segunda-feira, setembro 17, 2018

A principal ameaça para o PSD? O efeito Aliança Lopes


O PSD tem tudo a perder e Rio corre riscos sérios. O CDS tem tudo a ganhar com a eventual transformação do PSD num partido médio. Para o PS, a maioria absoluta não se torna mais fácil com outro concorrente a eleger deputados. BE e o PCP são os que têm vantagens com a bloquização do Parlamento. Mas se Santana Lopes for um fiasco, este será o seu “flop” final. Santana não é Macron. Não é novo nem representa uma novidade. Sempre fez parte do sistema e estranho seria aparecer agora como um corpo estranho ao status quo de que sempre fez parte. No entanto, na carta de despedida ao PSD, enfatizou q.b. que apesar de andar por aqui há tanto tempo, o partido aplaudia-o sem passar grande cartão às suas ideias. Um dos grandes testes de Pedro Santana Lopes hoje é esse: agora, na idade da maturidade, as pessoas querem só ouvi-lo, entreterem-se com ele como o partido adorava entreter-se (era o Pedro e o Pedro era obrigatório) ou vão levá-lo finalmente a sério? Levar a sério, neste caso, significa dar-lhe o voto. E pedir isso não é pedir pouco. Ainda é cedo para perceber o potencial eleitoral da Aliança, apesar de um estudo da Eurosondagem para o Expresso dizer que 5% dos inquiridos estariam dispostos a votar em Santana e 15% não fechavam a porta - mesmo sem haver qualquer partido. Notoriedade nem sempre quer dizer cruzes no boletim, favas contadas e opinião pública favorável - pode significar exatamente o contrário - mas Santana Lopes parte com uma vantagem: para o bem e para o mal, toda a gente sabe quem ele é.

Santana não precisa de gastar rios de dinheiro em propaganda, outdoors e afins. Basta-lhe manter o espaço de comentário numa televisão, neste caso na SIC, e saber usar as novas tecnologias e as redes sociais como se tem visto por esse mundo fora (de Obama aos populistas). Mas em Portugal o modelo é Marcelo. A campanha de Santana, se a souber fazer, será nas televisões. É ir aos sítios, falar, beijar e abraçar, e o resto poderá fazer o seu caminho, se fizer. O problema é a credibilidade do protagonista. Vamos ver se ganha essa luta consigo próprio e com o seu passado: se é populista, nacionalista, liberal e eurocético em doses que não causem mais rejeição que adesão.
Seja como for, tenha a Aliança de Lopes muitos ou poucos votos, os cenários são todos prejudiciais ao PSD. Para o CDS depende. Para o PS pode parecer uma maravilha, como Marques Mendes ironizou na SIC este domingo, mas nem isso é garantido. Quem pode mesmo ganhar com o novo player é a esquerda, PCP e BE. Porque é que Santana vem baralhar o sistema?
De forma genérica, se considerarmos que o PAN vai subir e não descer de votação (podendo eleger mais que um deputado), e acreditando à cautela que Santana só terá entre 3% e 5%, o Parlamento torna-se uma casa muito curta: pode ser mais difícil a António Costa ter maioria absoluta - já houve um empate, é bom não esquecer -, Rui Rio arrisca-se a ver o PSD a tornar-se no partido médio que ele queria evitar e o CDS pode perder a margem de crescimento em que Assunção Cristas acreditava. O Bloco e o PCP ganham com a reorganização da direita, porque uma recomposição assim do Parlamento faz com que seja obrigatório para o PS continuar a precisar dos partidos à sua esquerda para formar Governo.
A “santanização” da direita, se for bem-sucedida, acentuará assim o efeito “geringonça” do Parlamento e do sistema político em dois grandes blocos de esquerda e direita. Mesmo que houvesse uma tentação na atual liderança do PSD para fazer entendimentos com o PS - para retirar os socialistas das garras da esquerda -, a partir do momento em que a concorrência é maior à direita, esse movimento torna-se mais arriscado: uma eventual aproximação mais acentuada do PSD ao PS poderia converter-se numa transferência de votos direta da base sociológica do PPD para o CDS e para a Aliança.
Rui Rio, que tem estado calado, é quem mais tem a perder com a dissidência do seu adversário. O PSD está dividido, há dois challengers assumidos - Luís Montenegro e Pedro Duarte -, o líder não descola nas sondagens e a estratégia não parece adivinhar uma oposição muito distintiva do PS. Até agora, António Costa himself tem passado incólume pelos discursos e declarações do líder do PSD. Não sabemos ainda o que isso quer dizer, mas à direita há quem desconfie, mesmo com algum exagero, que o Bloco Central já está cozinhado e apalavrado. Resumindo, se Rio está com 27% nas intenções de voto e se com a concorrência de Cristas e Santana cair apenas três pontos para 24% nas legislativas, está condenado. O PSD não lhe dará uma segunda oportunidade. Nisto, o partido funciona como um relógio. Resta saber quando se dará o golpe.
Para Assunção Cristas, o efeito da “Aliança Lopes” pode ser apenas o não crescimento do partido e os riscos de ser encostada à direita - mesmo pelas tendências internas. Mas tem uma vantagem a longo prazo: concretizar o sonho do CDS que é ver o PSD transformado num partido mais pequeno e menos preponderante no momento de estabelecer alianças ou negociar coligações. Talvez por isso Cristas tenha dito ao Expresso que vê a chegada da Aliança com bons olhos. Pode não ser cinismo. Pode ser o momento em que se apercebe de uma oportunidade.
E é claro que todo o raciocínio desta análise cai por terra no caso de o partido de Santana Lopes vier a ser um fiasco. E então aí o fiasco passará a ser o próprio Santana Lopes. “Santana Flopes”, lembram-se? (texto do jornalista Vítor Matos do Expresso, com a devida vénia)

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