sábado, fevereiro 25, 2023

Sondagem Católica: País pior do que há um ano e rendimento disponível no topo das preocupações

Uma sondagem realizada pela Universidade Católica para a RTP, Antena 1 e Público mostra que as principais preocupações dos inquiridos se prende com o rendimento disponível, mas também com a Governação e confiança. Comparando com o questionário de há seis meses, há agora mais pessoas a considerar que o país está pior do que há um ano. As dificuldades financeiras agora sentidas estão a par das registadas há uma década, no tempo da troika.

No inquérito de opinião agora realizado, 72% das pessoas diziam que o Portugal está pior do que há um ano. Em julho, eram menos os pessimistas: 63% dos inquiridos é que afirmava então que o país estava pior do que no ano anterior. Este inquérito foi realizado entre os dias 9 e 17 de fevereiro de 2023. Foram obtidos 1002 inquéritos válidos, com margem de erro de 3,1% e nível de confiança de 95% Nesta sondagem, 17% dos inquiridos considerou que o país está “igual” (eram 24% em julho) e 9% diz que o país está melhor (eram 11% em julho). Dois por cento dos inquiridos não sabe ou não responde. Aos 1002 inquiridos nesta sondagem foi pedido que identificasse o principal problema do país, numa pergunta aberta, sem lista de potenciais respostas pré-definidas. Depois dos inquéritos concluídos, as respostas foram agregadas em temas.

Dessa análise, ressaltam duas grandes áreas temáticas:

  1. as questões ligadas com o rendimento disponível (inflação, custo de vida, baixos salários, economia, desigualdade e habitação);
  2. as questões ligadas com a governação e confiança (governo, corrupção, credibilidade/capacidade dos políticos).

Comparando com o inquérito realizado pela Católica em julho, nota-se uma subida das respostas ligadas a estas duas grandes áreas temáticas. Os problemas relacionados com o rendimento disponível representavam 24% e agora representam 36%. Os problemas ligados à governação e confiança nos políticos subiu de 14 para 30%.

A inflação/custo de vida é o principal problema apontado, reunindo 20% das escolhas.

O Governo e a governação surgem em segundo lugar, com 15% das respostas. A corrupção tem 11%, a economia é preocupação para 7%. Com 4% de respostas dos inquiridos surgem os baixos salários, a saúde, a credibilidade ou capacidade dos políticos. A habitação é preocupação para 3% dos inquiridos, a guerra preocupa 2% e a desigualdade é apontada por outros dois por cento dos inquiridos.

Menos lazer

Esmiuçando os dados, a sondagem indica que os inquiridos diminuíram sobretudo os gastos com lazer, a resposta escolhida por 59 por cento das pessoas. Há dez anos, numa sondagem em fevereiro de 2012, nos tempos da troika, houve mais gente a diminuir este tipo de gastos, na ordem dos 67 por cento.

Para 50% dos questionados, no último ano também deixou de ser possível poupar, pôr dinheiro de lado.

Dos hábitos que foram mantidos, foco para a utilização de transportes, que se manteve para 77 por cento dos inquiridos e aumentou para 15%. Contrair dívidas (uso de cartão de crédito, empréstimos, pedir fiado) foi um hábito que se manteve para 72% dos inquiridos (aumentou para 13% e diminuiu para 15% das pessoas).

O uso de automóvel foi um hábito que se manteve para 62% das pessoas, mas 27 por cento admite que diminuiu o uso de carro próprio nos últimos 12 meses. Resultados semelhantes aos da sondagem de há dez anos, quando 63% mantiveram o uso de carro, e 34% diminuíram o seu uso.

A opção dos produtos de marca branca aumentou para 51% dos inquiridos, com 47 por cento das pessoas questionadas a manter o hábito de consumir estas marcas de produtos dos supermercados.

Os consumidores questionados optaram por, na maioria, não diminuir a qualidade dos alimentos consumidos. Só 20% o fizeram. 75% manteve a qualidade dos produtos que coloca na mesa e apenas 5% afirmou que melhorou a qualidade dos produtos. Ainda assim, agora há mais gente a admitir que diminuiu a qualidade da alimentação. Na sondagem realizada pela Católica em 2012, só 12% diminuíram a qualidade dos alimentos. Agora, isso foi feito por 20% dos inquiridos.

Dificuldades financeiras ao nível dos tempos da troika

Os portugueses inquiridos nesta sondagem admitem ter dificuldades em pagar contas a tempo. Para 25% dos inquiridos, tem sido difícil pagar despesas de saúde ou medicamentos. Idêntica percentagem, 25%, aponta dificuldades em pagar a alimentação. Para 21% dos inquiridos que pagam renda ou prestação da casa, tem sido difícil pagar dentro do prazo pelo menos uma vez nos últimos 12 meses. Também 21% dos inquiridos com contas de eletricidade, água, gás a seu cargo, admitiram ter tido dificuldade em pagar no prazo estabelecido no último ano. Para 17%, tem havido dificuldade em pagar despesas com educação ou lares de idosos.

Em dezembro de 2020, em plena pandemia, apenas 8% confessavam ter problemas a pagar a alimentação, 9% a renda ou prestação da casa. 10% apontavam a dificuldade de pagar água ou luz e 6% dificuldades em pagar despesas de educação.

Mas os valores obtidos nesta sondagem são mais próximos com os constatados em fevereiro de 2012, durante o período de intervenção da troika em Portugal. As dificuldades em pagar contas de eletricidade, água ou gás eram assumidas por 26% dos inquiridos com estes encargos. 23% confessava dificuldades em pagar a tempo a renda ou prestação da habitação. 22% tinham dificuldades com as contas de alimentação e 14% expressavam dificuldades em pagar despesas de educação e lares de idosos, entre outros.

Ficha Técnica

Este inquérito foi realizado pelo CESOP - Universidade Católica Portuguesa para a RTP, Antena1 e Público entre os dias 9 e 17 de fevereiro de 2023. O universo alvo é composto pelos eleitores residentes em Portugal. Os inquiridos foram selecionados aleatoriamente a partir duma lista de números de telemóvel, também ela gerada de forma aleatória. Todas as entrevistas foram efetuadas por telefone (CATI). Os inquiridos foram informados do objetivo do estudo e demonstraram vontade de participar. Foram obtidos 1002 inquéritos válidos, sendo 46% dos inquiridos mulheres. Distribuição geográfica: 29% da região Norte, 20% do Centro, 37% da A.M. de Lisboa, 7% do Alentejo, 4% do Algarve, 2% da Madeira e 2% dos Açores. Todos os resultados obtidos foram depois ponderados de acordo com a distribuição da população por sexo, escalões etários e região com base no recenseamento eleitoral e nas estimativas do INE. A taxa de resposta foi de 26%. A margem de erro máximo associado a uma amostra aleatória de 1002 inquiridos é de 3,1%, com um nível de confiança de 95% (RTP)

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