“O novo emprego está nas engenharias. A Visabeira, a
Bosch, a Embraer e a Mota-Engil andam à procura de engenheiros. Está na saúde -
o grupo Mello, o grupo Trofa e a Bial precisam de médicos, enfermeiros e
delegados de informação médica. Está nas novas tecnologias - a Microsoft quer
mais 50 profissionais para a área de computação em nuvem. Está no imobiliário -
a Remax, a Era e a Century 21 estão a contratar agentes comerciais. Está no
turismo - o Club Med e o Penha Longa Resort são apenas dois exemplos de
empresas que estão a alargar o leque de colaboradores. Está nas indústrias
tradicionais como o calçado e a metalomecânica. O novo emprego está também nos
serviços - da banca à restauração, do Banco Best e do BNP Paribas à Padaria
Portuguesa, que quer encontrar 300 novos trabalhadores.
A taxa de desemprego continua nos dois dígitos
(13,5%). São 698 mil pessoas a viver diariamente o drama da falta de TRABALHO.
?E seriam muito mais, se a emigração não tivesse dado uma ajuda aos números da
crise. No entanto, é preciso dizer que esta realidade já foi bem mais negra. Há
dois anos, a taxa passava os 17% e o assunto do dia eram as falências, os
salários em atraso, o desemprego.
O Guia do Mercado Laboral da consultora Hays, um
inquérito a mais de 700 empregadores, mostra que 70% destes tencionam contratar
este ano (em 2011, apenas 33% manifestava a mesma intenção). E basta seguir as
notícias sobre o MERCADO DE TRABALHO para perceber que alguma coisa está a
mudar.
Porque razão a taxa de desemprego não desce mais?
"Sentimos que estes primeiros meses de 2015 estão a manter o ritmo tímido
do segundo semestre de 2014, evidenciando o desequilibro de competências entre
as pessoas disponíveis e as necessidades das empresas. Quer isto dizer que
continuamos a ter OPORTUNIDADES com poucos candidatos e que temos oportunidades
para outras áreas onde o fluxo de currículos recebido é imenso", explica
José Miguel Leonardo, diretor-geral da Randstad Portugal. Ou seja, a formação
dos portugueses continua sem encaixar naquilo que o mercado procura. As
engenharias e as tecnologias são a face mais visível desta lacuna.
Do you speak english?
"Olhando para as empresas e para os nossos
clientes, e se nos focarmos no recrutamento especializado, identificamos as
seguintes funções entre as mais solicitadas: Account Manager/Business
Development (área de Vendas e Marketing), Accountant (área de Finanças e
Banca), Engenheiro de Software e de Telecomunicações (área das Tecnologias) e
Engenheiro Civil (área de Engenharia e Indústria)", enumera José Miguel
Leonardo. E continua: "No TRABALHOtemporário as profissões mais procuradas
estão ligadas à hotelaria (empregado de mesa e limpezas), administrativos de
Back Office de vários setores tais como banca, seguros, consultoras e energia e
ainda as ligadas a áreas financeiras com foco no reporting e análise de indicadores
de negócio. Houve também uma procura em profissões ligadas ao retalho tais como
assistente de loja e promoção, bem como operadores para a indústria e
logística".
Uma área em grande expansão no nosso País, bem visível
em qualquer pesquisa pelos SITES DE PROCURA DE EMPREGO, é a dos call centers.
Não é dos empregos mais atraentes. Salários baixos (ver infografia), horários
flexíveis e por turnos, precariedade e a pressão constante pelos resultados
deram má fama aos call centers. Mas aí, EMPREGO não falta. "Estamos
atualmente com 300 vagas para preencher para um projeto em Lisboa e cerca de
250 para a zona norte, onde temos até a possibilidade de trabalho remoto. Neste
último caso existem exigências específicas quanto às línguas
estrangeiras", refere o responsável da Randstad.
Já pouco se faz sem se saber falar em bom inglês, pelo
menos. Para ser consultor imobiliário não é obrigatório falar outras línguas,
mas convém. Tendo em conta que o nosso mercado imobiliário é grandemente
dinamizado por compradores estrangeiros, o domínio do inglês fica sempre bem.
"O contexto económico claramente é mais
favorável", afirma Rui Torgal, diretor nacional de operações da Era,
agência que pretende contratar 450 colaboradores. ?"O aumento do crédito à
habitação, a procura do mercado internacional e o surgimento de investidores
nacionais têm vindo a impulsionar positivamente o mercado. A confiança está
reforçada e prevemos um crescimento de faturação da rede ERA de 20% e a
abertura de 25 novas lojas", continua.
A garra parece ter regressado a este setor, que esteve
bastante deprimido nos anos fortes da crise. Tanto a Era como a Remax, que
também está a contratar, afirmam ter tido em 2014 o melhor ano de sempre.
?"A faturação da ERA cresceu 29% no ano passado, em relação ao período
homólogo, o que corresponde a 18 mil transações. ?A marca superou a fasquia dos
mil milhões de euros em volumes de vendas. Este foi o melhor ano de sempre em
termos de faturação média por loja ", garante Rui Torgal.
