sexta-feira, junho 03, 2022

Nota: e agora Montenegro?

Como nota prévia, duas considerações importantes em termos pessoais e para aqueles que me possam ler: era um eleitor votante com quotas pagas mas como sempre escrevi, desde o primeiro momento, e ressalvando reconhecer que o PSD precisa encontrar urgentemente uma nova liderança que despache o mais célere possível um falhado e derrotado Rui Rio - que cada vez mais parece estar a agarrado ao poder como uma lapa talvez por que não tem rigorosamente mais nada que fazer a não ser manter-se como deputado - não votei nas directas, porque não tenho memória curta. E não faço o papel ridículo, quase patético, que alguns fazem. Aliás, recomendaria uma leitura ao que foi pulicado e dito na comunicação nesses momentos de maior conflitualidade envolvendo Montenegro e o PSD-Madeira por causas de posições e votações assumidas no parlamento nacional, sobretudo no processo orçamental. O problema é que ninguém faz esse recuo no tempo e desenterra factos importantes que mostram como a política e o ballet, por vezes, são a mesma coisa. Por isso as manipulações de discurso e as "verdades" que hoje tentam vender, são no fundo apenas e só um apagar de tudo o que se passou. E que foi grave. Mas falaremos disso adiante.

Lembro as queixas contra os deputados, alguns deles figuras prestigiadas no PSD, as pressões vergonhosas para que Guilherme Silva se afastasse ou fosse afastado da vice-presidência da Assembleia da República, os condicionalismos aos depurados do PSD-M para que não usassem da palavra com frequência, a tentativa de remetê-los para uma das últimas filas do hemiciclo (na bancada social-democrata), etc. Estávamos no tempo do

"passismo" - que enterrou po PSD para este tempo de desgraça eleitoral, política e social em que se encontra desde 2012 - e do "portismo" cúmplice, que acabou por acelerar o que agira aconteceu ao CDS afastado de São Bento, das guerras surdas movidas de Lisboa (São Caetano à Lapa) contra o PSD-M de João Jardim que na altura percebeu que havia situações que estavam fora do seu controlo. Falo dos boicotes até na campanha e das "pontes" feitas então entre a sede nacional e os asquerosos que lá estavam com Relvas à cabeça e as cumplicidades no Funchal, etc. A campanha das regionais de 2011 foi a expressão máxima desse boicote feito deliberadamente a todos os níveis por parte de quem, depois, tomou de assalto o poder como se nada se tivesse passado. Lembro-me das redes organizadas - porque me foi mostrado - apelando à ausência dos comícios do PSD-M e a recusa em participarem nas esquipas de comícios aos fins-de-semana. Tudo isso factual e consta das minhas notas. Felizmente que não sou dado a escrever memórias se bem que ainda tivesse pensado nisso com o meu amigo e companheiro de muitas jornadas políticas, Candelária, memórias fora da pasmaceira habitual em que se nega tudo o que, sendo verdade, incomoda e podia gerar atritos. A pachorra faltou e por isso resta.me, de quando em vez, ir lendo as notas que ia tomando quando entendia fazê-lo. A ideia era derrotar o PSD-M em 2011 na Madeira para obrigar AJJ a desaparecer de circulação. Isso era claramente assumido em muitas mesas de cafés no Funchal e numa ocasião, junto às antigas floristas e com bênção da Sé, foi-me até exibido um calendário. Recordo que 2011 foi o ano do buraco, do PAEF, do aumento da contundência entre Lisboa e Funchal por causa disso. Foi o tempo do PAEF e do castigo imposto à Madeira na expectativa de que, com isso, AJJ resolvesse fazer as malas. Mas o "omo que lava mais branco" já não fala disso. Na altura sim, todos os dias era comentado. Hoje as vaidades e preservação de alegadas influências que pouco ou nada valem, a apologia de estatutos que nada dizem a ninguém, tudo isso ajuda a limpar a "trampa" mais incómoda.

E a maçonaria, minha Nossa Senhora! Era maçonaria ao pequeno-almoço, ao almoço e ao jantar. Já ninguém podia ouvir falar de maçonaria e até nos esquecíamos que existia a concorrência, a "Opus Dei", com muita gente sua colocada em postos de alta responsabilidade, na política, na banca, na finança e nas empresas. Ainda hoje lá estão muitos...

