sábado, outubro 20, 2018

Desespero da fome leva mães a darem os próprios filhos na Venezuela


Os meses - os anos já - passam e os relatos tornam-se cada vez mais assustadores. Nem os mortos escapam à crise: os cortes de energia constantes impedem as morgues de manter os cadáveres refrigerados e estes chegam mesmo a explodir. Nicólas Maduro até pode negar que haja uma crise na Venezuela, que a realidade fala por si. Há fome, muita fome, cada vez mais fome no país. Os meses passam - os anos já - e as notícias que nos chegam a cada dia que passa ainda mais desoladoras. Há mulheres que querem dar os próprios filhos, por não terem o que lhes dar de comer. É o caso de uma venezuelana grávida de seis meses, não identificada, que já com outros filhos, assumiu à BBC ter já tomado a pior decisão que poderia tomar na vida.  Eu expliquei-lhes que não queria abandoná-los, mas não tenho como sustentá-los. Um dia vou recuperar os meus filhos”.

Judith é outra mãe em circunstâncias semelhantes. Chora ao falar, tem um grande peso no coração
Pensei que conseguiria alimentar os meus outros filhos e que a minha bebé teria um futuro melhor. Sinto-me arrasada por não a ter comigo”.
Números assustadores da pobreza
As estatísticas impressionam: 87% dos venezuelanos vivem atualmente na pobreza. Há quatro anos, em 2014, eram 48%, uma percentagem já de si impressionante. Outro número que impressiona: a fome levou as pessoas a perderem, em média, no ano passado, 11 quilogramas. Há crianças a viver na rua, pessoas de todas as idades a procurar comida no lixo.
Mercados vendem carne podre
Os cortes de energia são constantes - ainda ontem houve um apagão - e têm implicações a uma série de níveis, incluindo nos produtos frescos comercializados: os mercados vendem carne já podre. Numa situação humanitária tão grave e complexa, o pouco que há acaba por se desperdiçar. Ao mesmo tempo, as pessoas vão deixando de ter dinheiro para comprar os bens mais básicos dos mais básicos. A inflação galopante também só piora as coisas: um quilo de carne chega a custar um terço do salário mínimo, que atualmente é de 1.800 bolívares soberanos (cerca de 25 euros). A carne podre custa 1%. Os cortes de energia têm outras consequências que fazem com que nem os mortos escapem à crise. A BBC também relata que há morgues que não conseguem refrigerar os corpos, que depois de dias e dias nesta situação, chegam mesmo a explodir. Os venezuelanos também se queixam nas redes sociais de falta gás, de água e de falhas no abastecimento de gasolina. Aqueles que ainda conseguem desertar do país, fazem-no, incluindo para países como Portugal. Maduro quer 500 milhões da ONU para convencer os venezuelanos que emigraram em massa a voltar e para isso anunciou, no final de setembro, que vai pedir mais de 400 milhões de euros  às Nações Unidas, por achar que "todos querem regressar, porque lhes fizeram uma oferta falsa". Continua também a dizer que está a ser preparado um golpe de Estado contra o seu governo.  No meio de tudo isto, têm aumentado as pressões contra jornalistas para ocultar o que se passa no país. A realidade é cruel e tem de ser noticiada. Os venezuelanos precisam de ter voz (TVI24)

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