Na entrevista que concedeu aos jornalistas João Marcelino e José Fragoso, do DN de Lisboa, Maria José Morgado falou do "caso da Madeira":
(...)
"Quando pega em casos com grande impacto mediático, como o "Apito Dourado" ou agora a corrupção na Câmara Municipal de Lisboa, sente que existe uma pressão sobre si para apresentar resultados rapidamente e que levem a condenações, a acusações?
Maria José Morgado - Há aí duas coisas. Primeiro, eu não pego em casos nenhuns, são-me distribuídos no exercício das minhas funções. O meu dever é aceitar, pronto. A pressão pelos prazos e os resultados, bem, isso é uma pressão que me está no sangue, é a adrenalina necessária. Os resultados são aqueles que correspondem à prova recolhida no processo e ponto final. Nada tem de ser acusado ou arquivado por causa de um movimento de opinião pública ou seja lá o que for. As coisas são o que são de acordo com os critérios da produção da prova no processo. É engraçado que uma inspectora que está comigo na equipa que foi do "Apito Dourado" me costuma dizer que eu imponho aos meus colaboradores um stress positivo, de ter de concluir e ter de decidir, com transparência e responsabilidade. Muitos processos têm vindo para Lisboa: o processo "Apito Dourado", que não sendo exclusivo do Norte desenvolveu-se sobretudo no Norte do País, o caso da Madeira também veio para Lisboa...
Como é que se deve interpretar isso? Só os magistrados em Lisboa é que têm a distância suficiente face aos casos para lidarem com eles de forma objectiva?
- Não, não tem nada a ver com esse pressuposto. Tem a ver com a direcção concentrada de investigação e especialização. O "Apito Dourado", se não fosse a concentração dos cerca de 80 processos nesta equipa, provavelmente não estaria concluído nos próximos cinco anos por força das várias burocracias, das várias comarcas, da necessidade de trocar informações, etc., etc.
Mas poder-se-ia fazer exactamente o mesmo no Porto, ou não?
- Não. Isto foi uma equipa para todos os processos, que eram dos mais variados locais.
Sim, mas a centralização poderia ser numa cidade qualquer?
- A centralização foi numa equipa, uma unidade especial da Procuradoria-Geral da República.
Por acaso em Lisboa...
- Sim, mas se fosse possível na Lua também trabalhávamos. As pessoas eram de cá, acontece.
Mas noutra cidade de Portugal é que não...?
- Não. Em qualquer sítio se trabalha. Estudei no Porto, a minha família é do Norte, as minhas raízes são do Porto, o meu pai é do Futebol Clube do Porto, é um fanático do Futebol Clube do Porto, sou uma mulher do Norte até e gosto muito de ir ao Porto. Agora, deixe-me lá dizer isto: num mês e meio na equipa do "Apito Dourado" ouviram-se 72 pessoas. Isto não era possível fazer sem ser por este método pró-activo de uma equipa concentrada de polícias e procuradores que avancem uniformemente e coordenadamente no terreno. Mais: além de terem ouvido 72 pessoas num mês e meio, que é um número recorde - porque as pessoas não são ouvidas instantaneamente, têm de ser convocadas, tem de se saber se elas podem ou não podem comparecer, tem de se fazer os contactos, têm de ser localizadas, têm de ser preparadas e por fim têm de ser feitas as audições -, as notificações foram feitas pessoalmente pelo único oficial de justiça que existe nessa equipa, pelo único elemento de segurança que existe nessa equipa. Agarraram nas acusações e correram o País a entregá-las pessoalmente às pessoas. Conseguiram fazer as notificações em três dias. Notificações que levariam três anos a ser feitas em tribunal através do tradicional método burocrático da carta precatória. Em relação ao caso da Madeira, também lhe devo dizer que não veio nada para Lisboa. Foi uma averiguação preventiva entregue à 9.ª secção do DIAP de Lisboa, que é a secção especializada na corrupção, para averiguar, sem prejuízo da continuação da competência dos magistrados da Madeira - aliás, a senhora coordenadora é uma pessoa por quem tenho muita consideração, está lá há pouco tempo e é uma pessoa dinâmica e íntegra, acima de toda a suspeita -, o que é que esse dossier tinha de novo que desse origem a novos processos-crime e o que é que o dossier tinha de repetido em relação aos processos de criminalidade já participada e pendentes na região e que continuam na titularidade dos magistrados da Madeira. Aliás, tenho a melhor impressão dos magistrados da Madeira com quem tive de articular o "Apito Dourado". A primeira acusação dada no âmbito desta equipa foi de uma magistrada da região da Madeira, fique sabendo".
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