Comigo isso do "omo que lava mais branco" não funciona na minha memória e como sei o que se passou nesse tempo, que foi um dos mais stressantes que passei enquanto exerci funções partidárias, não atiro para o lixo o "passismo" de tão má memória - sabendo, e separando o trigo do joio, que uma coisa foi o legado de um pais falido deixado por um bandalho como o Sócrates obrigado a chamar a troika para Portugal e a importar a austeridade, outra coisa foi o liberalismo esfomeado que às costas do PSD tomou o poder de assalto e foi mais troikista que a troika para mais rápida e facilmente retomar e dinamizar as negociatas e aproveitar os milhões vindos que fora, muitos deles, milhares de milhões, que andaram a ser enterrados na banca, e pagos por todos nós, que serviram para disfarçar muita podridão que por lá se passou.

Montenegro versus Moreira

Independentemente de tudo isto, mas que explica a minha recusa em votar em dois protagonistas do "passismo", parecia-me mais do que evidente que no desespero da derrota e da penosa travessia do deserto em que se encontra o PSD, era preciso tomar decisões e fazer escolhas perante as duas hipóteses existentes e que foram paulatinamente impostas a um partido derrotado, desanimado e desmobilizado. Prevejo que o PSD vá continuar nesse caminho penoso, se  muita coisa não mudar, a começar pelos protagonistas da nova vaga (muitos desconhecidos e sem peso social), se não encontrar o seu espaço político em tempos difíceis de maioria absoluta socialista e de controlo quase total de tudo o que há para controlar no pais, e se não for capaz de elaborar um programa claro com as reformas que pretende promover, especificado os motivos para as defender e identificando os impactos delas decorrentes para todos os portugueses e não apenas para as elites mais oportunistas, caso sejam aprovadas.

Portanto o PSD precisava de uma nova liderança e se o cardápio era aquele, restava aos militantes terem a palavra e fazerem escolhas. Tiveram e fizeram.

Vou recordar algumas curiosidades dos números, aceitando que Montenegro tinha uma substancial vantagem, não só porque já tinha sido candidato, contra Rui Rio, mas porque estava a preparar esta candidatura há muitos anos. A experiência parlamentar propicia a Montenegro um discurso político mais fluído e fácil, e agressivo politicamente falando, que nada tem a ver com o discurso fofinho de Moreira, que pode dizer muito às elites, mas não ao chamado PSD profundo, um discurso que chega a dar sono mas que espremido não trás nada de novo ao país e aos portugueses. Acresce que Moreira não pode negar o seu passado no "passismo" onde foi secretário de estado e ministro, nem as habilidades - e sei do que falo - como sempre jogou a sua imagem no marketing, na comunicação social e junto de alguns comentadores. De inocente o rapazola nada tem. Um PSD fofinho e domado com Moreira não é claramente o que os militantes e eleitores do PSD desiludidos precisam neste momento.

O caso da Madeira e o apelo a uma mudança de procedimentos

Estas directas do PSD vieram a colocar a Madeira no centro de alguns comentários pouco abonatórios, com insinuações de pressão dos órgãos dirigentes regionais sobre as bases, quando supostamente não seja esse o caminho recomendado. Uma coisa é trabalhar nos bastidores e depois logo se vias o que sucedia, outra coisa é tomarem posições quase institucionais quando se recomendava recato, distanciamento e cautela, sem nunca colocar em causa a liberdade de escolha dos militantes. A acusação de "maiorias absolutas quase norte-coreanos" imputadas num jornal nacional aos resultados na RAM não abona a nosso favor e deixa no ar muita dúvida e suspeição sobre se não é chegado o momento, acho eu. para se ter uma outra atitude e uma formas de gerir estas directas nacionais. Todos os líderes nacionais são os "melhores" até depois de terem sido eleitos e de nada fazerem pela Madeira, ou porque não tiveram possibilidades, ou porque mudaram de opinião.

