terça-feira, setembro 18, 2018

Reféns de jogos políticos e de companhias aéreas sem escrúpulos. E a Autonomia onde anda?

Eu não sei de quem é a culpa, não sei se é de quem negociou o modelo, se de quem paga o valor mais significativo dos seus custos, de quem parece que se entregou demasiado às companhias aéreas, etc. Ou se o modelo adoptado coloca as companhias aéreas com a faca e o queijo nas mãos, etc. Não sei nem isso sequer me interessa para nada. Como sou pragmaticamente fundamentalista, acho que factos são factos e que teoria ou deduções não passam disso mesmo, de teoria e de deduções, que valem por isso o que valem. Só gostaria de realçar que numa altura em que se fala tanto na defesa dos nossos direitos, na defesa da autonomia, na sua capacidade de se defender e de reagir perante as ameaças ou chantagens, o que se passa com estes bandalhos irlandeses da Easyjet é vergonhoso. E não é nada de novo, porque não passa da repetição de ameaças anteriores por parte  de uma companhia que, recordo, abandonou os Açores incomodada com a pressão dos concorrentes numa linha onde chegou depois da Ryanair.
Mais do que uma chantagem, esta notícia do JM refecte a triste consequência - tal como o caso do Hospital e de outros assuntos - do facto de termos descuramos em 40 anos áreas onde devíamos ter apostado e investido mais, porque somos ilhas, e não o fizemos. Talvez porque acreditamos infantilmente nas palavras de políticos continentais que serão sempre amigos da onça, ou porque pensávamos que essa treta da continuidade territorial num estado centralista e revanchista (lembram-se do que nos fez o sacana do Salazar depois da revolta da Madeira de 1931?) seria acatada em nome da coesão territorial, tão apregoada por uma Europa decadente e cada vez mais dispensável e sem referências e bandeiras (dispensável caso insista neste seu caminho). Mas é também reflexo do país da geringonça, um país governado por uma santa aliança de esquerda mas governado na realidade por javardos capitalistas e por todas as negociatas mafiosas que aguentam uma reedição socialista, agora mais alindada, do socratismo que nos levou à desgraça e à falência, como sabem muito bem protagonistas dos dois tempos governativos.
Falar em autonomia, na sua pujança, na sua vitalidade e na sua virtualidade, particularmente numa região insular, que depende dos transportes, quando somos confrontados com este tipo de notícia, é o mesmo que jurar a pés juntos que a merda de uma pedaço de barro é ouro pintado de castanho. Não é. Será sempre barro, nunca será ouro, digam o que disserem!
Acresce que a Easyjet, neste caso em concreto, que é parte de uma cartelização de preços para a Madeira, concertada e imposta nos subterrâneos do poder pela TAP, para assim se financiar em dezenas de milhões de euros anuais, furtando-e deste modo à proibição de Bruxelas (o regulador aéreo em Portugal é uma gargalhada), percebeu a fragilidade do governo da geringonça.
Se o governo geringonçal - que ainda não entendi se tem 45 ou 50% do capital social da TAP - não intervém nesta companhia, perante o escândalo do que se passa com a Madeira, se ele permite todas as bandalhices da mesma, sobretudo nas tarifas praticadas - que não passam de um ROUBO imitado celeremente pelas restantes operadoras - se ignora um discurso mentiroso e gozador do seu Presidente brasileiro (lembram-se de quem trouxe o primeiro brasileiro para presidir à TAP numa altura em que a privatização da companhia era apenas admitida discretamente por alguns, poucos, protagonistas do poder socialista desse tempo? Perguntem a um conhecido comentador da SIC...) que não passa de um embuste mentiroso e hipócrita, obviamente que a Easyjet percebeu também que pode puxar pela corda e ameaçar que nada lhe acontece porque em Lisboa cagam-se todos de medo pelos efeitos de uma decisão mais radical. Ainda por cima - e isso tem sido esquecido estranhamente quando se fala na realidade da aviação comercial em Portugal nos dias que correm... - quando em cima da mesa está o esgotadíssimo aeroporto de Lisboa, um dos mais problemáticos da Europa em cumprimento de horários, e a alternativa do aeroporto do Montijo, alegadamente a ser entregue às operadoras low-cost, cujas obras custam até 500 milhões de euros e só podem ser suportadas por estas companhias (a TAP já disse que recusa investir um tostão que seja...) que assim passam a ser "donas" - através de uma espécie de concessão pública por dezenas de anos... - de um aeroporto em Portugal tal como Passos e Portas entregaram os nossos aeroportos à francesa Vinci que nessa altura tinha na carteira de aeroportos apenas infraestruturas de segunda e terceira linha.
É neste quadro que nos encontramos, manietados, reféns de jogos políticos e de companhias aéreas, não me parecendo que nada mais reste aos madeirenses que não seja continuar a pagar preços exorbitantes por viagens de 90m ou menos, porque os Alibábá dos nossos dias são mais descarados e conseguiram maiores cumplicidades. Já não precisam de cavernas para guardar o tesouro e dificilmente serão apenas os 40 patifes da quadrilha do ladrão mais conhecido do nosso imaginário. Eles agora mamam descaradamente à vista de todos. Com tantas cumplicidades estranhas que até podiam levar-nos a inventar novas histórias de gatunagem mais sofisticada nestes novos tempos (LFM)

Sem comentários: