O PSD tem tudo a perder e Rio corre riscos sérios. O
CDS tem tudo a ganhar com a eventual transformação do PSD num partido médio.
Para o PS, a maioria absoluta não se torna mais fácil com outro concorrente a
eleger deputados. BE e o PCP são os que têm vantagens com a bloquização do
Parlamento. Mas se Santana Lopes for um fiasco, este será o seu “flop” final. Santana
não é Macron. Não é novo nem representa uma novidade. Sempre fez parte do
sistema e estranho seria aparecer agora como um corpo estranho ao status quo de
que sempre fez parte. No entanto, na carta de despedida ao PSD, enfatizou q.b.
que apesar de andar por aqui há tanto tempo, o partido aplaudia-o sem passar
grande cartão às suas ideias. Um dos grandes testes de Pedro Santana Lopes hoje
é esse: agora, na idade da maturidade, as pessoas querem só ouvi-lo,
entreterem-se com ele como o partido adorava entreter-se (era o Pedro e o Pedro
era obrigatório) ou vão levá-lo finalmente a sério? Levar a sério, neste caso,
significa dar-lhe o voto. E pedir isso não é pedir pouco. Ainda é cedo para perceber o potencial eleitoral da
Aliança, apesar de um estudo da Eurosondagem para o Expresso dizer que 5% dos
inquiridos estariam dispostos a votar em Santana e 15% não fechavam a porta - mesmo
sem haver qualquer partido. Notoriedade nem sempre quer dizer cruzes no
boletim, favas contadas e opinião pública favorável - pode significar
exatamente o contrário - mas Santana Lopes parte com uma vantagem: para o bem e
para o mal, toda a gente sabe quem ele é.
Santana não precisa de gastar rios de dinheiro em
propaganda, outdoors e afins. Basta-lhe manter o espaço de comentário numa
televisão, neste caso na SIC, e saber usar as novas tecnologias e as redes
sociais como se tem visto por esse mundo fora (de Obama aos populistas). Mas em
Portugal o modelo é Marcelo. A campanha de Santana, se a souber fazer, será nas
televisões. É ir aos sítios, falar, beijar e abraçar, e o resto poderá fazer o
seu caminho, se fizer. O problema é a credibilidade do protagonista. Vamos ver
se ganha essa luta consigo próprio e com o seu passado: se é populista,
nacionalista, liberal e eurocético em doses que não causem mais rejeição que
adesão.
Seja como for, tenha a Aliança de Lopes muitos ou
poucos votos, os cenários são todos prejudiciais ao PSD. Para o CDS depende.
Para o PS pode parecer uma maravilha, como Marques Mendes ironizou na SIC este
domingo, mas nem isso é garantido. Quem pode mesmo ganhar com o novo player é a
esquerda, PCP e BE. Porque é que Santana vem baralhar o sistema?
De forma genérica, se considerarmos que o PAN vai
subir e não descer de votação (podendo eleger mais que um deputado), e
acreditando à cautela que Santana só terá entre 3% e 5%, o Parlamento torna-se
uma casa muito curta: pode ser mais difícil a António Costa ter maioria
absoluta - já houve um empate, é bom não esquecer -, Rui Rio arrisca-se a ver o
PSD a tornar-se no partido médio que ele queria evitar e o CDS pode perder a
margem de crescimento em que Assunção Cristas acreditava. O Bloco e o PCP
ganham com a reorganização da direita, porque uma recomposição assim do
Parlamento faz com que seja obrigatório para o PS continuar a precisar dos
partidos à sua esquerda para formar Governo.
A “santanização” da direita, se for bem-sucedida,
acentuará assim o efeito “geringonça” do Parlamento e do sistema político em
dois grandes blocos de esquerda e direita. Mesmo que houvesse uma tentação na
atual liderança do PSD para fazer entendimentos com o PS - para retirar os
socialistas das garras da esquerda -, a partir do momento em que a concorrência
é maior à direita, esse movimento torna-se mais arriscado: uma eventual
aproximação mais acentuada do PSD ao PS poderia converter-se numa transferência
de votos direta da base sociológica do PPD para o CDS e para a Aliança.
Rui Rio, que tem estado calado, é quem mais tem a
perder com a dissidência do seu adversário. O PSD está dividido, há dois
challengers assumidos - Luís Montenegro e Pedro Duarte -, o líder não descola
nas sondagens e a estratégia não parece adivinhar uma oposição muito distintiva
do PS. Até agora, António Costa himself tem passado incólume pelos discursos e
declarações do líder do PSD. Não sabemos ainda o que isso quer dizer, mas à
direita há quem desconfie, mesmo com algum exagero, que o Bloco Central já está
cozinhado e apalavrado. Resumindo, se Rio está com 27% nas intenções de voto e
se com a concorrência de Cristas e Santana cair apenas três pontos para 24% nas
legislativas, está condenado. O PSD não lhe dará uma segunda oportunidade. Nisto,
o partido funciona como um relógio. Resta saber quando se dará o golpe.
Para Assunção Cristas, o efeito da “Aliança Lopes”
pode ser apenas o não crescimento do partido e os riscos de ser encostada à
direita - mesmo pelas tendências internas. Mas tem uma vantagem a longo prazo:
concretizar o sonho do CDS que é ver o PSD transformado num partido mais
pequeno e menos preponderante no momento de estabelecer alianças ou negociar
coligações. Talvez por isso Cristas tenha dito ao Expresso que vê a chegada da Aliança
com bons olhos. Pode não ser cinismo. Pode ser o momento em que se apercebe de
uma oportunidade.
E é claro que todo o raciocínio desta análise cai por
terra no caso de o partido de Santana Lopes vier a ser um fiasco. E então aí o
fiasco passará a ser o próprio Santana Lopes. “Santana Flopes”, lembram-se?
(texto do jornalista Vítor Matos do Expresso, com a devida vénia)
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