Por ocasião da realização no Funchal, hoje,
da XII Conferência Anual do Turismo - "Rentabilidade", elaborei este
pequeno texto com algumas curiosidades que são apenas uma reflexão pessoal
sobre o sector, tendo por base os indicadores estatísticos turísticos da RAM
reportados a Junho de 2018.
Os indicadores estatísticos mostram, que
precisamos urgentemente na Madeira de repensar o modelo de promoção turística -
acho eu - de reforçar a promoção com base em parâmetros bem definidos, que não
podem ser inflexíveis, antes adaptados às oscilações dos mercados.
Um exemplo: digam o que disserem o Brexit
vai deixar marcas, aliás, já está a deixar marcas nos fluxos turísticos
provenientes do Reino Unido. Não há volta a dar. Negar é ser pouco sério.
Aliás, e no caso da Madeira, esses
primeiros sintomas, se bem que ainda ténues - até porque o acordo final do
Brexit não está assinado pelo que não se sabe quais as novas regras do jogo –
já se começam a sentir nas estatísticas.
Há indicadores concretos, como podemos perceber:
- De Janeiro e Junho de 2018 a Madeira recebeu menos 6,4%
turistas comparativamente a 2017, e menos 30,4% de turistas irlandeses. Reino
Unido e Irlanda registaram naquele período menos 7 a 8% de dormidas.
A minha dúvida, a dúvida de quem não é
especialista neste assunto, apenas um "perguntador", tem a ver com a
necessidade de sabermos se o facto do Reino Unido continuar a ter, apesar de
tudo, 19,1% do mercado turístico regional (20,1% em 2017) e a Irlanda
representar apenas 0,3%, se o modelo de promoção deve continuar o mesmo
indiferente ao impacto que o Brexit começa a ter nestas movimentações. Duvido
que assim deva ser.
Penso que precisamos de manter a todo o custo
alguns mercados tradicionais mas temos também que apostar claramente em
mercados turísticos emergentes que podem vir a ter um peso maior no turismo
regional.
Julgo não estar a ser agreste se sustentar
que os indicadores mostram que temos que abandonar utopias, nomeadamente
aquelas que acham e que há mercados que são importantes quando na realidade serão
sempre residuais, independentemente dos sonhos que alguns empresários do sector
possam ter. Basta ver os números.
Eis alguns dados:
- Irlanda (menos 30,4%, representando 0,3% de quota no mercado
regional), Países Baixos (menos 16,9% e 3,3%), Polónia (menos 8,8% e 2,5%) e
Reino Unido (menos 67,4% e 19,1% do mercado turístico regional) foram os
mercados que registara, até Junho deste
ano, maiores descidas nas entradas na RAM, comparativamente ao ano anterior;
- Estónia (mais 119,6%, mas representando 0,1% de quota no
mercado turístico regional), Roménia (52,9% e 0,3%), Hungria (42,5% e 0,3%),
Suécia (25,9%, 2,3%), Canadá (20,4%, 0,5%), Luxemburgo (16,8% e 0,3%), Brasil
(14,5% e 0,7%), Espanha (12,6% e 1,4%) e Noruega (mais 10,8% de entradas e 1%
de quota no mercado turístico regional).
Promoção
nos aeroportos
Importante,
por exemplo, tentar reforçar uma promoção também em Lisboa e Porto, aeroportos
de chegada de turistas, onde a Madeira pode vir a ficar na retina se conseguir
campanhas visualmente agressivas, sobretudo em termos de imagens fotográficas.
Os aeroportos nacionais e mesmo no estrangeiro, são um potencial que em meu
entender não exploramos devidamente.
Mas há que fazer opções e estar atentos a
mudanças.
Importância
da Escandinávia
Por exemplo, a Escandinávia (Suécia,
Finlândia, Noruega e Dinamarca) continua a demonstrar estabilidade ascendente
nas entradas - 8,5% de quota do mercado regional e subidas em todos entre 2017
e 2018:
- Suécia - 17.807 entradas de Janeiro a Junho de 2018 (14.142 no
mesmo período em 2017), 2,3% do mercado regional
-Finlândia - 15.586 entradas (15.243) e 2%
-Noruega - 7.917 entradas (7.143) e 1%
- Dinamarca - 25.301 entradas (24-375) e 3,2% do mercado
turístico regional.
Ou seja, a Escandinávia é claramente um
mercado multinacional a apostar em qualquer estratégia promocional da RAM. O
mesmo acontece com a Alemanha com 169.959 entradas em 2018 contra 168.812 em
2017.
A Alemanha representa 21,8% de quota no
mercado turístico regional (era 21,7% em 2017) pelo que há que aposta numa promoção
mais intensa, mais direta e com prioridades, de acordo com as preferências dos
turistas germânicos que nos visitam (o que é que elas mais gostam de fazer na
Madeira?).
