequenos indícios de que o consumo está a recuperar ou pelo menos a atenuar a queda. O Boletim Económico de Verão do Banco de Portugal dá conta de uma queda de ‘apenas’ 4,3% no consumo privado - que pesa 66% no PIB - ao longo do primeiro trimestre, valor inferior a todas quebras trimestrais verificadas em 2012. Ainda não se conhecem pormenores sobre os fundamentos do crescimento em cadeia de 1,1% no segundo trimestre, mas sabe-se que nos primeiros três meses do ano o PIB caiu 4% em termos homólogos (corrigido para -4,1% pela estimativa rápida do INE conhecida esta semana), tendo as exportações líquidas contribuído com 2,3% positivos e a procura interna (consumo público e privado) com -6,4% (-7,2% no trimestre homólogo), e que o peso da despesa do Estado no PIB é de apenas 18%.
“Eu desejo que o consumo não aumente. Seria a prova de que os padrões de comportamento não foram reformulados. Repare-se que o aumento da poupança está já a alterar o paradigma do endividamento ligado ao consumo. Nós só queremos mais consumo se este indicador for associado a maior produção e investimento”, afirma João Cantiga Esteves, professor do ISEG. No segundo trimestre, o índice no comércio a retalho diminuiu 2,7% em termos homólogos, contra -4,9% nos primeiros três meses. Adicionalmente, a quebra de 4,3% nas despesas de consumo final das famílias, entre janeiro e março, segue-se a um recuo de 5,3% nos últimos três meses de 2012, não deixando de ser significativo o facto de a quebra nos bens duradouros ter passado de -20,7% para -7,5% no arranque deste ano. E um bom exemplo de bem duradouro é o automóvel. Entre janeiro e julho foram vendidos mais 4% de carros face ao mesmo período do ano passado. Mesmo que grande parte dos carros comercializados não tenham como destino o consumidor final; foram parar às empresas de rent-a-car, que estão a renovar as suas frotas. O veto do Tribunal Constitucional ao corte dos subsídios de Natal e férias dos funcionários públicos e pensionistas teve o efeito prático de recuperar em 2013 o rendimento que tinha sido perdido em 2012. No entanto, o Orçamento do Estado deste ano levou a um aumento do IRS, por via da diminuição dos escalões e da imposição de uma sobretaxa de 4%, não se sabendo qual será o grau de austeridade imposto pelo Orçamento a aplicar em 2014. As negociações com a troika vão decorrer em setembro e os cortes resultantes da reforma do Estado poderão chegar a um montante de 3,2 mil milhões de euros”.