Lembro-me que há poucos anos um desconhecido Pinto Luz lá das bandas de Cascais só porque conseguiu no envolvimento de uma parte significativa da máquina regionais do PSD-M obteve uma votação nas directas que foi uma vergonha, dado que era um personagem que ninguém conhecia e que pela Madeira nada tinha feito. Mesmo assim…

 

O bandalho do Passos em 2011

 

Lembram-se do que aconteceu no dia das eleições regionais de 2011 ganhas pelo PSD-M com maioria absoluta embora com uma margem muito escassa de mandatos? O PSD nacional comentou os resultados através de um secretário-geral que por lá andava porque Passos recusou e proibiu qualquer dos seus Vice-Presidentes de darem a cara. No ano seguinte, quando o PSD-Açores sofreu uma banhada, foi o próprio Passos quem na sua bandalhice hipócrita do costume, veio comentar e manifestar solidariedade de Lisboa aos derrotados e comentar uma banhada. Um hipócrita sem vergonha nos queixos, mas com cúmplices no Funchal.

Falo também das directas de Janeiro de 2020 onde um tal Pinto Luz, que, repito, não diz nem nunca disse nada à Madeira, apenas aproveitou-se da manipulação que foi organizada, ganhou as directas no universo do PSD/Madeira, onde dos 2.242 militantes inscritos, 1.712 exerceram o seu direito de voto, tendo Miguel Pinto Luz obtido 863 votos, enquanto Rui Rio reuniu 544 e Luis Montenegro 275. Houve ainda nove votos brancos e 21 nulos. Foram eleições envoltas em polémica e suspeição resultantes de uma divergência em matéria de contabilização do número de militantes na Madeira devido ao modo de pagamento das quotas.

O regulamento de quotizações aprovado pelo Conselho Nacional do partido em novembro de 2019, dizia que as quotas só podiam ser pagas por multibanco (através de referência aleatória), cheque, vale postal (apenas autorizado para militantes com 60 anos ou mais), débito direto, cartão de crédito ou MB Way. O problema é que, conforme foi referido na altura, a maioria dos militantes na Madeira paga as quotas diretamente na sede, pelo que apenas 104 militantes cumpriam os requisitos impostos pelo novo regulamento. A polémica terminou rapidamente, mas a suspeição ficou, e perdura. Apesar de terem sido alterados os procedimentos e as quotas serem pagas através de multibanco e no valor estabelecido.

Recordo que em Novembro de 2021, Rui Rio, venceu as directas na Madeira, com 1.183 votos, contra 892 votos de Paulo Rangel. O universo eleitoral na Madeira era constituído por 2.767 eleitores, tendo votado 2.089 filiados (houve 4 votos brancos e 10 nulos). Em Janeiro de 2018 Rio também venceu as directas na Madeira contra Santana Lopes, alcançando perto de 54% dos votos, mas com uma vantagem muito curta, 1141 votos contra 979 de Santana.

Vamos aos resultados nalguns locais.

Na Madeira, Montenegro ganhou com 1.156 votos (87,7%) contra 162, 12,3% de Moreira da Silva. Estavam inscritos 2.262 militantes, votaram 1.332 tendo a abstenção atingido os 930 militantes, 41,1%. Houve ainda 4 brancos e 10 nulos.

No Porto, Montenegro teve 3.134 votos, 72,8% contra 1.169 votos, 27,2% de Moreira. A abstenção ascendeu a 3.293 militantes (42,9%). registando-se ainda 59 brancos e 16 nulos.

Recordo com o Congresso do PSD, após o qual finalmente o agora eleito Presidente iniciará o seu mandato, está agendado para 1 a 3 de Julho exactamente no Porto.

Nos Açores, e os números dispensam mais comentários sobre o estado em que se encontra o PSD naquela região, que apesar de ser poder graças a uma polémica geringonça de direita, não ganha qualquer eleição. Montenegro totalizou 353 votos, 75,4% contra 115 votos, 24,6% de Moreira das Silva. Registados anda 2 brancos. A abstenção totalizou 221 militantes, 31,98% o que mostra a escassez de militantes que estavam em condições de votar nos Açores. Inscritos apenas 691 eleitores, dos quais votaram 470.

Em Lisboa (AO), Montenegro teve 173 votos, 71,2% contra 70 votos, 28,8% de Moreira da Silva. Abstenção de 151 filiados, 37,8%. Já em Lisboa (área metropolitana) Montenegro ganhou com  2.069 votos, 69,6% contra 905 votos, 30,4% de Moreira das Silva. Dos 5.668 inscritos, votaram 3.018 pelo que a abstenção totalizou 2.650 filiados, 46,8%.

