sábado, fevereiro 05, 2022

Nota: porque motivo acho que Costa não vai querer "guerras"

Eu julgo que António Costa não vai meter água na gestão do seu espaço político e governativo, por que depois de 30 de Janeiro ele começa a pensar agora em objectivos políticos pessoais que passam por uma imagem de diálogo, já que qualquer atitude mais radical aos olhos de Bruxelas dificilmente seria subscrita pelos europeus. Costa vai começar a construir uma imagem de maior tolerância. Concretamente, acho que António Costa nunca se afastará de um qualquer cargo europeu de relevo, embora tudo dependa da configuração europeia a sair das próximas eleições para o PE. Mas o primeiro-ministro, consciente de que se esgotou a sua liderança no PS e a sua função de chefe do governo nunca vai dizer que coloca uma eventual candidatura presidencial fora dos cenários hipotéticos. Por isso não me parece que Costa opte por radicalismos ou por penalizar instituições ou regiões, mas a verdade é que, sem submissões, o diálogo tem que existir de forma construtiva e séria, sem pressões, gritarias ou manipulações. 

A Madeira precisa urgentemente de (re) construir pontes de diálogo eficazes, sérias e discretas com Lisboa, que cumpram os seus propósitos longe do mediatismo na comunicação social que alimenta tantos egos na actual política regional. Se isso não for feito a Madeira será fortemente penalizada e desconfio que o eleitorado madeirense seja mais tolerante para com repetitivos fracassos do poder regional, dada  a importância dos processos pendentes, CINM, Lei Finanças, Mobilidade, financiamento do Hospital da Madeira, futuro dos fundos europeus, etc. A ideia de que a teoria de que culpando Lisboa pelo impasse se ganha votos, está à vista de todos. É exatamente o contrário e a perda de votos é a demonstração disso mesmo, que há que mudar discurso, procedimentos e atitudes, sem que isso signifique menorização ou submissão. Não há mais espaço para um "diálogo" que apenas alimenta uma dialética que na realidade vale zero.

Mas há mais.

Eu estou convencido que Costa vai querer, antes do final do mandato, ganhar as eleições regionais na Madeira em 2023 e que dificilmente deixará de fazer tudo para recuperar o poder nos Açores, ainda por cina quando é sabido que o PS local foi afastado do poder - apesar de ter vencido das regionais de 2021 naquela região - por uma geringonça de direita apoiada pela extrema-direita, sem dúvida uma das explicações para a copiosa derrota do PSD de Rio e a causa de muitos receios no chamado eleitorado flutuante que ora vota PS, ora vota PSD.

Julgo, neste contexto, que há fortes condições para que a Madeira volte a ter um secretário de estado no governo - aliás posso "especular" que o assunto até foi abordado de forma inteligente e politicamente sustentada num encontro restrito entre amigos... - e que se se confirmar essa possibilidade, a personalidade que for convidada para essa função em Lisboa poderá ser uma peça importante no futuro do PS-Madeira, antes das regionais de 2023, independentemente das candidaturas que se apresentem agora ao Congresso dos socialistas madeirenses. Esperemos para ver o que acontece na certeza de que os dois partidos da coligação, que devem ser inteligentes na decisão sobre a forma como concorrem às regionais de 2023, precisam de antes de tudo de reconquistar a confiança e a proximidade com a opinião pública e estarem mais presentes no terreno do que têm estado. Há um caderno de encargos políticos a ser elaborado já porque as regionais de 2023 são daqui a pouco tempo.

Uma coisa é certa, estas eleições legislativas deixaram avisos muito claros ao PSD e ao CDS. Dúvidas? Em 2022 votaram mais 12 mil eleitores que em 2019, PSD e CDS perderam quase 6 mil votos entre 2019 e 2022 que passam a uma perda de 14 mil votos se a comparação for feita com as autárquicas de 2021! Nos Açores o desastre ainda foi maior, a coligação perdeu as eleições e em ano e meio, comparando com as regionais, perdeu quase 15 mil votos! Não acham estes dados um aviso?  (LFM)             


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