Relativamente ao debate
sobre o futuro do JM existem duas questões distintas entre si e que não se
podem confundir: em primeiro lugar, uma de natureza político-governativa, mais
institucional se quiserem, que é determinante para qualquer desfecho deste "dossier",
dado que tem a ver com a tutela. A posição do Governo Regional sobre o futuro
do JM é de todos conhecida, até porque sempre foi afirmado por Albuquerque – e
a oposição pode na sua histeria frenética dizer o que bem entender que as
pessoas sabem que a realidade é esta – que nenhuma decisão seria tomada de
forma abrupta, pondo em causa a viabilidade da empresa junto de potenciais
interessados privados. Mas sem questionar a sua posição de princípio, a de
retirar o JM da alçada das empresas públicas. Em segundo lugar existe uma outra
questão de fundo, a da empresa e do mercado que temos que abordar neste
contexto.
Algumas ideias
preliminares que gostaria de aqui deixar:
a) o futuro da imprensa
regional, tal como ela se apresenta dificilmente continuará a ser o que hoje é.
Duvido que esta realidade complexa se altere a tempo de evitar estragos
maiores;
b) Recordo, no caso da
Madeira, que todos os projectos privados implementados nos últimos anos, alguns
dos quais associados a empresas que operam no sector, falharam todos. Poderia
lembrar os casos do Notícias da Madeira, nas suas duas versões empresariais, e
do gratuito Diário Cidade, propriedade de uma gráfica regional, incluindo a sua
versão digital recentemente desactivada;
c) A dimensão do mercado
regional, quer em termos de potenciais leitores/compradores de jornais – com
importância relevante nas tiragens – quer em termos publicitários/económicos,
fundamentais na garantia de recursos financeiros essenciais à sobrevivência e
viabilidade das empresas de comunicação social, é substancialmente limitada,
parecendo-me que isso tem sido perigosamente ignorado ou desvalorizado nesta
discussão.
Durante a vigência do
anterior governo, era voz corrente que o modelo adoptado no JM, sobretudo em
termos editoriais e de tutela, perduraria enquanto Alberto João Jardim fosse o
Presidente do Governo. Havia uma clara opção pessoal e política do anterior
chefe do governo relativamente ao jornal. Mas é sabido também que vários membros
do governo regional de então sustentavam ser preciso encontrar uma solução que
libertasse o Orçamento Regional das responsabilidades que este tinha com aquela
empresa maioritariamente de capitais públicos. Outros havia que, por terem
alternativas – dispondo de facilidade de divulgação de notícias pessoais
mediaticamente favoráveis – advogavam o encerramento progressivo da empresa,
antecedido de negociações prévias com a Diocese, parceiro que desde sempre
revelou ao sócio maioritário (Região) não ter condições financeiras para
assumir o ónus decorrente de uma devolução integral do periódico à Igreja.
Lembro que a “entrada” da
região para o capital social ocorreu nos anos oitenta, devido à acumulação de
uma dívida significativa da empresa, quer às Finanças, quer à Segurança Social.
A Diocese manteve uma pequena percentagem do capital social e diversas
prerrogativas sobretudo editoriais
Poder-se-ia colocar um problema
adicional: o DN adquiriu à Grafimadeira uma estrutura de impressão alegadamente
só viável com a utilização da rotativa por pelo menos dois jornais. Parece
haver estudos de viabilidade que demonstram que a existência de apenas um
utilizador daquele equipamento poderia determinar - salvo se os prejuízos fossem
continuamente compensados por entregas em dinheiro pelos proprietários - uma possível (?)
falência da referida gráfica por falta de rentabilidade. O que não deixaria de ser complicado. Neste
momento são ali impressos além do DN e do JM também a edição diária de "A
Bola"
Tenho para mim que o DN
pretenderá essencialmente que o JM passe a ser pago (preço de capa) na expectativa
de que uma redução (previsível) da sua tiragem possa neutralizar um dos atributos
que cativam potenciais clientes publicitários. Porventura a concorrência directa
do JM pretenderá igualmente que sejam abandonadas práticas inseridas no âmbito
do que se designa de “dumping” comercial, caracterizado neste caso concreto pela prática de preços
(ou campanhas específicas) de tabelas publicitárias inferiores aos praticados
pela concorrência, situação que naturalmente coloca aos potenciais anunciantes a inevitável opção pelo jornal que conjuga mais tiragem e menor custo publicitário. Penso
mesmo que estes dois itens serão aqueles que mais interessam ao DN, não
propriamente o encerramento do JM.
A este propósito,
falaram-me de um estudo realizado recentemente destinado a apurar quais as
preferências dos leitores da imprensa e as rubricas mais procuradas nas
edições. Nos primeiros lugares apareciam a necrologia, os horóscopos e o
desporto.
Aceito que se
cometeram erros no passado recente que em vez de terem criado condições
futuras para o jornal e terem constituído mais-valias editoriais e empresariais, puseram em causa um projecto jornalístico que poderá estar
condenado, não propriamente por causa da conhecida posição política do novo
Governo Regional sobre esta matéria, mas pelos riscos de quererem andar demasiado depressa (embora o timing agora revelado me pareça o mais adequado), pressionados pelas pressões externas e interessadas no acelerar de decisões. Acresce que não considero existirem ainda
condições de mercado para uma solução imediata que garanta a privatização pacífica
do JM, sem grandes estragos sociais e empresariais, privatização essa que dificilmente terá sucesso (salvo se o processo for semelhante ao da TAP, em que a ideia é vender ao desbarato) sem que se possa garantir um produto aliciante.
Procura de soluções
Ainda no quadro da
procura de uma solução para o JM, parece-me importante lembrar que várias
iniciativas estiveram em cima da mesa, que se realizaram inclusivamente
reuniões de trabalho tendo em vista um desfecho positivo, mas tudo isso acabou
por ser inviabilizado por razões exógenas a este processo.
Lembro a propósito uma
série de contactos e reuniões exploratórias que apostavam na eventual fusão
empresarial entre o JM e o DN, mantendo os dois jornais uma estrutura editorial
autónoma e complementar, mas com uma administração centralizada. Neste quadro o
apoio público ascenderia, segundo as previsões então feitas, a 2 a 2,5 milhões
de euros anuais.
Uma outra iniciativa terá
sido conduzida por um conhecido empresário, muito importante para a Madeira
durante muitos anos devido à sua influência e contactos, que chegou a ter
desenhada uma operação de compra do JM por parte de privados, numa solução em
que o próprio, julgo que era assim, seria parte, atraindo outros parceiros, um
dos quais ligado a um dos mais importantes grupos empresariais nacionais de
comunicação social. A doença e i falecimento do referido empresário terá
inviabilizado esta solução que girava muito em torno da sua pessoa, das
relações de amizades pessoais e dos recursos próprios que tinha ao seu dispor.
Embora de forma muito ténue sei que esta iniciativa chegou a ser conhecida em
vários sectores.
Sem comentários:
Enviar um comentário