sábado, janeiro 21, 2012

Humor Quais são os limites da publicidade?

"Anúncio a ginásio associa Holocausto à perda de peso e volta a levantar a questão dos limites do humor em publicidade. O ginásio The Circuit Factory, do Dubai, lançou há dias nas redes sociais uma campanha publicitária que gerou polémica e trouxe novamente a debate o tema dos limites do humor em publicidade. Da série de dez fotografias que vieram a público, uma delas captou de imediato a atenção em todo o mundo: a imagem do campo de concentração de Auschwitz- Birkenau, na Polónia, com o slogan “Diga adeus às calorias”. Apesar de ter sido retirada do Facebook e do Twitter pelo fundador do ginásio, Phil Parkinson, este acabou por admitir que, mesmo tendo o cartaz estado online apenas algumas horas, o seu intuito foi cumprido. “É preciso que as pessoas falem sobre o negócio. Queremos que falem sobre nós”, disse. Ainda assim, pediu desculpa, referindo que o criativo foi demitido e que nunca quis ofender ninguém. O objetivo era passar a ideia do ginásio ser “um campo de concentração sem calorias, em que os sócios podem solucionar problemas de peso de forma eficaz”. Associar o sofrimento humano a uma marca com o intuito de a vender não é, para o humorista José de Pina, uma boa estratégia de marketing. Até porque este tem os seus limites que, no caso da publicidade, são mais restritos do que se fosse stand up comedy ou um sketch. “Num espetáculo de comédia o público sabe, à partida, ao que vai. No caso da publicidade existe um cliente, um público grande, que recebe aquela piada gratuitamente e não deve ser ferido sob pena de se estragar completamente a imagem do produto”, explicou ao DN o também guionista.
“O humor é, por natureza, transgressão e exagero e é possível fazer humor recorrendo a campos de concentração, desde que haja uma segunda leitura, uma crítica através da piada”, prosseguiu. Também o criativo Carlos Coelho, fundador e presidente da Ivity Brand Corp, considera infeliz o uso de “grandes causas” em publicidade. “Há muitas marcas que usam grandes causas, como esta com o Holocausto, mas também a anorexia e a pobreza, para conseguirem notoriedade. No entanto, a maior parte dessas marcas não tem sucesso porque a publicidade conceptualmente errada não pode ter efeitos positivos”, explicou. “Podem usar- se figuras para criar campanhas com algum humor, mas nunca abusar delas. Procurar notoriedade desta forma é um caso de prostituição da marca”, prosseguiu. Carlos Coelho diz que o razoável é respeitar os limites da humanidade, as suas feridas e não recorrer ao “terrorismo intelectual”. “A publicidade desse ginásio no Dubai é um caso de falsa inocência. É impossível não sentir consciência coletiva. Eles sabiam que iam ofender muita gente. As marcas podem ter opinião, desde que a assumam”, afirmou. Em Portugal, Carlos Coelho recorda- se de um caso semelhante no que diz respeito a uma marca que é “muito falada por causa da sua publicidade, mas depois não consegue impor- se no mercado”. “Há uns anos, a marca de roupas Bonsai usou a imagem de Carolina Salgado, que tinha acabado de editar um livro a acusar Pinto da Costa de vários crimes, para se lançar. Realmente foi muito falada, mas hoje alguém sabe o que é a Bonsai?
Ser falado é fácil, a questão é sê- lo de forma positiva”, disse. “O limite do humor em publicidade? É a consciência de cada um. É aí que está o travão”, rematou. Eduardo Madeira, argumentista para as Produções Fictícias, refere “o bom gosto” como fronteira. “Não há temas que se extingam do humor, mas existem aqueles mais sensíveis, com os quais é preciso trabalhar com cuidado. Esse episódio do The Circuit Factoryé triste e lamentável, porque ultrapassou o bom gosto. Mas creio que sendo um ginásio do Dubai, que é um país islâmico, até pode ser visto com alguma piada. Eles esqueceram- se de que hoje em dia, com a Internet, tudo é muito mais global e as pessoas em qualquer parte do mundo servem de reguladoras”, frisou
" (texto do Dinheiro Vivo)

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