quarta-feira, fevereiro 02, 2022

Nota: acho errado promoverem o funeral do CDS



Eu não sei o que vai acontecer ao CDS, se vai escolher Nuno Melo e virar à direita ou se aparecerá uma alternativa para o derrotar e manter o novo CDS numa linha menos radical capaz de mostrar alguma utilidade ideológica de um partido que com os anos perdeu razão de ser numa lógica de direita versus esquerda.

Uma coisa é certa: parece-me arriscado prever o fim do CDS. O partido, devido a divergências internas graves, quase todas da responsabilidade de Chicão e da sua ambição pessoal (aquela idiotice do ministro da Defesa, absolutamente hilariante e demonstrativa de que é um rapazola impreparado) pelo tacho, viu os seus nomes mais conhecidos, pelo menos a maioria deles, abandonarem o partido ou recusarem envolver-se na campanha eleitoral. Se uma nova liderança conseguir construir consensos alargados, limpar os estragos gerados pela cegueira da direcção cessante, reunir essas pessoas e recuperar o espaço eleitoral que foi perdendo, provavelmente o CDS ainda terá motivos para sonhar. Mas é preciso trabalhar muito.

Lembrando:

  • Nas legislativas de 1999, o CDS somou 449.310 votos, 8,4% e elegeu 15 deputados. 
  • Em 2002 o CDS obteve 475.515 votos, 8,8% e 14 deputados
  • Em 2005 o CDS teve 415.043 votos, 7,3% e 12 deputados.
  • Em 2009 o CDS teve 592.997 votos, 10,4% e elegeu 21 deputados.
  • Em 2011 o CDS somou 653.987 votos, 11,7% e elegeu 24 deputados.
  • Depois de ter concorrido coligado com o PSD em 2015 o CDS em 2019 totalizou 221.774 votos, 4,2% e 5 apenas deputados. Foi neste ano que começou o desastre do CDS, com Cristas na liderança
  • Agora em 2022 o CDS obteve uns insignificantes 86.578 votos, 1,6% e sem deputados eleitos.

Recordo quem foram os Presidentes do CDS ao longo da sua história:

  • Freitas do Amaral, 1974 a 1983
  • Lucas Pires, de 1983 a 1986
  • Adriano Moreira, de 1986 a 1988
  • Freitas do Amaral, de 1988 a 1992
  • Manuel Monteiro, de 1992 a 1988
  • Paulo Portas, de 1998 a 2005
  • Ribeiro e Castro, de 2005 a 2007
  • Paulo Portas, de 2007 a 2016
  • Assunção Cristas, de 2016 a 2020
  • Rodrigues dos Santos, de 2020 a 2022

Não sei o que vai acontecer ao PSD, melhor, tenho a firme convicção de que Rui Rio se vai demitir, não sei ainda quando, e que o PSD voltará a mais uma disputa interna pela liderança, ficando, agora que foi copiosamente derrotado, à mercê  de estratégias de assalto ao poder, protagonizados pelos viúvos e viúvas do passismo de má memória que precisam de um PSD domado por que já estão a pensar nas presidenciais.

O PSD nacional precisa de uma liderança nova, forte, carismática, o máximo consensual possível, tudo sem pressas e sem stress - tem 4 anos para estar na oposição e convencer o eleitorado - precisa de ideias novas, de uma mudança de pessoas, tem que redefinir o seu programa, ficando menos refém de populistas liberais que por lá andam, tem que ser menos de direita para ser um partido mais social-democrata, mais de centro-esquerda sem o liberalismo de Passos nem a submissão doentia de Rio face ao PS. 

Enquanto isso, acho que Portugal não pode ter dois partidos, PSD e CDS, como membros do PPE no Parlamento Europeu, a chamada direita onde parece que cabe tudo o que não é extremista, socialista e comunista. É impossível aceitar isso, mas tratou-se de uma golpada idiota de alguns iluminados que cederam a pressões e aos tachos. Oficialmente dizem tratar-se (o PPE), de um agrupamento partidário democrata cristão/conservador no Parlamento EuropeuSe o PSD tem dificuldade de encontrar uma família ideológica europeia consentânea com os seus valores e ideologia, então que ande por lá sozinho. Mas não podemos ter dois partidos de direita num pais sem dimensão e sem impacto na Europa, como é Portugal. Isso só ajuda a confundir os eleitores e provavelmente começou a queda eleitoral dos dois partidos pela confusão e pela ideia de que mentem e manipulam as pessoas.

Mas sei também, finalmente, que temos que esperar pelo que vai acontecer nas esquerdas. Dificilmente PCP, Bloco e mesmo PAN vão aguentar muito mais tempo as mesmas lideranças, apesar de estarem todas renitentes a admitir essa saída- Todos foram copiosamente derrotados, perderam votos e deputados e deixaram de ser importantes num contexto da governação agora confortavelmente liderada pelo PS que prescindirá a seu tempo dos seus antigos parceiros da geringonça e da bengala PAN (LFM)

Sem comentários: