segunda-feira, fevereiro 22, 2010

Madeira: avaliar prejuízos materiais

O Diário Económico publica hoje uma reportagem de Sílvia Reis (texto) e André Kosters (fotos), sobre a situação na Madeira, a qual transcrevo: "Ruas intransitáveis, lojas fechadas, equipas da Protecção Civil a acudirem um pouco por todo o lado. É este o retrato da cidade do Funchal, onde no sábado, dia 20, o verde dos jardins deu lugar à cor castanha da lama, enegrecida pelo número de mortos, de feridos e de desaparecidos em constante atualização. Cuida-se dos vivos, enterram-se os mortos e faz-se a contabilidade dos prejuízos de uma dasmaiores tragédias vividas na ilha. "É devastador", afirmou ao Diário Económico Lino Abreu, o presidente da Associação Comércio e Serviços, a maior associação empresarial da Região Autónoma da Madeira, que agrega cerca de 1.400 pequenas e médias empresas. Lino Abreu, também vereador do CDS-PP na Câmara Municipal do Funchal, disse que há "centenas de lojas que foram engolidas pela lama, sobretudo na zona nobre do comércio do Funchal". Numa primeira contabilidade, Lino Abreu apontou para "cinco milhões de euros" o valor dos prejuízos para os comerciantes, ressalvando contudo a necessidade de um "levantamento exaustivo". "Há lojas danificadas, mercadorias e equipamentos irrecuperáveis", declarou, explicando que esta situação agrava ainda mais a crise que o sector atravessa. "O comércio estava a passar a fase mais crítica dos últimos 30 anos, com centenas de lojas a encerrar e a lançar pessoas para o desemprego", referiu, defendendo a necessidade de criação de uma linha de apoio financeiro, a fundo perdido, para os comerciantes vítimas domau tempo. Para Lino Abreu, "esse fundo deveria compensar, não apenas os prejuízos dos empresários, como tambémos dos seus trabalhadores que não vão poder trabalhar durante os próximos dois, três ou quatromeses". Também Duarte Rodrigues, presidente da Associação Comercial e Industrial do Funchal (ACIF), preconiza medidas de apoio para os comerciantes e outros empresários, sustentando que as consequências do mau tempo foram"maisumamachadada" para os comerciantes da zona da baixa da cidade. "Sozinhos vão ter muitas dificuldades", advertiu Duarte Rodrigues, que alertou ainda para as consequências de uma eventual ausência de medidas de auxílio financeiro para estas empresas."Afectaria toda a cidade. É muito importante não deixar morrer o comércio e os outros serviços nesta zona da cidade", referiu, aludindo ainda ao crescimento do desemprego. "Muitos milhões de prejuízo" Sem precisar valores, a secretária Regional do Turismo e Transportes, Conceição Estudante, assegurou ao Diário Económico que os prejuízos do mau tempo na Madeira são de "muitos milhões de euros", mas considerou "não ser prudente neste momento avançar comvalores". Já o presidente do Sindicato da Construção Civil da Madeira, Diamantino Alturas, arrisca um número para os prejuízos no sector: "Mil milhões de euros". "Há estragos por todo o lado. Sabemos que são muito elevados e há zonas nas quais se desconhece ainda o que se passou", justificou. Conceição Estudante frisou que actualmente "a preocupação é coma segurança das pessoas" e em "garantir as acessibilidades a toda a ilha", revelando-se ainda satisfeita pelo facto de o aeroporto e o porto o porto estarem já operacionais. "É fundamental libertar as acessibilidades para que se possa acudir a todas as situações emergentes, a todos os locais que carecem de ajuda", referiu ainda, sem adiantar uma data para que a cidade do Funchal regresse à normalidade. Por seu turno, o vereador com o pelouro das Finanças da Câmara Municipal do Funchal, Pedro Calado, admitiu ao Diário Económico que "dentro de dois ou três dias a cidade poderá entrar na normalidade, no essencial". Pedro Calado adiantou que o levantamento dos prejuízos "está a ser feito, mas ainda vai demorar" a contabilidade final, porque a "prioridade está naturalmente concentrada em pôr tudo em ordem, a dar assistência às pessoas, incluindo o acompanhamento psicológico".
Oportunidade de negócio no meio da tragédia
E há quem, como o presidente do Sindicato da Construção Civil da Madeira, Diamantino Alturas, reconheça que a tragédia de sábado acaba por ser uma oportunidade de negócio. "Dá uma mãozinha, como aqui se costuma dizer, ao sector, mas não é o desejável", disse o sindicalista para quem "é evidente que [a tragédia] vai gerar alguns milhares de postos de trabalho,mas é de curto prazo", numa alusão à necessidade de recuperar casas, estradas e outras infra-estruturas que ficaram danificadas.
"Mas o que dá são as obras de raiz, como apartamentos, hotéis", exemplificou. Admitindo que muitos dos estragos que ocorreram "têm a ver com a intempérie", Diamantino Alturas salientou que alguns são originados por "muitas coisas que não deviam ter sido feitas". "Há muitas obras que nunca deviam ter sido feitas", frisou, salientando que algumas construções agora danificadas na sequência do mau tempo foram alvo de sucessivas críticas e de inúmeros alertas para os riscos que representavam. "Uma grande parte desta tragédia tem rosto, tem nome", considerou ainda o presidente do Sindicato da Construção Civil da Madeira.A forte precipitação começou ao início da madrugada de sábado e antecedeu uma das maiores tragédias que se abateu sobre a ilha da Madeira. A chuva provocou fortes deslizamentos de terras e o transbordo das ribeiras, tendo as autoridades madeirenses contabilizado, no último balanço, 43 mortos, 120 feridos, 248 desalojados e um número indeterminado de desaparecidos (até ontem às 20h00). As áreas mais afectadas são a capital, a cidade do Funchal, que ficou coberta por um manto de lama, e os concelhos da Ribeira Brava, Ponta do Sol, Calheta, Câmara de Lobos, Machico e Santa Cruz. Este é considerado o pior temporal na Madeira desde 1993, que fez então sete vítimas mortais".

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