James Curran é professor na “University of
London” e em declarações recentes em Lisboa, deu como exemplo a rádio e a
televisão para defender que a intervenção estatal traz benefícios quando surge
uma nova tecnologia, sustentando que o público tem o direito a conhecer
conflitos de interesse relacionados com os donos dos meios de comunicação.
“No Reino Unido, nos últimos anos, tem havido
uma redução de jornalistas empregados, de forma semelhante ao que acontece nos
EUA. A consequência disso é que a imprensa está mais dependente das relações
públicas e do jornalismo do corta e cola. A Internet devia facilitar o acesso a
fontes de informação diversificada, mas, na prática, a pressão para os
jornalistas produzirem mais, e com menos pessoas, aumenta a dependência de
fontes já conhecidas. A qualidade do jornalismo está a reduzir-se em
consequência do desvio da publicidade para sites, o que inclui sites que não
são jornalismo”, disse Curran na sua recente passagem por Lisboa.
Segundo este professor universitário, “o que
não se concretizou foi a esperança de que os “cidadãos jornalistas” iriam
conseguir uma horda de leitores com a internet. Os maiores sites na
Grã-Bretanha são todos controlados por instituições de meios de comunicação
social. E encontramos o mesmo padrão noutros países”.
Interrogado sobre se é possível perspectiva que
partidos políticos e grandes empresas possam chegar diretamente ao público,
dispensando os jornalistas, James Curran lembra que as “instituições estabelecidas,
os jornais e as televisões, dominam o consumo de notícias na Internet. Num
estudo que fizemos em dez países, verificámos que as fontes de informação
usadas por sites eram muito similares às usadas por jornais e televisões. O
Estado era a mais usada. A oposição política também era muito importante. As
organizações da sociedade civil eram muito pouco importantes”.
Curran lembrou que os partidos estão em crise,
pelo que “a ideia de que vão chegar a grandes audiências por meios (e métodos)
próprios, contraria os factos. As filiações partidárias estão em queda, o
número de pessoas a votar também”. O docente falou em Lisboa de “um processo de
declínio progressivo em que menos jornalistas produziriam pior jornalismo e
abarcavam menos dimensões [da sociedade]. Muitos jornais fechariam e haveria
uma maior concentração empresarial de jornais. Acho que alguns poderiam
sobreviver através de financiamento vindo de pessoas ricas”.
Neste contexto, interrogado sobre se o Estado
deve intervir no sector, o professor universitário e director do “Goldsmith Media Research Centre” de
Londres, afirmou: “Depende do que vier a acontecer. Se o Estado não intervier, o
financiamento pode acabar por vir de oligarcas ou de grandes empresas,
funcionando [os jornais] como um departamento de relações públicas. Pensemos no
serviço público de rádio e televisão. Na Grã Bretanha, houve uma luta terrível
sobre se a BBC deveria poder dar notícias, porque os jornais diziam que era
concorrência desleal (…) Há uma estranha noção de que uma subsidiação privada
permite independência, enquanto uma subsidiação pública não. É simplista.
Subsídios públicos podem reduzir a dependência de oligarcas”. Numa
abordagem às “prioridades” do jornalismo, a braços com uma crise de
credibilidade, James Curran admite que Portugal poderá confrontar-se com um “forte debate
político na sociedade civil o que influencia o jornalismo. A tendência na
Grã-Bretanha tem sido para dar mais atenção ao jornalismo de celebridades e ao
entretenimento. As pessoas leem avidamente histórias sobre as vidas de figuras
públicas, mas isso não travou a queda livre da circulação. A resposta para a
crise económica [dos media] não tem sido mais esse jornalismo independente e de
investigação. Tem sido mais fofocas”.
Segundo o diretor
do “Goldsmith Media Research Centre”, “a transparência é
desejável. O público deve saber se existem conflitos de interesse. Mas a
transparência não é suficiente. Deve haver diretores de jornais independentes,
alguns deles selecionados pela redação. É a melhor garantia. Quando se é dono
de um jornal, tem-se um cartão-de-visita para qualquer área da sociedade,
tem-se influência que não se teria de outra forma”. Pretendi com este texto dar a conhecer a
opinião de quem é reconhecidamente um especialista de comunicação e um profundo
conhecedor do mundo dos meios de comunicação social, capaz por isso de fazer
uma abordagem séria, distanciada, livre de preconceitos ou de pressões – livre também
de sabedorias adquiridas não se sabe onde e que demonstram quão é fácil na política
abordar o tema sempre aliciante da comunicação social, mesmo quando declaradamente
não percebem patavina do assunto" (LFM/Blog Madeira Agora)
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