“Se calhar, Cristiano Ronaldo é mesmo de natural boa índole - e o facto
é que não foge aos impostos como o seu adversário maior. Mas, nisto de ser e
parecer, vale sempre a pena ter um bom assessor de imagem. Já repararam no
percurso sem falha que ele tem feito este ano? Quando Mourinho saiu do clube
comum, foi deselegante com Cristiano Ronaldo e, querendo dizer que falava do
brasileiro Ronaldo, o Fenómeno, especificou: "Ronaldo, o verdadeiro."
O português não deu bola à polémica. Depois, sobre a Bola de Ouro que este ano,
para ele, é uma questão de vida ou de morte, Cristiano Ronaldo teve as palavras
certas: não é uma questão de vida ou de morte. Se sim, muito contente, se não,
paciência: "Ficar contente ou triste é a lei da vida." A qualidade da
atitude deste Cristiano Ronaldo está nas pequenas frases que tem, certas. Entre
o Quim Berto que diz "o Quim Berto acha" e o Valdano que escreve como
um bom romancista, Cristiano Ronaldo encontrou o lugar certo: fala como Zidane
recebia a bola. Depois foi o discurso na homenagem ao seu "pai no
futebol", Alex Ferguson. Tudo certo e comovente. Agora, foi a carta ao
tribunal que julga o fã que saltou para o relvado em Miami e, sendo
estrangeiro, arrisca a expulsão... Não sejamos ingénuos, nos casos raros em que
distribui o génio, o destino só dá um por pessoa. Então? Se Passos ou Seguro
descobrem quem aconselha Cristiano Ronaldo ainda nos arriscamos a vê-los
interessantes” (texto de Ferreira Fernandes, DN de Lisboa com a devida vénia)