quinta-feira, julho 27, 2023

Nota: Estranhas "tempestades" a leste...

Neste quadro vemos os resultados totais do JPP nas eleições assinaladas (votos e percentagem eleitoral), bem como os votos e percentagem eleitoral nos municípios do Funchal e Santa Cruz 


Sem saber o que realmente se passou na JPP - processo que culminou com a inesperada demissão de Filipe Sousa, autarca de Santa Cruz - vou tentar "adivinhar" algo mais, especulativamente. Trata-se do processo de formação das listas de candidatos a deputados regionais que não é fácil em nenhum partido, a começar pelos maiores - lembro que Albuquerque disse que mantinha a lista "escondida" para evitar amuos nas suas hostes (o mesmo fez João Jardim durante muitos anos!). No caso vertente há, da parte do JPP, impulsionado mais pelas sondagens do que por qualquer outra  convicção eleitoral ou política, a esperança de que possa recuperar os dois mandatos perdidos em 2019 para o PS e voltar a ter um GP com 5 deputados eleitos, objectivo que confesso me parece difícil, não por causa do PS mas porque essa contabilidade depende do número de partidos concorrentes e da votação de alguns deles sobretudo na aplicação do método de Hondt que nada tem a ver com percentagens de sondagens.

Presumo - porque nada foi dito - que os actuais deputados do JPP, que são deputados desde 2015, não estivessem interessados ceder a pressões e em colocar Filipe Sousa, enquanto líder partidário regional, como cabeça-de-lista, o que em circunstâncias normais nem era passível de discussão. Dado que aos olhos das pessoas estamos a falar de uma sempre perigosa "negociata" de lugares, igual à que o PSD e PS vão fazer com alguns autarcas que cumprem o seu último mandato autárquico mas que garantirão o lugar no parlamento, presumo - no quadro da tal "adivinhação" especulativa a que me aventurei, com o risco de ser desmentido, logo veremos! - que o JPP não tivesse  admitido a possibilidade da sua lista para as regionais ser encabeçada pelo líder do partido (que depois de eleito deputado continuaria autarca até final do mandato), para poder ficar com espaço de manobra e liberdade para criticar as opções do PSD e do PS. No fundo, e embora não seja uma regra com obrigatoriedade declarada, as listas de candidatos a deputados neste tipo de eleições legislativas regionais, são regra geral encabeçadas pelos líderes dos partidos

Filipe Sousa, pelo seu estatuto, pela sua experiência política - no JPP ninguém mais do que ele tem tanta tarimba política incluindo na Assembleia Regional onde chegou a ser deputado eleito pelo PS, afastado depois no quadro das substituições que provocam sempre desgaste interno e muita irritação nos partidos. No caso de Filipe Sousa afastou-o do PS.

Este quadro mostra os resultados totais do JPP na RAM nas eleições assinaladas (votos e percentagem eleitoral), bem como o total de votos nos municípios do Funchal e Santa Cruz e a percentagem destes valores face ao total eleitoral do partido na Madeira. Por exemplo, nas autárquicas de 2021 os resultados somados no Funchal e Santa Cruz corresponderam a 91,6% da votação do JPP na Madeira neste acto eleitoral.

Verdade seja dita - e Filipe Sousa sabe disso - que o autarca de Santa Cruz é mais visto pelo eleitorado, como autarca e não propriamente como líder partidário e menos ainda como deputado. Não sei se faria sentido uma mudança substancial na lista embora comece a ser discutível e nada consensual que o JPP desde 2015 "reserve" os lugares cimeiras às três mesmas pessoas. Não sei se isso é útil para o JPP em termos eleitorais ou se qualquer um deles dá votos - pessoalmente julgo que Filipe Sousa ainda é a principal mais-valia eleitoral do JPP.

Aconteça o que acontecer, seja qualquer for a verdade de toda esta estranha história, seja qual for a especulação em torno deste inesperado desfecho - e confesso que ninguém estaria à espera disto - temos "caso" para fazer parte da agenda da campanha eleitoral e que vai acumular várias acusações, mesmo que caiba só ao eleitorado definir o que quer e que escolhas vai fazer. Recordo que o JPP é sobretudo um partido local (eixo Funchal-Santa Cruz), como os resultados anteriores o mostram (ver quadros em anexo)

Finalmente é obvio que Filipe Sousa tem visto a sua imagem envolvida em demasiadas polémicas que acabam sempre por fragilizar os protagonistas, graças à perda de "munições" com os tais casos e casinhos políticos e/ou partidárias que suscitam "guerras" desnecessárias como é o caso da Comissão Nacional de Eleições e outras entidades, mormente judiciais. Acredito que nesta história estranha e impensável, que pode não ter acabado nem ter o epílogo que se presumo irreversível, o JPP pretendeu também salvaguardar a sua posição enquanto partido da oposição à governação regional evitando o desgaste causado por qualquer ricochete. (LFM)

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