sexta-feira, março 08, 2013

Opinião: "É a política... Passos!!!"

"Um dia perceberemos se as palavras de Passos Coelho resultam de uma espécie de masoquismo, de uma impreparação total ou de uma vontade de provocar. Claro que o primeiro-ministro tem razões de queixa acerca do modo como é interpretado. Nos tempos que correm, todos têm razões de queixa acerca disso. Ainda ontem li, salvo erro no Facebook, que Passos dissera que gostaria de baixar o salário mínimo. Esperei por fontes mais credíveis e verifiquei que ele não disse nada disso. Porém, justamente porque este é um dos exemplos da falta de cuidado, jeito ou outra coisa que ele tem com o que diz, analisemos o caso. Perante uma proposta de Seguro para o aumento do salário mínimo, Passos disse não ter margem para o fazer. Indicou, depois que o aumento do salário mínimo não diminuiria o desemprego, pelo contrário e, por último, referiu que a Irlanda tinha justamente começado por baixar o salário mínimo, embora reconhecendo que os valores mínimos pagos na Irlanda eram (e são) muitos superiores aos de Portugal, pelo que, entre nós não existe a possibilidade de o baixar.
Nestas ideias há diversas coisas a considerar. É discutível se há ou não margem para aumentar o salário mínimo; é muito discutível que o desemprego tenha a ver com a carga salarial, uma vez que a diminuição da atividade económica, essa sim, é muito mais penalizadora. O aumento do salário mínimo poderia aumentar, ainda que marginalmente, o consumo interno, o que poderia, em teoria aumentar a atividade económica. Mas vamos dar de barato (do que não estou convencido) que Passos tem toda razão no que respeita ao salário mínimo. O que o leva a falar de diminuição? Está a preparar uma medida nesse sentido? Se está, enlouqueceu de vez; se não está, é estúpido falar nisso, porque a simplificação e redução das conversas (que as redes sociais cada vez mais propiciam) pegam precisamente nessa ideia, o que aconteceu.
Outro ponto é a sua reação à manif de sábado. É natural que um primeiro-ministro não decida a sua política em função dos protestos da rua. Mas que ganha Passos em afirmá-lo de forma tão categórica, dando a ideia de que as manifestações lhe são indiferentes? Muitas outras perguntas haveria: o que o leva a ser tão pouco colaborante com o PS no Parlamento, o que contrasta com a atitude de Gaspar e Portas sexta-feira da semana passada? Estou consciente de que discuto questões de forma mais do que conteúdo. Mas a forma é importante. E se hoje Passos consegue que o outllook da Standard & Poors sobre Portugal passe de 'negativo' para 'estável', pode ter a certeza que não é com anúncios destes que ganhará o respeito popular. Hoje em dia há uma corrente, com alguns adeptos no país, segundo a qual os líderes não devem perder tempo a explicar à populaça as suas opções. Partem do princípio de que a grandeza da sua tarefa não pode ser entendida por alguns e será sempre criticada por outros.
Porém, não há democracia que resista à ausência de encontro entre o país e quem o dirige. Para que esse encontro se dê, o caminho não tem nem pode ser feito só por um dos lados. E esta teimosia, inconsciência ou seja o que for de Passos Coelho está a dar cabo do seu trabalho e a fazer com que - como já disse - ele (e por não se ter livrado de pessoas como Relvas) e a sua direção do PSD sejam empecilhos para uma solução mais vasta e consensual para o país, que mantenha o essencial da reforma do Estado e do combate aos desequilíbrios do país. É isto a política! Não é um jogo e muito menos um concurso" (texto de Henrique Monteiro, Expresso, com a devida vénia)