quinta-feira, fevereiro 21, 2019

Nota: desculpem mas ainda não entenderam que a Saúde na RAM não pode sair da agenda mediática e política?

Desculpem mas há uma coisa que me faz uma confusão enorme. Confesso que já me interrogo se o problema não é meu...
Vamos a factos, e entendam o que vou escrever não como recados direccionados a A ou B, mas como um desabafo perante evidências. 
A reportagem da TVI24 sobre a relação serviço regional de saúde "versus" Quadrantes (e nem quero saber porque razão a TVI24 resolveu "pegar" com o assunto quando há no sector, em termos nacionais, tanta podridão para denunciar, tal como recuso discutir critérios editoriais e jornalísticos porque acho que isso não é para andar na praça pública) não foi feita hoje. Salvo se o Natal para alguns acaba em Fevereiro o que eu vi nalgumas imagens - e fui revê-las para confirmar - foram enfeites natalícios, o que significa que este trabalho televisivo estava a ser realizado há algum tempo. A SRAS não foi avisada nem pelo Hospital (no interior do qual parece que foram feitas imagens, presumo que autorizadas) nem pela Quadrantes - ou lá como se chama - de que estava a ser feito um trabalho jornalístico que obviamente nunca seria elogioso (face ao retrato traçado pela TVI24), não para reagir e censurar os jornalistas (o erro do costume), mas para se preparar com tempo e de forma competente para uma resposta adequada que não deixasse dúvidas, em vez de irem a reboque de acontecimentos e de factos que eu recuso acreditar que não soubesse que vinham aí?
Outro exemplo: julgo que um abaixo assinado, subscrito por quase 100 médicos de centros de saúde (medicina geral e familiar),contestando várias matérias relacionadas com a carreira e com a gestão dos referidos centros de saúde, não acontece por acaso. Não pode, é impossível. Há sinais concretos que indiciam o que se passa ou vai passar. Duvido que GRM ou o SESARAM não tenham percebido nada, antecipadamente, não para perseguir pessoas, mas para intervir e resolver problemas que porventura foram alimentando a insatisfação.
Custa-me a acreditar que o GRM ou o SESARAM não tivesse conhecimento do que se passava, da insatisfação das pessoas agira denunciada no espaço mediático e da iniciativa que estavam a desencadear para dar público testemunho desse protesto. 
Acho que é masoquismo a mais - para não dizer algo bem mais duro e contundente - esperar pelos factos para depois correr atrás do prejuízo, correr atrás da agenda mediática que outros geraram, tentar tapar buracos que poderiam ter ido acautelados. Acho estranho este desconhecimento.

O problema da Saúde - e sou um incompetente na matéria, apenas emito opinião pelo que aprendi há mais de 40 anos e pelo que leio ou oiço - começa nas escolhas que são feitas. Diria que muitos dos problemas na saúde, da insatisfação entre os profissionais, tem uma causa perfeitamente identificada e que tem muito a ver com as estruturas intermédias de liderança que funcionam mal e abusivamente utilizam os cargos que exercem para agravarem ainda mais o clima de frustração e insatisfação profissional existente. O autismo e o autoritarismo nestes escalões intermédios da administração pública, a par de posturas persecutórias, são um veneno que não pode ser desvalorizado, nem haver medo de pôr determinadas pessoas no seu lugar ou de inclusivamente as afastar se daí resultarem ganhos de eficácia funcional e pacificação do que está caótico. As pessoas quando são nomeadas assumem responsabilidades. Ninguém é nomeado para ficar sentado ou deitado no sofá à espera que quem estiver mais acima deles resolva os problemas ou lhes diga o que têm que fazer, como se devem relacionar com as pessoas, os subordinados, e que há objectivos para alcançar. Se for para institucionalizar o acomodamento, e tudo continue na mesma,  então toca a desnomear porque não são necessárias tantas pessoas a destruir e complicar em vez de construir.
Mas há, falando de saúde, outros factos, pelo menos dois, que me custa acreditar que as pessoas não tenham entendido:
- em primeiro lugar há claramente uma "mão" por detrás de tudo isto, há uma estrutura de comunicação que sabe o que faz, que sabe onde faz e como faz. Não critico isso porque se é esse o trabalho deles, não fazem mais do que o dever deles. Foi para isso que foram contratados.
- em segundo lugar, é mais do que evidente que a saúde é uma das áreas mais sensíveis em qualquer sociedade, provavelmente a mais sensível - veja-se o que se passa a nível nacional com toda aquela bagunça caótica - num ambiente eleitoral e de disputa entre partidos e programas.
Se durante anos o serviço regional de saúde foi uma bandeira em relação à qual ninguém apontava nada, mesmo que ela estivesse longe da alegada perfeição que diziam existir, nos últimos anos o novo Hospital da Madeira passou a ser a bandeira desfraldada mais alto que todas as outras. Resolvido (?) o problema do Hospital - embora só acredite depois de ver a obra começar - a saúde nunca podia ser afastada da agenda mediática e do confronto eleitoral, porque os partidos na oposição - incluindo as assessorias de comunicação - sabem que o desgaste vem apenas de áreas sensíveis em termos sociais. A saúde é o mais importante. Por isso, deixar de falar da saúde seria um risco que não podem correr.  Ela tem que ser polemizada e alimentada permanentemente pelo menos até 22 de Setembro, dia das eleições regionais.
Perante esta evidência, das duas uma: ou há capacidade de resposta, antecipação, contundência, factos concretos e não divagações teóricas ou suposições, ou as coisas tendem a complicar-se para quem tem que neutralizar essas campanhas muito concretas.
Acreditem, porque que sei do que falo, que é disto mesmo que se trata.
Por isso estes episódios - e provavelmente outros que se vão seguir - enquadram-se nessa lógica que é preciso dar da saúde a imagem de um sector caótico - e veja-se a coincidência do discurso do PS antecipando estas notícias colocadas entretanto na agenda mediática e política... - porque só assim os partidos terão a tal bandeira que precisam de agitar bem mais alto que todas as outras em períodos eleitorais como aquele em que nos encontramos.
Ao poder há que estabelecer prioridades. Podem andar num rodopio de visitas e declarações, podem andar todas as semanas a falar de economia, de empresas, disto e daquilo, que bastam dois dias de polémica agreste em torno da saúde que tudo acaba por ruir. A saúde vale mais do que tudo o resto. Não querer  ver isto, não aceitar isso, não saber responder a todas as incidências associadas a esta lógica, é demasiado patético e absurdo para ser levado a sério. Quem sabe se afinal eu é estou descarrilado? Seria o primeiro a  lamentar, mas emano triplamente eleitoral a minha tolerância pessoal esgotou-se. Para dar lugar a uma exigência pragmática e politicamente competente que das duas, uma: ou existe e pode ser garantia de sucesso, ou não existe, e nesse caso terá um elevado custo a pagar. Pelo qual, depois, alguém vai ter que responder e responsabilizar-se (LFM)

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