O mundo enfrentou (ou ainda enfrenta) duas crises globais consecutivas: a pandemia e a guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Tendo em conta a atual conjuntura, há especialistas a alertar para problemas e mudanças duradouras nas cadeias de abastecimento e no comércio global. “Se a pandemia da Covid-19 destacou a necessidade de encurtar as cadeias de abastecimentos, a guerra na Ucrânia ressalta a importância de ter parceiros comerciais confiáveis”, disse Peter Martin, diretor de investigação da empresa Wood Mackenzie, em declarações à ‘CNBC’. Os mercados energéticos foram dos mais prejudicados, tendo disparado assim que a Rússia decidiu invadir a Ucrânia, o que levou os países ocidentais a aplicar várias a sanções a Moscovo. Neste momento, a União Europeia já se encontra a aplicar o sexto pacote de sanções ao país liderado por Vladimir Putin, onde acordou proibir 90% das importações de petróleo russo até ao final deste ano. A Rússia já reagiu, dizendo que vai encontrar outros importadores, e há dados que mostram que as compras de petróleo tanto da China como da Índia já subiram acentuadamente este ano.
O gás natural também ficou em risco no bloco, sendo que a UE recebe cerca de 40% deste recurso através da Ucrânia. Por fim, sendo considerado o “celeiro” do mundo, as exportações de recursos como o trigo e a cevada também foram afetadas. “Estas forças podem levar a um realinhamento duradouro do comércio global. A economia global torna-se mais regionalizada – cadeias de abastecimento mais curtas com parceiros ‘confiáveis’”, acrescenta Martin.
O que acontecerá aos blocos comerciais?
Apesar de o especialista ter dito à publicação que não haverá um fim da globalização, explicou que pode haver uma reorganização do comércio global em dois ou mais “blocos distintos”. Num primeiro bloco, Martin colocou a União Europeia, os Estados Unidos e aliados, como o Reino Unido e o Japão, e outro bloco onde estarão países que tentam não tomar partidos.
“Haverá um bloco de nações como a China e a Índia que mantêm o comércio tanto com os aliados sancionadores quanto com a Rússia – assim poderiam tirar mais energia e recursos da Rússia, mas precisam de manter boas relações com as grandes economias do primeiro bloco, que respondem a uma proporção significativa da sua procura de exportação”, disse Martin.
O que acontecerá às rotas comerciais?
“As rotas comerciais por terra e mar e os volumes que passam por elas serão impactados”, disse Martin, pois desde o início da guerra que há muitos transportadores a evitar o Mar Negro, onde a atividade militar da Rússia bloqueou o transporte comercial, o que também causou congestionamentos noutros portos europeus, que se viram obrigados a mudar as rotas.
Quem são os vencedores e os vencidos?
Para o especialista, estas alterações nas rotas e blocos comerciais seriam benéficas para o Sudeste Asiático, América Latina e África. “As exportações serão desviadas, exigindo que novos mercados sejam encontrados para bens e serviços, assim como uma logística posta em prática para acomodar os novos fluxos comerciais”, disse. Sobre o maior perdedor, Martin refere a Rússia, “pois, embora possa girar alguns vínculos comerciais, será excluído de uma grande proporção da economia global” (Executive Digest, texto da jornalista Mariana da Silva Godinho)
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