Assim, a empresa procura pessoas "motivadas e
capazes de TRABALHAR por objetivos". Neste setor, o salário depende das
comissões. É preciso saber vender... ou então não ganha para pagar as contas.
Tecnologia de ponta
Mas a procura estende-se, também, à mão de obra mais
qualificada. É o caso das engenharias, das tecnologias de informação e de
outros profissionais especializados. A Bosch é um bom exemplo deste novo
dinamismo que o mercado do EMPREGO está a viver nos últimos meses. Apesar de
contar com mais de 3 mil trabalhadores em Portugal, a empresa prevê reforçar os
seus quadros em 10% ao longo dos próximos dois anos.
Só para a unidade de Braga, onde desenvolve sistemas
multimedia para automóveis, "irão ser contratados mais 120 novos
funcionários", garantiu João José Ferreira, diretor de recursos humanos da
Bosch.
Outra das grandes APOSTAS desta multinacional é a área
de investigação e desenvolvimento, departamento que conta com mais de 250
funcionários especializados. "Queremos duplicar este número até 2020, o
que implica a contratação de 60 a 70 novos colaboradores nos próximos dois
anos", acrescenta. Sendo uma atividade altamente especializada, estas
vagas serão preenchidas com engenheiros e profissionais das tecnologias de
informação. "Uma parte será recrutada junto das universidades, mas necessitamos
de pessoas qualificadas que teremos de ir buscar ao mercado", concluiu
João José Ferreira.
O gigante Microsoft, por sua vez, vai abrir 50 VAGAS
DE TRABALHO para o centro de competência de computação em nuvem e escalonamento
em rede. Em outubro do ano passado, a empresa assinou um protocolo com o AICEP
que previa a expansão deste estrutura em Portugal. O acordo previa que a
Microsoft alargasse o número de trabalhadores dos 140 já existentes para 200.
No entanto, este número está praticamente atingido e a Microsoft pretende
atingir um total de 250 funcionários só para este centro de competência.
No que respeita a tecnologia de ponta, a construtora
de aviões Embraer quer aumentar a força de TRABALHO nas duas fábricas de Évora
em mais cerca de 100 funcionários. Uma parte das novas contratações será para
reforçar os quadros do centro de engenharia e tecnologia. Esta unidade foi
criada no ano passado e desenvolve peças e estruturas em materiais compósitos.
Com as mãos na massa
Depois de 10 anos a TRABALHAR na Jerónimo Martins,
dona do Pingo Doce, Nuno Carvalho tinha 32 anos quando decidiu criar o seu
próprio EMPREGO. Profissão: CEO. Ele é o fundador e presidente da Padaria
Portuguesa, uma rede de padarias de bairro na Grande Lisboa, que emprega atualmente
mais de 500 pessoas. A primeira Padaria nasceu em 2010, na Avenida João XXI.
Hoje a empresa tem 26 lojas, fatura 14,5 milhões de euros e quer contratar mais
300 colaboradores.
"Estamos a executar um plano de negócios que
prevê a abertura de um total de 40 lojas até ao final de 2016, na Grande
Lisboa", diz Nuno Carvalho. A ideia é elevar a faturação aos 18 milhões de
euros, este ano. Além das lojas, existe o projeto de uma nova fábrica, que
deverá estar a operar em 2016.
Numa empresa destas, em fase de grande crescimento,
são precisos vários tipos de profissionais. Procuram-se chefes de turno,
auxiliares de fabrico de padaria e pastelaria, supervisor de loja, gerentes,
subgerentes e operadores de balcão. A Padaria até lançou uma campanha de
recrutamento, apostada em mostrar que nestas profissões se podem desenvolver
carreiras e não apenas "soluções de EMPREGO de curto prazo".
Na hotelaria, como na restauração, o emprego é muitas
vezes visto assim, como algo transitório, para remediar. No entanto, é melhor começar
a olhar para este setor com outros olhos.
"A hotelaria e o turismo pesam 15% nas nossas
exportações. São 10 mil milhões de euros por ano. Em 2015 está prevista a
abertura de 50 a 60 novas unidades hoteleiras, cerca de 22 em Lisboa e 14 no
Porto e Norte", refere Luís Veiga, presidente da AHP - Hotelaria de
Portugal.
A crise foi dura com este setor, com muitas falências
e encerramentos, mas agora é tempo de recuperação,. Em 2014, a taxa de ocupação
chegou aos 62,7% e o preço médio, por quarto, aos 68,9 euros. Os salários
dependem destes números. E se há zonas do País onde a sazonalidade do turismo
desemboca necessariamente em emprego sazonal e precário (como no Algarve, nos
Açores ou no Douro), outras áreas há em que a estabilidade é conseguida, caso de
Lisboa, que recebe turistas uniformemente todo o ano.
E há emprego? "Nas áreas do marketing digital, e
das comidas e bebidas (empregados de mesa, de cozinha e chefes) há algumas
dificuldades em encontrar profissionais. Esta onda da emigração levou muitos jovens
ligados à hotelaria", afirma Luís Veiga. O TRABALHO aqui é cada vez mais
especializado e qualificado. É impensável ter um rececionista que não fale
inglês e francês.
