segunda-feira, novembro 06, 2017

Padre Giselo: 1000% de solidariedade e que a paz esteja consigo

A igreja madeirense confrontou-se com um caso - se é que o podemos chamar assim - envolvendo o pároco do Monte, o padre Giselo (na foto de Rui  Marote, Funchal Notícias). Não conheço o sacerdote, acho que nunca falei com ele na minha vida. Mas não posso deixar de manifestar a minha total solidariedade e incondicional apoio ao padre. Pela coragem que teve - e porventura se não tivesse carácter ter-lhe-ia sido mais fácil optar por soluções menos problemáticas para ele - e pela dignidade demonstrada. Ao contrário do que aconteceu durante anos, décadas, na Igreja portuguesa e mesmo regional, com casos habilmente camuflados em esquemas familiares que apenas ocultaram a realidade. O padre Giselo deu também a esses um sinal. Não apenas um sinal dos tempos - porque a Igreja continua com uma enorme dificuldade em entender que os tempos mudaram (e mudam) rapidamente, e que ela própria, criação dos homens, ou se adapta ou é ultrapassada e riscada do mapa devido ao seu consevadorismo patético - mas um sinal de que entramos numa nova era também para a religião e as igrejas e para-igrejas que a reboque dela existem
O padre Giselo realizou um trabalho por todos aplaudido, sempre foi apoiado pelos paroquianos, mesmo que porventura alguns possam ter ficado surpreendidos. Os jovens são os jovens. As coisas muitas vezes acontecem, fogem ao nosso controlo, mas no caso do padre Ggselo não acredito que ele seja menos padre ou que se considere menos ao serviço de uma religião, de um Deus ou de uma teologia, só porque decidiu, corajosamente, assumir a paternidade de uma criança nascida em Agosto e que resultou, segudo noticiado, de um relacionamento mais intenso com uma antiga colega de universidade.
Eu olho para o padre Giselo e vejo um padre, mas antes de tudo vejo um homem e mais do que tudo vejo um jovem que mostra - e que porventura constitui a prova disso - que a Igreja deve mudar e deixar-se de regras que de divino nada têm, já que as "leis", as inibições, as proibições, e tudo o mais, são resultado de imposições dos homens, ao longo dos séculos e não por legado divino seja de quem for e a quem for.
Eu próprio adaptei-me muito, com o tempo, aos novos tempos, e tenho hoje dificuldade em aceitar muita coisa que no passado me foi sendo repetidamente imposta como dogmas. O problema é que quando olhamos para esse percurso, para tudo o que envolveu, por exemplo, a elaboração a Bíblia, para as distorções, adaptações, deturpações, etc que aconteceram ao longo dos anos, concluímos que, sem colocar em causa a fé de cada um e a crença que, mais ou menos, todos temos, de que haverá alguma coisa de inexplicável algures, a Igreja é sobretudo uma criação dos homens para servir determinados objectivos concretos. Estamos a falar da mesma igreja, melhor dizendo, da mesma organização dos tempos da da inquisição, das selvajarias históricas na colonização, dos Bórgias no Vaticano, da corrupção financeira, das relações com a loja maçónica P2, dos escândalos da pedofilia, da lavagem de dinheiro, etc. Estamos a falar de uma organização de homens, é certo, com tudo o que isso, por si só, de mais perverso acarreta.
Cabe aos homens a obrigação, diria o dever, de entenderem o padre Giselo e em vez de andarem a apontar-lhe o dedo acusador, perceber que ele próprio - e a sua colega de universidade - deram-nos uma lição de vida e uma tremenda chapada. 
Parabéns padre Giselo, não ceda, mantenha-se firme onde deve estar, empenhado da mesma forma numa causa que já lhe roubou muitos anos de vida, porventura os seus melhores anos de vida, e que não tem autoridade, nenhuma autoridade, para o julgar ou punir. É caso para dizer, sem generalizar obviamente, que no seio da estrutura dirigente da Igreja que porventura é a primeira a querer sacrificar o padre na praça pública, quem não tiver telhados de vidro que atire a primeira pedra. Um abraço (LFM)

Nota: li que o assunto do padre Giselo foi colocado ao Vaticano? Ao Vaticano? Ressalvando o Papa Chico, estamos a falar do mesmo Vaticano que é um antro da intriga, do deboche, da corrupção, da pedofilia, da patifaria e de tanta coisa mais que apenas determinados procedimentos têm conseguido manter longe da opinião pública? É este Vaticano que vai julgar o padre Giselo? Com  que autoridade? Com que moral?

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