“Andámos nós nas escolas e nas redações, com os nossos mestres de
jornalismo, a aprender que "os leitores não são parvos", que é um
erro fazer do público um tolinho acéfalo, que não tem capacidades intelectuais
para avaliar criticamente o nosso trabalho e, afinal, parece que estávamos
todos errados. Pelo menos, a crer na polémica que, desde sexta-feira passada,
divide a classe jornalística: a participação de Rodrigo Guedes de Carvalho num
programa humorístico do Gato Fedorento na SIC.Afinal, jornalista é jornalista.
Tem de ser sério e sisudo - e, de facto, é essa a imagem pública que temos do
pivô do Jornal da Noite. Que não, que não se pode confundir os palcos; que
quando se cruza uma fronteira perde-se credibilidade; que, aqui d"el-rei,
como vai o jornalista enfrentar um político em entrevista agora que participou
num programa humorístico?Enfim, afinal andam muitos jornalistas a achar que os
leitores e os espectadores são parvos e que o público é um tolinho acéfalo que
não tem capacidade de perceber a diferença entre informação e humor. Está-se
mesmo a ver: quando Rodrigo Guedes de Carvalho tiver em estúdio qualquer político
(talvez mesmo Passos Coelho, antes de um indesejado encontro com Steven
Seagal...), o espectador não saberá se aquilo é a sério ou a brincar. O
jornalismo tem muitos desafios pela frente. E muitos problemas: este, quanto a
mim, não é um deles. Levamo-nos todos muito a sério. A sério de
mais.Perguntam-me: "Mas, afinal, gostou de A Solução dos Gato
Fedorento?" Não, não gostei. Mas a culpa não foi de Rodrigo Guedes de
Carvalho. Aquilo não tinha era graça nenhuma” (texto de Nuno Azinheira no DN deLisboa, com a devida vénia)