Sem saber o que realmente se passou na JPP
- processo que culminou com a inesperada demissão de Filipe Sousa, autarca de
Santa Cruz - vou tentar "adivinhar" algo mais, especulativamente. Trata-se
do processo de formação das listas de candidatos a deputados regionais que não
é fácil em nenhum partido, a começar pelos maiores - lembro que Albuquerque
disse que mantinha a lista "escondida" para evitar amuos nas suas
hostes (o mesmo fez João Jardim durante muitos anos!). No caso vertente há, da
parte do JPP, impulsionado mais pelas sondagens do que por qualquer outra convicção eleitoral ou política, a esperança
de que possa recuperar os dois mandatos perdidos em 2019 para o PS e voltar a
ter um GP com 5 deputados eleitos, objectivo que confesso me parece difícil, não
por causa do PS mas porque essa contabilidade depende do número de partidos
concorrentes e da votação de alguns deles sobretudo na aplicação do método de
Hondt que nada tem a ver com percentagens de sondagens.
Presumo - porque nada foi dito - que os
actuais deputados do JPP, que são deputados desde 2015, não estivessem
interessados ceder a pressões e em colocar Filipe Sousa, enquanto líder
partidário regional, como cabeça-de-lista, o que em circunstâncias normais nem
era passível de discussão. Dado que aos olhos das pessoas estamos a falar de
uma sempre perigosa "negociata" de lugares, igual à que o PSD e PS
vão fazer com alguns autarcas que cumprem o seu último mandato autárquico mas
que garantirão o lugar no parlamento, presumo - no quadro da tal "adivinhação"
especulativa a que me aventurei, com o risco de ser desmentido, logo veremos! -
que o JPP não tivesse admitido a
possibilidade da sua lista para as regionais ser encabeçada pelo líder do partido
(que depois de eleito deputado continuaria autarca até final do mandato), para
poder ficar com espaço de manobra e liberdade para criticar as opções do PSD e
do PS. No fundo, e embora não seja uma regra com obrigatoriedade declarada, as
listas de candidatos a deputados neste tipo de eleições legislativas regionais,
são regra geral encabeçadas pelos líderes dos partidos
Filipe Sousa, pelo seu estatuto, pela sua
experiência política - no JPP ninguém mais do que ele tem tanta tarimba
política incluindo na Assembleia Regional onde chegou a ser deputado eleito
pelo PS, afastado depois no quadro das substituições que provocam sempre
desgaste interno e muita irritação nos partidos. No caso de Filipe Sousa
afastou-o do PS.
Verdade seja dita - e Filipe Sousa sabe
disso - que o autarca de Santa Cruz é mais visto pelo eleitorado, como autarca
e não propriamente como líder partidário e menos ainda como deputado. Não sei
se faria sentido uma mudança substancial na lista embora comece a ser
discutível e nada consensual que o JPP desde 2015 "reserve" os lugares
cimeiras às três mesmas pessoas. Não sei se isso é útil para o JPP em termos
eleitorais ou se qualquer um deles dá votos - pessoalmente julgo que Filipe
Sousa ainda é a principal mais-valia eleitoral do JPP.
Aconteça o que acontecer, seja qualquer for
a verdade de toda esta estranha história, seja qual for a especulação em torno
deste inesperado desfecho - e confesso que ninguém estaria à espera disto - temos
"caso" para fazer parte da agenda da campanha eleitoral e que vai
acumular várias acusações, mesmo que caiba só ao eleitorado definir o que quer
e que escolhas vai fazer. Recordo que o JPP é sobretudo um partido local (eixo Funchal-Santa Cruz), como
os resultados anteriores o mostram (ver quadros em anexo)
Finalmente é obvio que Filipe Sousa tem
visto a sua imagem envolvida em demasiadas polémicas que acabam sempre por
fragilizar os protagonistas, graças à perda de "munições" com os tais
casos e casinhos políticos e/ou partidárias que suscitam "guerras"
desnecessárias como é o caso da Comissão Nacional de Eleições e outras
entidades, mormente judiciais. Acredito que nesta história estranha e
impensável, que pode não ter acabado nem ter o epílogo que se presumo
irreversível, o JPP pretendeu também salvaguardar a sua posição enquanto
partido da oposição à governação regional evitando o desgaste causado por
qualquer ricochete. (LFM)
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