"Nas últimas semanas cresceu a ideia de que o governo prepara a demissão como resposta a um eventual chumbo do Tribunal Constitucional ao Orçamento. De facto, um chumbo - sobretudo se for vasto - cria um problema extremamente difícil ao governo: como cumprir este Orçamento e, sobretudo, como fazer o do próximo ano sem incorrer em novas inconstitucionalidades?
Esta linha de raciocínio é aparentemente correta mas esconde o outro lado do problema. O que aconteceria se Passos Coelho atirasse a toalha ao chão? A primeira consequência seria o seu desaparecimento político. Para começar, Passos teria de enfrentar uma boa parte do PSD que defenderia a mudança imediata do líder antes de novas eleições. Se passasse esse teste teria que deixar a liderança depois das eleições, porque a possibilidade de vitória numa legislativas antecipadas é quase nula.
É claro que há um cenário que não passa por eleições, mas antes por um governo de iniciativa presidencial. Mas esse governo teria sempre que ter o apoio parlamentar do PSD (e do CDS e do PS, porque Cavaco o iria exigir), o que implicava na mesma o fim da liderança de Passos Coelho. Neste caso, António José Seguro também não conseguiria manter a liderança do PS, mas este tema fica para outro dia.
É certo que há muita gente a dizer que Passos pode preferir ir a eleições já em vez de enfrentar uma derrota ainda mais pesada em 2015. Uma vez mais, acho que estão errados. Não só Passos acredita que ainda pode governar num período de algum crescimento, como entende que só cumprindo um mandato pode vir a ser lembrado como o primeiro-ministro que fez o ajustamento mais duro da democracia portuguesa.
É por isto que acho que Passos não vai atirar a toalha ao chão" (texto de Ricardo Costa, Expresso com a devida vénia)