Outras curiosidades que apurei tendo por
base os resultados estatísticos do turismo madeirense, em Junho de 2018, e que
não podem passar dissociadas de qualquer promoção que venha a ser organizada ou
reorganizada pela RAM, pressionada também pela sensação de que há mercados
concorrenciais localizados nas proximidades - p.e. norte de África, que parece
estar a recuperar lentamente a sua importância, o que não deixa de ser
importante dado que a instabilidade social e política naquela região,
incentivada pela chamada "Primavera Árabe", foi responsável pela
subida acentuada do turismo em Portugal:
- o Benelux (Bélgica, Luxemburgo e Países Baixos) representa
cerca de 5,5% da quota das entradas na RAM, com aproximadamente 42 mil pessoas
entre Janeiro e Junho.
Acho que há
potencialidades de crescimento que devem ser exploradas nesta zona da Europa:
. Bélgica, 14.256 entradas (13.248 em 2017), 1,8% do mercado
regional
. Luxemburgo, 2.055 entradas (1.759), 0,3%
. Países Baixos (Holanda), 25.516 entradas (30.704, menos
16,9%), 3,3 do mercado regional.
Quanto aos EUA – mercado que continua a
apostar noutros destinos que não propriamente a Europa – eles representam 0,8%
do mercado regional de entradas turísticas. Desconheço, muito sinceramente, se será
um mercado potencial, com margem de crescimento significativo que justifique uma
aposta promocional em larga escala. Sinceramente tenho algumas dúvidas.
O
leste europeu?
Não
estarei a exagerar se sublinhar, de forma destacada, que há um novo mercado
europeu, com potencialidades que devem ser integralmente apuradas,
desconhecendo - confesso-o - se a promoção da Madeira tem vindo a dar atenção
aos países do leste europeu - é deles que eu falo - como os indicadores
estatísticos recomendam, com destaque para a Polónia (que registou uma queda de
turistas). Vejamos as entradas de Janeiro a Junho deste ano:
- Rússia, 4.554 entradas (4.455 em 2017), 0,6%
de quota do mercado regional
- Polónia, 19.570 (21.458), 2.5%
- República Checa, 7.791 (7.374), 1%
- Roménia, 2.066 (1.351), 0,3%
- Hungria, 2.343 (1.644), 0,3%
- Estónia, 1.087 (495, mais 119,6% de entradas
em 2018) e 0,1% de quota no mercado regional de entradas de turistas
Dormidas
Um dos aspectos curiosos na leitura dos
dados turísticos da RAM, tem a ver com as dormidas, mas quanto a isso
publicamos alguns quadros que ajudam a perceber o que se passa:
- De Janeiro a Junho as dormidas ascenderam a 3.951.495;
- O turismo nacional contribuiu com 430.454 dormidas, 10,9% do
total;
- Alemanha somou 1.055.191 dormidas, 26,7% contra 393.740 da
França, 10%, 895.718 do Reino Unido (menos 7,2% comparativamente a igual
período de 2017), 22.7% do total e Dinamarca com 148.701 dormidas, 3,8% do
total;
- a taxa de ocupação na hotelaria foi de 61,9% de Janeiro a
Junho de 2018 (menos 3,7% que em 2017), sendo que nos hotéis foi de 67,6%
(menos 2,9%) e nos hotéis-apartamentos de 67,3% (menos 5,5%). Destaque para os
36,3% no alojamento local, sem contabilizar os alojamentos com menos de 10
camas).
Aqui, no domínio
das dormidas, penso que os participantes na conferência sobre turismo, hoje no
Funchal, poderão ter muita coisa que refletir, a começar por eles próprios,
pelos procedimentos comerciais adotados, promoção, pela política de preços,
concorrência interna de alternativas em crescendo, pela dependência, sim ou
não, de operadores turísticos apostados em preços low-cost, pelos impactos
negativos que o aeroporto do Funchal passou a com portar devido a restrições
operacionais, sem dúvida uma nova realidade que ocorre com mais frequência,
etc.
REV-PAR
Deixo para os especialistas - e certamente
não faltarão hoje muitos no Funchal - a apreciação de questões relacionadas com
o preço praticado pela hotelaria regional, o REV-PAR, porque entendo que se
trata de temática muito complexa, pouco consensual e com implicações a jusante
e a montante, que não quero abordar neste texto, mas que tenho a consciência
que condicionam a estrutura a política de preços.
Muito sinceramente acho que os problemas
que se colocam hoje, os desafios, as dependências, as limitações, os condicionalismos,
as insuficiências, etc, determinam que estes temas se debatam com muito
realismo e de forma pragmática, sem teorizar muito num tempo em que as
propostas concretas e as soluções são o que mais interessa. Não divagações ou
lucubrações demasiado vagas ou teóricas, distantes da realidade, procedimento
que, repito, não me envolve, porque reconheço, e assumo, que não sou especialista
neste sector, um dos mais importantes da economia regional, o que não invalida
que tenha as minhas opiniões naturalmente genéricas e superficiais (LFM)
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