Em Coimbra, dos 1.743 inscritos, votaram 1.061 filiados, abstenção de 682 pessoas, 39,2% tendo Montenegro obtido 780 votos, 75,4% contra 255, 24,6% de Moreira da Silva, Registados 19 brancos e 7 nulos.

Em Braga, Montenegro somou 2.533 votos, 66,6% contra 1.270 votos, 33,4% de Moreira da Silva. Votaram 3.871 votos 6.533 filiados inscritos, abstenção de 2.662 eleitores, 50,8%. Registados ainda 40 brancos e 28 nulos.

Em Aveiro votaram 2.735 dos 4.581 eleitores inscritos, abstenção de 1.846 militantes, 40,3%. Montenegro totalizou 1.734 votos, 64,7% contra 945, 35,3% de Moreira da Silva. Registados 44 brancos e 12 nulos.

Em Faro só votaram 866 dos 1.314 inscritos, abstenção de 448 filiados, 34,1% tendo Montenegro somado 501 votos, 58,5% contra 355, 41,5% de Moreira da Silva. Apurados 10 brancos.

Em Setúbal votaram 1.221 dos 1.947 eleitores inscritos, abstenção de 726 militantes, 37,3%, com Montenegro a totalizar 837 votos, 69,8% contra 363 votos, 30,3% de Moreira da Silva. Apurados 16 brancos e 5 nulos.

Em termos nacionais, tivemos o seguinte quadro eleitoral nas 317 secções apuradas:

Inscritos - 44.629

Votantes - 26.984

Abstenção - 17.645, 39,5%

Montenegro - 19.241, 72,5%

Moreira da Silva - 7.306, 27,5%

Brancos - 308, 1,1%

Nulos - 129, 0,5%

Escreve o semanário Expresso, com o título "O fim do rioismo", que "Luís Montenegro só precisou de convencer mais 4 mil eleitores do que tinha convencido há dois anos, quando disputou a eleição frente a Rio (na altura, teve 15.087 votos, contra os mais de 17 mil de Rui Rio).

“Moreira da Silva tinha Carlos Eduardo Reis (apoiante de Rio) como seu diretor de campanha, e outros dos homens da máquina de Rio: João Montenegro, secretário-geral-adjunto de Rio que tratava da preparação das voltas da campanha, Salvador Malheiro, amigo próximo de Moreira da Silva desde que este o levou para o gabinete de estudos do PSD em 2005 e Isaura Morais, vice de Rio que se revelou influente nas últimas campanhas internas.

O novo líder social-democrata venceu em todos os distritos maiores (Porto, Aveiro, Lisboa, Braga e região da Madeira) aos mais pequenos, passando pela única distrital que se tinha declarado neutral (Algarve).

No distrito de Aveiro, Moreira da Silva venceu na concelhia de Salvador Malheiro (Ovar). Espinho, terra de Montenegro, foi direitinho para o homem da casa.

No distrito de Braga, só Barcelos (terra de Carlos Eduardo Reis) salvou a face: 54% para Moreira da Silva, 46% para Montenegro. Nem em Vila Nova de Famalicão, terra de Moreira da Silva, a vida lhe ficou facilitada: quase 700 votos para Montenegro, apenas 200 para Moreira da Silva. No Porto, onde Rio sempre conseguiu vingar, Moreira da Silva sucumbiu. Em Lisboa, nem Sintra se salvou: foi tudo em cheio para Luís Montenegro"

Quando às chamadas "maiorias expressivas" o Expresso refere que "é o caso da região da Madeira, onde, de forma inédita e de certa forma ainda por explicar, Montenegro conseguiu juntar todos os apoios incluindo o de Alberto João Jardim e de Miguel Albuquerque (tradicionalmente em lados opostos da barricada) e não deixou Jorge Moreira da Silva entrar. Em pouco mais de 1300 votos (nas últimas foram às urnas mais de 2 mil), Moreira da Silva conseguiu apenas 162 votos na Madeira. Com Miguel Albuquerque a mandatário nacional de Montenegro, Moreira da Silva encontrou até dificuldades para encontrar um mandatário regional - que acabou por ser a ex-deputada Rubina Berardo. Também o atual deputado Sérgio Marques se juntou à causa, mas não chegou para minimizar os estragos. A votação foi de quase 90% para o vencedor, e pouco mais de 10% para o derrotado". (LFM)

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