Os meses - os anos já - passam e os relatos tornam-se
cada vez mais assustadores. Nem os mortos escapam à crise: os cortes de energia
constantes impedem as morgues de manter os cadáveres refrigerados e estes
chegam mesmo a explodir. Nicólas Maduro até pode negar que haja uma crise na
Venezuela, que a realidade fala por si. Há fome, muita fome, cada vez mais fome
no país. Os meses passam - os anos já - e as notícias que nos chegam a cada dia
que passa ainda mais desoladoras. Há mulheres que querem dar os próprios
filhos, por não terem o que lhes dar de comer. É o caso de uma venezuelana
grávida de seis meses, não identificada, que já com outros filhos, assumiu à
BBC ter já tomado a pior decisão que poderia tomar na vida. Eu expliquei-lhes que não queria
abandoná-los, mas não tenho como sustentá-los. Um dia vou recuperar os meus
filhos”.
Judith é outra mãe em circunstâncias semelhantes. Chora ao falar, tem um grande peso no coração
Pensei que conseguiria alimentar os meus outros filhos
e que a minha bebé teria um futuro melhor. Sinto-me arrasada por não a ter
comigo”.
Números assustadores da pobreza
As estatísticas impressionam: 87% dos venezuelanos
vivem atualmente na pobreza. Há quatro anos, em 2014, eram 48%, uma percentagem
já de si impressionante. Outro número que impressiona: a fome levou as pessoas
a perderem, em média, no ano passado, 11 quilogramas. Há crianças a viver na
rua, pessoas de todas as idades a procurar comida no lixo.
Mercados vendem
carne podre
Os cortes de energia são constantes - ainda ontem
houve um apagão - e têm implicações a uma série de níveis, incluindo nos
produtos frescos comercializados: os mercados vendem carne já podre. Numa situação
humanitária tão grave e complexa, o pouco que há acaba por se desperdiçar. Ao
mesmo tempo, as pessoas vão deixando de ter dinheiro para comprar os bens mais
básicos dos mais básicos. A inflação galopante também só piora as coisas: um
quilo de carne chega a custar um terço do salário mínimo, que atualmente é de
1.800 bolívares soberanos (cerca de 25 euros). A carne podre custa 1%. Os
cortes de energia têm outras consequências que fazem com que nem os mortos
escapem à crise. A BBC também relata que há morgues que não conseguem
refrigerar os corpos, que depois de dias e dias nesta situação, chegam mesmo a
explodir. Os venezuelanos também se queixam nas redes sociais de falta gás, de
água e de falhas no abastecimento de gasolina. Aqueles que ainda conseguem
desertar do país, fazem-no, incluindo para países como Portugal. Maduro quer
500 milhões da ONU para convencer os venezuelanos que emigraram em massa a
voltar e para isso anunciou, no final de setembro, que vai pedir mais de 400
milhões de euros às Nações Unidas, por
achar que "todos querem regressar, porque lhes fizeram uma oferta
falsa". Continua também a dizer que está a ser preparado um golpe de
Estado contra o seu governo. No meio de
tudo isto, têm aumentado as pressões contra jornalistas para ocultar o que se
passa no país. A realidade é cruel e tem de ser noticiada. Os venezuelanos
precisam de ter voz (TVI24)
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