Escreve o DN de Lisboa que “Passos Coelho prometeu há uma semana que não ia “esticar mais a corda” – falava da austeridade sobre os portugueses. Mas no diálogo político continuou a esticar na oposição à oposição, como lhe apontaram os deputados dessa oposição, ao criticar a“demagogia” das propostas do PS, PCP, BE e PEV no debate sobre consolidação orçamental. Nesse mesmo dia soube- se que o primeiro- ministro tinha entregado a Paulo Portas a elaboração de um guião para a reforma do Estado, o único braço estendido aos socialistas. O líder do PS, António José Seguro, não deixou de notar ontem que “já houve alguma evolução”, mas “mais do parceiro de coligação, o CDS, do que do PSD”.
A radicalização no tom e no discurso é devolvida. Também ontem, Seguro sublinhou por duas vezes – no Parlamento e no final da reunião com a troika ( verpágs. 8 e 9) – que “esta é a última oportunidade que o Governo tem para mudar de caminho”.
A esta“verdade” falta uma“consequência”, com as palavras medidas ao milímetro pelo PS, como ontem se ouviu (“tem a última palavra porque os dados da economia são os piores de sempre”, justificou- se, cauteloso, o secretário- geral do PS), depois de em janeiro Seguro ter dito que o partido ia acelerar os calendários internos na apresentação de alternativas.
No dia 20 de fevereiro, quando Vítor Gaspar anunciou que iria pedir mais um ano, embora garantindo que era sem mais dinheiro, o ministro das Finanças parecia ensaiar um flirtcom o PS, ao insistir que a “alteração de ênfase do processo de estabilização de curto prazo é uma oportunidade única para que os partidos da oposição tenham um entendimento”. O socialista Pedro Marques deu- lhe uma tampa, ao dizer que se tratava de uma “grande pirueta”, o que Gaspar tinha acabado de anunciar.
À esquerda do PS, a alternativa só tem um só sentido: a demissão do Governo, a saída de Passos Coelho, como têm verbalizado comunistas, bloquistas e ecologistas de cada vez que estão frente a frente, no Parlamento, com os membros do Executivo.
Mas esta saída vai fazendo caminho também entre os que surgem a cantar ou a gritar protestos contra governantes. Na última quarta- feira, Passos Coelho ouviu de uma centena de estudantes, ou mais, os gritos “demissão” e “está na hora de o Governo ir embora”.
O primeiro- ministro tinha ensaiado minutos antes, na intervenção na Faculdade de Direito de Lisboa, a defesa do “exercício do contraditório”, apontando a necessidade de “intensificar” o debate sobre a reforma do Estado, “de forma a que nós possamos no final do dia oferecer a quem está em casa preocupado em sintonizar- se com o que vai na alma dos portugueses, não apenas aquilo que é o exercício legítimo e às vezes necessário da nossa impaciência e da nossa ansiedade, como se passa às portas deste anfiteatro”. Mas estas palavras não ecoaram para fora num anfiteatro com uma plateia assética de “laranjinhas”. Em ricochete, ouviam- se os protestos no corredor com palavras como “gatunos” e “demissão”.
Últimos seis meses criaram mais razões para reclamar
Os jovens com menos de 25 anos desempregados também são agora mais 11 456, totalizando 93 224. Em contrapartida, as ofertas de emprego baixaram no mesmo período também cerca de 10%, caindo de 11 955 no final de agosto de 2012 para 10 804 no fim de janeiro. Apesar disso, o saldo entre as novas empresas constituídas em Portugal e o número de insolvências nestes seis meses foi bastante positivo. Desde 1 de setembro de 2012 foram constituídas 16 568 empresas, enquanto 2757 faliram. Os desempregados viram os subsídios de desemprego levar um corte de 6% e os que ainda conseguem manter os empregos viram, na esmagadora maioria, os salários diminuir drasticamente, devido à redução dos escalões do IRS, de 8 para 5, este ano e à aplicação de uma nova taxa de 3,5% acima do salário mínimo. Só para se ter uma ideia, um indivíduo solteiro, sem filhos, com um salário bruto mensal de 1000 euros, que em 2012 recebia 790 euros líquidos por mês, este ano recebe só 745,60, menos 44,50. E mesmo um solteiro com um filho e um salário bruto de apenas 630,00 recebe em 2013 menos 14,60 euros por mês. Já um casal com dois filhos e um rendimento bruto conjunto de 2300 euros recebe menos 80,70”