quinta-feira, janeiro 20, 2022

Notas eleitorais

 


1 - É muito importante que estas eleições possam criar um novo modelo operacional nas relações da RAM com Lisboa e que alguns abandonem de uma vez por todas uma estranha fobia, a de confundirem política séria com intriga organizada nas redes sociais e de dependerem dos fretes que lhes garantam presença mediática.

Precisamos de ser capazes de construir pontes de diálogo com Lisboa, envolvendo segundas ou terceiras linhas, pouco importa, mas que assegurem seriedade nas discussões e a preparação competente e séria dos processos que depois os governantes, as tais primeiras linhas, decidirão, assumindo os méritos ou os ónus das decisões tomadas.

A RAM tem importantes dossiers por resolver com Lisboa e que se arrastam no tempo claramente em nosso prejuízo, o elo mais fraco neste braço-de-ferro. Precisamos de mais seriedade negocial e de esmagar a partidarite rafeira que insiste em marcar presença em tudo, empatando ou adiando “ad-eternum” as decisões. Hospital da Madeira, mobilidade aérea e marítima, estabilidade do CINM e lei de finanças regionais mais justa, são algumas prioridades. Depois disso temos a revisão constitucional e a reforma urgente do sistema politico e da estrutura administrativa institucional vigente, modernizando ambos. Não é facil eu sei, vai mexer com muitos interesses, eu sei, mas tem que ser feito.



Finalmente, não podemos continuar a ouvir partidos políticos prometer a redução de impostos quando, para além do financiamento público, contra o qual nada tenho - até porque entendo que os partidos são instituições de utilidade pública -  continuam a usufruir de algumas regalias fiscais, nomeadamente o IMI que todos os cidadãos pagam obrigatoriamente. Isso não pode acontecer.

Se 2022 tiver que ser o início de uma mudança normalizadora, que assim seja. Pouco me importam os protagonistas. Mais importante é haver, das duas parte em diálogo, uma lógica construtiva e de seriedade. Sem isso nada feito, tudo vai continuar na mesma penalizando a RAM e os Madeirenses, repito, o elo mais fraco no braço-de-ferro com Lisboa.

2 – A coligação PSD-CDS na RAM, insisto e não desisto, poderia e deveria ter sido feita de outra forma. Cheira a negócio forçado, a um receio - porque são partidos no poder - de enfrentarem sozinhos as urnas, de acordos forçados assentes no custe o que custar, e admito que alguns eleitores do CDS que nunca votaram no PSD e outros eleitores do PSD, que nunca votaram no CDS em legislativas nacionais, tenham dificuldade em fazê-lo numa coligação que vai contra a sua forma de pensar. Mesmo que a regra de Álvaro Cunhal - neste caso tapar os símbolos dos partidos em vez da fotografia de Mário Soares nas presidenciais - pudesse ser uma solução que hoje deixou de fazer sentido.

3 - PSD e PS regionais precisam de mostrar aos eleitores madeirenses o que esta em cima da mesa, o que pensam sobre as nossas prioridades, e o que pensam fazer para iniciarem um diálogo diferente e sério. Acho que nada disso tem acontecido. Um lado passa o dia a queixar-se ou a exigir, outro passa o tempo a endeusar as benesses e favores do socialismo lisboeta para com a Madeira como se fôssemos uma qualquer colonia estrangeira e não parcela de um mesmo país.

4 - A realidade é que PSD e PS na Assembleia da República estiveram muitas mais vezes de lados diferentes da barricada do que unidos por causas comuns. E mesmo quando reconheciam que eram causas comuns, lá surgia o "nariz de cera" da partidarite a estragar tudo. Não acredito que isso mude. Nem com promessas de casamentos forçados à mistura, nem com nada. Tem tudo a ver com  a bipolarização regional e com o perfil de alguns protagonistas. Perfil viciado e tendenciosamente doentio

5 - Falta uma certa renovação nas listas, com pessoas sérias e que transmitam confiança aos eleitores – sem com isto colocar em causa a malta nova que integra a candidatura da coligação mas que não dão votos, ainda - mesmo sabendo-se que estes resultados podem apenas adiar uma nova crise política que alguns estimam que possa despoletar em Outubro deste ano um novo processo eleitoral. Isto num cenário parlamentar de fragmentação excessiva e sem maiorias absolutas, em que as votações viram, negócios na hora, garantidos ou não em função de promessas. Uma espécie de reedição do caso do "queijo Limiano" que abriu essa lógica com Guterres e com ganhos claros para Ponte de Lima e para aquela região minhota que eu tanto gosto.

6 - Um dado novo surgiu entretanto, a presença dos confinados nas urnas e o risco - devido ao facto de nunca terem resolvido esse problema, apesar de já termos tido 3 eleições em pandemia - das decisões tomadas poderem afastar das urnas eleitores não apanhados pela Covid receosos de qualquer potencial contaminação. Há um discurso de convencimento que tarda a ser feito e deve ser feito para que os eleitores se convençam, se é que se convencem, de que votar é seguro mesmo que entre as 18 e as 19 horas possamos ter nas urnas cidadãos com covid19 que estavam confinados e que foram autorizados a furar esse confinamento para votarem (LFM)

Sem comentários: