sexta-feira, abril 05, 2013

Governo investe 430 milhões em hospitais para evitar falência de oito unidades

Segundo o Jornal I, num texto da jornalista Marta F. Reis, “metade dos hospitais do SNS terminaram o ano de 2012 com fundos próprios negativos. Novas regras obrigavam-nos a rever a carteira de serviços. O ministro anunciou ontem uma injecção de 430 milhões de euros nos capitais próprios de alguns, mas sem revelar quais. A operação livrará algumas unidades de terem de rever a oferta de serviços, obrigação que se mantém para aquelas em que seja previsível terminar este ano com défice. O anúncio foi feito numa audiência de Paulo Macedo no parlamento, na manhã do dia em que se discutiu a moção de censura. Entre insólitos como a banda-sonora da filarmónica da GNR como barulho de fundo ou o ministro a desejar que o cenário “não fique cor-de-rosa tão depressa”,olhando para os deputados socialistas, Macedo garantiu mil novas camas nos cuidados continuados no próximo ano, mas não respondeu a dúvidas em torno daquilo que João Semedo (BE) considera já um segredo de Estado: as listas de remédios usadas em hospitais do Norte para limitar algumas prescrições e que o governo ainda não disponibilizou à oposição.
Ponto de situação nos hospitais. O resgate de 430 ME
Será uma almofada importante para alguns hospitais, sobretudo porque lhes retirará a obrigação de agilizar a actividade prevista para este ano com uma revisão da carteira de serviços, conforme está previsto para as unidades em que seja previsível terminar 2013 no vermelho. Na primeira audiência do ano na comissão parlamentar de Saúde, o ministro Paulo Macedo anunciou um aumento de capital dos hospitais-empresa em 430 milhões, que permitirá reduzir os hospitais com fundos negativos de metade do parque hospitalar do SNS para um terço. Contas feitas às 48 unidades, significa passar de 24 unidades com défice crónico –algumas porque nunca tinham recebido a injecção de capital social do Estado –para 16. Oito ficarão mais folgadas, mas ontem o ministro não revelou quais. Esta foi a grande novidade da intervenção de Paulo Macedo no parlamento, na primeira audiência do ano junto da Comissão de Saúde. Além deste fôlego dirigido, Macedo anunciou também que serão libertados os 432 milhões de orçamento rectificativo para pagar dívida antiga que chegaram a estar cativos pela troika. Tudo somado, dá uma injecção de 800 milhões no orçamento da saúde.“Contra diversos arautos de desgraça, o SNS não acabou, não faliu”, disse Macedo.
Perceber a dívida. Secretário de Estado explica tudo
Depois de alguma ausência de informação sobre que hospitais estariam a violar lei dos compromissos, o secretário de Estado Manuel Teixeira explicou aos deputados e jornalistas que a informação está toda disponível na Direcção Geral do Orçamento. Verificado o site da DGO, a tabela apresentada não parece estar disponível. Assim, revelou a tutela, o que se passa é que a dívida vencida – ou seja, dívida em que o prazo acordado com os fornecedores já expirou, sejam 90 ou 120 dias – baixou de 2749 milhões de euros em Maio de 2012 para 1211 no final de Fevereiro. Mas não é esta rubrica que importa em termos de cumprimento do memorando e consequente lei dos compromissos: o que a troika exigiu foi que não se repetissem situações em que o prazo de pagamento aos fornecedores ultrapassa em mais de 90 dias o prazo inicialmente acordado. Os dados permitem perceber que, nesse capítulo, o controlo não funcionou. Esta “dívida em atraso de pagamento” passou de 2197 milhões em Maio de 2012 para 770 milhões no final de Fevereiro. Para esta quebra contribuiu a verba extra de 1500 milhões libertada no ano passado e há agora a somar os 432 milhões agora garantidos. Ficam a sobrar mais de 300 milhões em atraso. A derrapagem da lei dos compromissos na saúde tem agora um número.
Promessas 2013. Cartão raro e cuidados continuados
Mais mil novas camas de cuidados continuados e a emissão em todo o país do cartão para portadores de doenças raras foram duas garantias deixadas ontem pela tutela aos deputados. Serão financiadas camas quer de cuidados paliativos, quer de cuidados de convalescença, assegurou o ministro da Saúde. O prazo dado por Paulo Macedo para o alargamento da rede de cuidados continuados do país, muito aquém dos rácios internacionais, são os próximos 12 meses. Com mais mil camas passarão a ser cerca de 7 mil. Já o cartão do doente raro, projecto inovador em Portugal, tem agora Julho como data para a sua disseminação entre os doentes de todo o país, estando agora numa fase piloto. Este cartão, que permitirá identificar os doentes com patologias de muito baixa incidência de forma a agilizar o seu atendimento e seguimento em unidades que não tenham especialistas ou experiência imediata em doentes com estes casos, já esteve prometido para o primeiro trimestre do ano passado. Macedo assegurou ainda que este ano irá repetir-se a vacinação gratuita para os grupos de risco da gripe, a começar no Outono. O ministro revelou que a taxa de cobertura de 55% verificada na última época gripal na população com mais de 65 anos foi positiva mas ainda está aquém do pretendido.
