sexta-feira, outubro 08, 2010

Banco de Portugal culpa função pública por fraca produtividade do país

Diz o Jornal I que "os trabalhadores portugueses ganham demais, tendo em conta o valor daquilo que produzem, especialmente os funcionários públicos, mostra o Banco de Portugal (BdP) num relatório ontem publicado.No boletim económico de Outono, o banco central, governado por Carlos Costa, diz que a produtividade do trabalho da economia só cresce este ano porque está a ser puxada pelo sector privado, na medida em que a destruição de empregos nas empresas encontra-se em valores históricos - há menos gente a produzir o mesmo ou mais, basicamente.Para além disso, o BdP aponta o dedo ao sector público pela explosão registada nas taxas de juro cobradas à economia, relegando para segundo plano as fragilidades estruturais do tecido produtivo.As novas previsões dizem que a economia crescerá este ano 1,2%, mas que para o próximo irá estagnar (0%). Os cálculos que estão em linha com os do Fundo Monetário Internacional (FMI), divulgados anteontem e contrariam o cenário traçado pelo governo em Julho.Mas 2011 será pior do que refere agora o BdP já que não foram incluídas no exercício de projecção as novas medidas de austeridade anunciadas pelo governo, que integrarão o Orçamento do Estado para 2011 e a próxima actualização do Programa de Estabilidade e Crescimento (a publicar em Dezembro).Assim, e tal como avisaram responsáveis do FMI, o cenário será bastante pior do que agora se assume: a economia deverá entrar novamente em recessão, a destruição de emprego deverá ser superior, os salários podem mesmo cair. As medidas do governo "não deixarão de ter um impacto contraccionista no curto prazo, ao afectarem negativamente o rendimento disponível real das famílias, bem como as perspectivas de procura, induzindo uma maior contracção do consumo e do investimento privados", aponta o banco central. O custo de não agir agora, argumenta o BdP, seria ainda maior no médio a longo prazo: o rendimento sofreria uma queda "abrupta", o desemprego dispararia, a recessão seria mais violenta. O país ficaria asfixiado no acesso ao financiamento externo necessário para suportar o consumo e o investimento.No diagnóstico que fez à situação da economia, o banco central deixa os recados mais duros ao governo e aos funcionários públicos. Diz, por exemplo, que o crescimento deste ano (1,2%) inclui um contributo negativo do factor trabalho, sendo que a produtividade aparente do trabalho do privado "deverá subir 3%" este ano. O sector público, que forma o resto da equação, será responsável pelo comportamento negativo deste indicador considerado crucial para a retoma, embora o Banco não o concretize em números.A instituição acusa as Administrações Públicas de estarem na raiz do problema na questão da crise da dívida e de terem, assim, ajudado a encurralar os bancos, dando argumentos para a subida pronunciada das taxas de juro impostas à República. "O recrudescimento do risco soberano em Portugal ao longo de 2010 - com vários períodos de diferenciação do risco particularmente aguda - acarreta profundas implicações sobre a evolução económica. A deterioração da avaliação dos investidores internacionais quanto às condições de solvabilidade das administrações públicas tem implicado um forte aumento da restritividade do acesso do sistema bancário português aos mercados internacionais de dívida por grosso", diz o relatório.Em todo o caso, o BdP já assume que o emprego público tornará a cair em 2011, acompanhando a tendência do privado. "A estagnação da actividade económica deverá implicar uma redução de 0,7% do emprego [total] em 2011. Esta evolução reflecte uma contracção do emprego no sector privado, assim como uma redução do número de efectivos da Administração Pública", calcula a instituição.Em cima da mesa está já a proposta de redução de salários acima de 1500 euros na função pública, que acumula com o congelamento generalizado verificado este ano. No privado, que representa uma parcela esmagadora da economia, o quadro é igualmente sombrio. "A queda do consumo privado estará ainda associada à evolução do rendimento disponível real, determinada por uma nova queda do emprego e uma forte desaceleração dos salários reais, assim como por um aumento da tributação directa". Este cenário do BdP tenderá a piorar pois as suas projecções ainda não incluem o último pacote de austeridade onde se decidiu pelo agravamento do IVA, congelamento dos investimentos e por outras medidas de corte na despesa e de aumento da receita pública. Ontem, vários empresários, como Américo Amorim, referiram que julgam não ser necessário cortar salários nos seus negócios. "No meu caso não está previsto cortar nos salários", afirmou".

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