quinta-feira, setembro 13, 2018

‘Guerra fria’ instalada entre brasileiros e venezuelanos em Roraima


A imigração em massa de venezuelanos para o Brasil instaurou um clima de ‘guerra fria’ no estado fronteiriço de Roraima, onde o tom dos discursos contra os estrangeiros cresce, entre episódios pontuais de confronto directo. Uma onda de hostilidade declarada atingiu a cidade de Boa Vista, capital do estado, depois de um assalto ter provocado duas mortes. Na quinta-feira passada, um venezuelano roubou uma lata de leite condensado de um mercado e matou à facada um cliente que tentou evitar sua fuga. Depois do ataque, o venezuelano foi linchado e morto por populares que viram o ocorrido. O crime instaurou um clima de ameaças e tensão em Boa Vista no final da semana, quando mais de 200 imigrantes voltaram em ónibus fretados pela igreja e pelo Governo da Venezuela para o seu país. temendo represarias.
O exército brasileiro evitou novos confrontos, após uma nova ameaça de agressão durante um protesto em que os brasileiros pediram o fecho da fronteira e a expulsão dos imigrantes venezuelanos da cidade. As ameaças mais ostensivas foram proferidas no sábado, contra venezuelanos que viviam perto do abrigo Jardim Floresta, na zona oeste. No domingo, o Exército retirou imigrantes que viviam nas ruas e noutras partes de Boa Vista, levando-os para abrigos inaugurados antecipadamente. Na cidade de Caracarai, localizada no sul do estado de Roraima, ainda não foram registados conflitos, mas o homicídio de um comerciante brasileiro, dono de uma pizzaria, cometido por dois venezuelanos que foram presos pela polícia na semana passada, desencadeou uma série de ameaças. Um taxista, que pediu para não ser identificado pela reportagem da Lusa, mostrou mensagens trocadas em grupos da rede social Whatsapp em que moradores de Caracarai planeiam um suposto ataque contra os imigrantes venezuelanos se estes não forem embora da cidade. Em Pacaraima, cidade da fronteira entre o Brasil e a Venezuela, há um clima de aparente tranquilidade, 23 depois de centenas de moradores terem promovido a expulsão e queimarem os pertences de 1.200 venezuelanos que viviam nas ruas. Neste pequeno município, cuja população é de cerca de 15 mil habitantes, a expulsão dos venezuelanos ainda está fresca na memória dos moradores, que reclamam que houve certo exagero na cobertura feito pela imprensa do ocorrido, ao mesmo tempo que relatam com orgulho detalhes dos atos de violência que praticaram. O clima de tensão também fez com que o Presidente do Brasil, Michel Temer, assinasse um decreto de Garantia da Lei e da Ordem, autorizando o envio de elementos do Exército para a região, com validade até ao dia 12 de setembro.

A troca de ameaças também se manifesta entre governos
No Brasil há uma disputa judicial interna desencadeada pela governadora de Roraima, Suely Campos, que pediu duas vezes ao Supremo Tribunal Federal (STF) o fecho da fronteira do Brasil com a Venezuela, na cidade de Pacaraima. O Governo brasileiro é contra a medida e já entrou com recursos no STF, alegando que o Brasil é signatário de tratados internacionais que o impedem de tomar este tipo de medida. Por sua vez, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, ameaçou no dia 24 de agosto cortar o fornecimento de luz ao estado de Roraima, que depende da energia do país vizinho porque não está interligado ao sistema de distribuição de energia brasileiro.
Embora a ameaça do corte de energia seja oficialmente motivada por uma dívida de cerca de 33 milhões de dólares (28,4 milhões de euros) do Brasil com o Governo venezuelano, ela tem sido encarada pela população de Roraima como uma possível retaliação ante o aumento dos confrontos entre os moradores e os imigrantes. De acordo com dados oficiais, desde 2017 entraram no Brasil 154.920 venezuelanos por via terrestre, na cidade de Pacaraima, mas cerca de 79.402 deles regressaram à Venezuela. Dos que decidiram permanecer no Brasil, mais de 5.000 vivem em abrigos construídos em Boa Vista e Pacaraima, e dependem da ajuda humanitária do Governo brasileiro e do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) (Lusa)

Sem comentários: