sábado, junho 18, 2022

Estudo mostra divisões na Europa: Portugal integra grupo de países que prefere a paz à justiça na Ucrânia


Desejo de ver a Rússia punida pela invasão do país vizinho é ofuscado por preocupações económicas. Um estudo realizado em dez países europeus mostra que os inquiridos preferem o fim do conflito. Em território nacional, a preocupação com o custo de vida começa a aumentar e Portugal é o segundo país que mais receia a perda de emprego. A Europa está agora mais dividida em relação à guerra na Ucrânia, com a preocupação das populações a direcionar-se para fora do campo de batalha e cada vez mais para o custo de vida, de acordo com um estudo realizado pelo European Council on Foreign Relations. A investigação apurou, em dez países europeus (nove pertencentes à UE), que as divisões entre os que querem o fim imediato do conflito e os que querem ver a Rússia ser punida estão a aprofundar-se. O apoio à Ucrânia permanece elevado na Finlândia, França, Alemanha, Itália, Polónia, Portugal, Roménia, Espanha, Suécia e Reino Unido, mas as preocupações com os impactos da guerra começam a ofuscar o sentido de justiça. É o que revela à partida o título do estudo: "Paz vs. justiça: a rutura europeia por vir por causa da guerra na Ucrânia." As grandes tensões começam, então, a emergir.

Em Portugal, Itália e França as pessoas estão mais preocupadas com o impacto da guerra no custo de vida e nos preços da energia. Em território nacional, 38% das pessoas dizem que a maior preocupação que têm é com a perda de emprego. Já na Suécia, na Polónia e Roménia, os cidadãos são os menos preocupados com essa questão. E os países geograficamente mais próximos da Rússia – Finlândia, Polónia, Roménia e Suécia – receiam, em particular, a ameaça da ação militar russa nos seus territórios. Os entrevistados na Suécia, Reino Unido e Polónia estavam mais preocupados com a ameaça de guerra nuclear.

A investigação revela que, apesar do forte apoio em toda a Europa à tentativa da Ucrânia de aderir à União Europeia e à política ocidental de romper os laços com a Rússia, muitas pessoas na Europa querem que a guerra termine o mais rapidamente possível, mesmo que isso implique a perda de território da Ucrânia. É uma posição que não reflete a visão dos governos, pelo menos até ao momento.

Os autores do estudo concluem, no entanto, que isso pode vir a mudar, e que países como a Polónia podem ficar isolados se o apelo pela "paz" se estender das populações para os executivos dos Estados-membros da UE. A sondagem foi realizada entre 28 de abril e 11 de maio, e mostra um apoio quase universal à Ucrânia: 73% dos entrevistados nos dez países incluídos culpam a Rússia pela guerra. Mais de 80% dos testemunhos em Portugal e na Polónia, 83% na Suécia, a mesma proporção no Reino Unido, e 90% dos inquiridos na Finlândia responsabilizaram a Rússia. Em Itália (56%), França (62%) e Alemanha (66%), esses valores são mais baixos.

O corte de ligações com a Rússia continua a ser uma medida popular. A maioria das pessoas nos dez países concordou que os governos rompessem as relações económicas e culturais com Moscovo, e a maioria – com a percentagem máxima de 71% na Polónia – também é favorável à fim dos laços diplomáticos. Da mesma forma, 58% dos inquiridos nos dez países – subindo para 77% na Finlândia – querem a redução da dependência da UE em relação à energia russa, mesmo que às custas das metas climáticas do bloco europeu.

A DIVISÃO ENTRE A "PAZ" E A "JUSTIÇA"

Foi registada, no entanto, uma clara divisão entre os europeus que querem a paz o mais rapidamente possível (35%, na média dos dez países) e os que querem justiça, definindo-a como restaurar a integridade territorial da Ucrânia e responsabilizar a Rússia (22%). Um terceiro grupo (um quinto das pessoas) partilha os sentimentos antirrussos dos defensores da justiça, mas também teme a escalada da guerra. Em Portugal, 31% das pessoas ouvidas advogam pela paz o mais brevemente possível e 21% dos inquiridos posicionam-se do lado de procurar justiça. A causa da paz imediata tem mais apoiantes em Itália (52%). Na Polónia, o país que mais defende a "justiça", 41% dos votantes quer a responsabilização da Rússia, sem cedências. Sobre a resposta política da UE à invasão, os defensores da "justiça" apoiam o rompimento dos laços económicos, diplomáticos e culturais e os eleitores da "paz" apoiam apenas os cortes com a economia russa.

A ATENÇÃO QUE OS GOVERNOS DÃO À GUERRA

A atenção dada pelos governos à guerra na Ucrânia também foi avaliada. A perceção de 38% dos inquiridos em Portugal é de que está a ser dada excessiva importância ao assunto, enquanto 41% acham que o nível é adequado. É na Roménia (58%) e na Polónia (52%), países mais próximos da Rússia, que se reúnem mais críticas à muita atenção dada ao conflito. Suécia (25%) e Finlândia (25%) são os países que menos criticam a dedicação dos governos a esta matéria.

Em todos os países, a esmagadora maioria dos cidadãos apoia o acolhimento de refugiados ucranianos, sendo esse apoio mais elevado na Finlândia (91%), na Suécia (90%), e em Portugal (83%). Os autores do estudo concluem que a opinião pública europeia fortaleceu a unidade da UE face à invasão da Ucrânia, mas que agora cabe agora aos líderes europeus sustentar esta unidade, sobretudo num momento em que a clivagem começa a ser sentida (Expresso, texto da jornalista Catarina Maldonado Vasconcelos)

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