Caso G17. “Segredo de Estado”, segundo João Semedo
João Semedo_(BE) insistiu num pedido já feito à tutela para ter conhecimento à lista que está a ser usada num grupo de hospitais do Norte (primeiro 14 e agora G17) que alegadamente preterem de remédios recomendados nas normas da DGS. Embora os hospitais garantam que as listas só visam a aquisição em bloco, têm sido denunciados casos de discriminação dos doentes do Norte no tratamento de hepatite e esclerose múltipla. “Se o governo está tão tranquilo, qual é a razão para que um deputado não pode ter conhecimento dessa lista? Qual é a dificuldade de o país conhecer com transparência quais são os medicamentos?.” Na primeira oportunidade de resposta, Macedo não referiu o tema, o que levou Semedo a contra-atacar:_“o seu silêncio traduz que a lista do G17 não é um mistério, é um segredo de Estado.” O ministro então respondeu:_“Está a trabalhar uma comissão que visa um formulário hospitalar para ter um sistema equitativo em todo o país. Querer ignorar esta realidade é não querer ver toda a realidade.”Leal da Costa revelou também que já pediu para serem avaliados caso a caso todas as situações denunciadas na área da esclerose múltipla. Não foi avançada data para desfecho destas operações ou se as listas do G17 serão entregues aos deputados.
Remédios. Tirar desconto de 6% foi acordo com indústria
Embora o acordo ainda em falta entre Ministério da Saúde e Indústria Farmacêutica não tenha sido um tema abordado directamente na audição, Paulo Macedo deu a entender que houve cedências bem recentes para agora esperar entendimento. João Semedo levantou a questão de o fim do desconto de 6% nos medicamentos, que vigorava desde 2010, ter coincidido com o dia em que entrou em vigor a revisão anual de preços (a passada segunda-feira), o que nos casos em que os remédios caem abaixo da quebra média (7%) significará uma anulação do efeito desta medida para a carteira do utente. Na resposta, Macedo foi assertivo: “O fim da dedução fazia parte do acordo com a indústria [farmacêutica]. O Estado quer cumprir esperando que a indústria cumpra a sua parte.” A ausência de um acordo com a Apifarma para 2013 implicará que o Ministério da Saúde tenha de encontrar medidas alternativa para cortar mais de 200 milhões na despesa com medicamentos. Paulo Macedo voltou a referir a importância de resolver a dívida do SNS como forma de garantir defesas dos fornecedores. “Não tenho uma fixação na dívida, tenho é fixação numa coisa que me aconteceu quando cheguei ao ministério: por causa da dívida, cortaram-me fornecimento aos hospitais.”
Norte: “É lamentável falar de planeamento exemplar”
Numa sessão marcada por momentos insólitos – intervenções dos partidos da coligação ao som de fundo da fanfarra da GNR que ontem esteve em S. Bento, a deputada social-democrata Laura Esperança a elogiar Macedo por um reforço de 600 enfermeiros no Norte (uma notícia falsa que circulou no Dia das Mentiras) ou o ministro ter respondido que cansado só está de subir as escadas do ministério, desmentindo que teria pedido para deixar o executivo – as palavras mais duras do ministro foram para com as reivindicações de novas unidades de Saúde no Norte. Falando sobre os projectos do Centro de Reabilitação e Centro Materno Infantil, Macedo disse ser “lamentável que alguém diga que o planeamento foi exemplar. Nunca concordaremos com a utilização dos dinheiros públicos desta maneira.” Sobre o Centro de Reabilitação do Norte, que deverá abrir até ao final do ano e abranger população sem actualmente sem esta reposta diferenciada ao contrário do Centro e Sul do país, Macedo rejeitou a forma como o tema é abordado pela oposição. “Assistimos sempre ao ‘abra-se, abra-se, abra-se’.Nunca há qualquer palavra sobre financiamento. Abrir centros de qualquer maneira, quando sabemos que o mais barato são os edifícios, é algo que não fazemos"