A odisseia dos jogadores de ténis de mesa do Benfica montanhas abaixo
O Publico, pelo jornalista José Bento Amaro, revala hoje uma história curiosamente interessante: "Da Encumeada até à Ribeira Brava são 12 quilómetros, mas a equipa de ténis de mesa do Benfica, que estava num hotel da primeira daquelas localidades quando o temporal se abateu sobre a Madeira, fez, a pé, quase o dobro da distância. Montanha abaixo, por entre pedras e árvores a rolar, fugindo a torrentes de água e estradas que desapareciam quase sob os seus pés. Passaram por cima de casas destruídas e viram carros serem engolidos em segundos. Também depararam com pessoas a andar à toa, ensopadas e de olhar distante, Quase tão distantes como o cadáver ensacado que encontraram junto a um túnel. A história da mais terrível história de terror contada pelo mesa-tenista José Monteiro. "Acho que tive mais medo por causa da minha família e dos amigos. Não havia maneira de falar com ninguém, para dizermos que estávamos bem e onde estávamos", conta o jogador, de 20 anos. José Monteiro chegou à Madeira na noite de sexta-feira. Jantou com os colegas no Funchal. Nessa altura, "chovia, mas pouco". Do Funchal a equipa seguiu para a Encumeada. Alojaram-se no hotel. No dia seguinte havia jogo com o Estreito, a contar para o Campeonato Nacional. Mas, durante a noite, a água engrossou, engrossou e engrossou. "O pequeno-almoço foi entre as 08h00 e as 09h00. Pelas 10h30 quisémos sair do hotel, mas a estrada já estava cortada. Era só pedras e árvores caídas. Não dava para sair por nenhum lado", conta José Monteiro. A equipa regressou ao hotel. Já não conseguiram telefonar. A electricidade foi-se e a televisão, alimentada por um gerador, só transmitia um canal. "Foi através da SIC que soubemos o que se estava a passar. Era o único canal que funcionava, diz o jogador. Era já noite quando a equipa resolveu que, caso não surgisse ajuda, haveria de sair do local pela manhã. "Já tínhamos accionado os alarmes do hotel, mas ninguém apareceu", diz ainda o jogador. Os quatro jogadores, Ricardo Roberto, Paulo Marques, Bernardo Law e José Monteiro, e o seccionista José Carlos saíram do hotel na manhã de domingo. "Fomos pela montanha. Em muitos sítios não havia estrada. Eram só pedras, buracos, árvores arrancadas. Havia sítios de ravinas imensas. Tínhamos de passar por veredas muito estreitas. Num sítio a estrada foi arrancada e para conseguirmos passar tivemos de subir para cima de uma casa, que também tinha ficado destruída, e só depois conseguimos chegar a um local mais seguro", lembra José Monteiro. Ainda "assustado", o atleta continua: "Vimos pilhas de carros a serem levados pelas ribeiras e, junto a um túnel, na Ribeira Brava, estava uma mulher morta, dentro de um saco". Só nesta localidade, uma das mais devastadas, é que um dos telemóveis de um elemento da equipa voltou a funcionar. Todos conseguiram falar com as famílias. Tinham passado muitas horas desde que tinham saído da Encumeada. Circularam por entre pessoas que "pareciam que andavam perdidas" e mais casas destruídas. Por fim, ensopados e com os sacos de treino às costas, conseguiram boleia até ao Funchal. Foram para o aeroporto. Aterraram em Lisboa já passava da meia-noite de ontem. Para trás ficava "um filme de terror".
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