quarta-feira, outubro 08, 2014

Coreia do Norte reconhece utilização de campos de trabalho

Segundo o Público, "pela primeira vez um responsável norte-coreano assumiu publicamente a existência de “campos de trabalho” no país em resposta a um relatório das Nações Unidas. No entanto, as acusações feitas no documento foram negadas. Choe Myong Nam, representante do Ministério dos Negócios Estrangeiros junto da ONU, falava com alguns jornalistas nesta terça-feira sobre as conclusões de um relatório publicado em Fevereiro em que são descritos crimes contra a humanidade perpetrados pelo Estado norte-coreano. “Tanto na lei como na prática temos reeducação através de campos de trabalho, não são centros de detenção”, disse o diplomata, esclarecendo que nestes campos “as pessoas são melhoradas através da sua mentalidade e reflectem sobre os seus erros”.
Ao reconhecimento da existência de campos de “reeducação” junta-se a confirmação de uma reunião recente em Bruxelas entre o Representante Especial para os Direitos Humanos da União Europeia, Stavros Lambrinidis, e um dirigente do Partido dos Trabalhadores da Coreia do Norte. A abertura, pelo menos, quanto à necessidade de haver um diálogo sobre o estado dos direitos humanos na Coreia do Norte é vista como um passo importante pelo director-executivo do Comité para os Direitos Humanos na Coreia do Norte, Greg Scarlatoiu. “Apesar de o registo norte-coreano em termos de direitos humanos ser terrível, é muito importante que dirigentes de topo norte-coreanos estejam agora a falar sobre direitos humanos e expressem pelo menos um interesse no diálogo”, disse à AP o chefe desta ONG sedeada em Washington. No relatório publicado em Fevereiro, que tem por base entrevistas a antigos prisioneiros, o Conselho de Direitos Humanos da ONU faz referência a crimes de tortura, escravatura, maus-tratos e execuções sobre os prisioneiros nos campos de trabalho. A conclusão é que “centenas de milhares de prisioneiros políticos morreram nestes campos nas últimas cinco décadas”. Não se sabe ao certo o número actual de prisioneiros, mas a maioria das estimativas aponta para entre 120 mil e 200 mil.


Hwang Pyong-so, apontado como o número dois do regime norte-coreano, de visita à Coreia do Sul (FOTO JEON HEONKYUN/EPA, Expresso Diário com a devida vénia)

Os autores do relatório recomendam que os responsáveis pelos crimes sejam levados perante o Tribunal Penal Internacional. Em Setembro, Pyongyang publicou uma resposta à ONU em que criticava “as forças hostis que insistem persistentemente na ‘questão dos direitos humanos’ na RDCN [República Democrática Popular da Coreia] numa tentativa de danificar a sua imagem e derrubar o sistema social e a ideologia escolhidas pelo povo coreano”. Michael Kirby, um dos autores do relatório da ONU, considerou que a disponibilidade da Coreia do Norte para discutir os direitos humanos e a reabertura do diálogo com Seul se trata de uma “ofensiva de charme”. “Sendo realista, não me parece que tenha havido uma conversão súbita, mas o que quer que traga respeito pelos direitos humanos será algo bom”, disse Kirby à BBC. Aos jornalistas, Choe Myong Nam descreveu a Coreia do Norte como uma “sociedade de transição”, pelo que “pode haver alguns problemas, por exemplo na economia e noutras áreas”, cuja culpa reside na acção de “forças exteriores”. Com o desenvolvimento do país, “a alegria do povo será aumentada”, concluiu Choe. Outra das questões colocadas ao dirigente foi a ausência recente do líder norte-coreano, Kim Jong-un, que não é visto publicamente desde 3 de Setembro, mas não houve qualquer resposta. O afastamento de Kim – que não esteve presente, por exemplo, na recepção aos atletas que participaram nos Jogos Asiáticos – tem levado a especulações de que o líder esteja com problemas de saúde"