Trabalhar com o luxo
O Penha Longa, um resort de luxo de 220 hectares, em
Sintra, está a contratar cozinheiros, ajudantes de cozinha, supervisores de
restaurante e copa, supervisores e instrutores de golfe, profissionais para o
catering e para o departamento financeiro, etc. A remuneração vai do salário
mínimo aos 1 500 euros. O ano passado, com a receita a crescer acima dos 10%,
foram contratadas duas dezenas de pessoas. Este ano continuam a procurar gente.
"O mercado hoteleiro e o turismo em geral mostram
sinais evidentes de crescimento no nosso País e isso foi reflexo nos dois últimos anos de resultados
no Penha Longa Resort. Igualmente, a The Ritz-Carlton Company continua a
crescer exponencialmente em novos mercados com aberturas de novas unidades,
permitindo aos nossos colaboradores crescerem e adquirirem alguma mobilidade
dentro da companhia e experimentarem novos desafios no exterior. Estes dois
fatores permitiram a abertura de novas vagas DE EMPREGO em várias áreas de
negócio", explica David Martinez, diretor do Penha Longa.
Também o Club Med está a recrutar. Esta empresa
francesa, dona de resorts de luxo em todo o mundo, quer contratar portugueses
tanto para as suas unidades no nosso País como para o estrangeiro. Precisa de
trabalhadores para a cozinha e bar, de massagistas e esteticistas, de
educadores de infância, de desportistas e de rececionistas. Pede um diploma
compatível com a função e oferece 650 euros mensais mais o alojamento, a
alimentação e as viagens para o local de TRABALHO. "Todos os anos
contratamos cerca de 5 mil colaboradores em todo o mundo", diz Antonio
Minichini, diretor de recrutamento e formação para o Sul da Europa.
Regresso à tradição
Um dos setores que mais prevê investir nos próximos
anos é o do calçado. Com as exportações a atingirem 1,9 mil milhões de euros em
2014, o que representa um crescimento de 7,7% face ao ano anterior, as empresas
querem aumentar a capacidade de produção ou criar novas unidades fabris, o que
se traduz numa necessidade de mão de obra. A Macosmi, por exemplo, vai investir
2,5 milhões de euros nas fábricas de São Martinho do Campo e de Castelo de
Paiva, o que irá criar mais 70 postos de TRABALHO.
Também o setor da indústria metalúrgica e
metalomecânica passa por um período áureo. As exportações do setor estão a
bater recordes ao longo dos últimos cinco anos, tendo atingido os 13,8 mil milhões
de euros em 2014. Ao todo, este setor engloba 15 mil empresas
em Portugal que dão trabalho a mais de 200 mil pessoas. Ao longo deste ano,
esta indústria deverá criar mais de 2 mil novos EMPREGOS qualificados. ?"O
número de trabalhadores no setor deverá crescer cerca de 1% ao longo deste
ano", diz à VISÃO, Rafael Campos Pereira, vice-presidente da AIMMAP, a
associação que representa as empresas da metalurgia e da metalomecânica em
Portugal.
O dirigente associativo destaca ainda que, ao longo
dos últimos anos, a indústria "tem
vindo a assistir a uma verdadeira revolução na estrutura laboral", com a
entrada de quadros cada vez mais qualificados, de forma a garantir que os
produtos se adaptam às necessidades dos mercados cada vez mais exigentes em termos
de qualidade..
Entre os investimentos previstos, um dos destaques vai
para a empresa francesa Eurocast que vai investir cerca de 24 milhões de euros
na construção de uma unidade de produção de fundição injetada de alumínio para
componentes automóveis. A nova fábrica será construída em Arcos de Valdevez e
irá criar 150 postos de TRABALHO diretos. As inúmeras PROPOSTAS DE TRABALHO são insuficientes
para acabar com a elevada taxa de desemprego. Mas grão a grão...
Novas contratações no setor público
A carreira no
Estado - com os seus salários cortados e a sombra do despedimento ?a pairar em
forma de requalificação - já não é tão atrativa como foi no passado. ?O Governo
mantém a intenção de reduzir o número de funcionários públicos, mas há áreas
específicas onde faltam profissionais. E o recrutamento está aberto. Até dia 24
de fevereiro, por exemplo, o INEM aceita candidaturas para preencher 85 postos
para técnico de ambulância de emergência. A função passa pela condução das
ambulâncias e o auxílio aos médicos na prestação de socorro. O INEM pede que os
candidatos tenham o 12.º ano de escolaridade, robustez física e psíquica, as
vacinas em dia e carta de condução. Pode candidatar-se através do site www.inem.pt. Além disso, em breve, o INEM vai
lançar um novo concurso para contratar 70 profissionais para atendimento das
chamadas de emergência. Onde também vai abrir um concurso é na Polícia
Judiciária. Recentemente, a ministra da Justiça anunciou a abertura de 120
vagas para inspetor estagiário, o primeiro patamar na carreira de investigação
criminal. Mas enquanto a PJ pede uma licenciatura, a PSP apenas exige o 12.º
ano. Em 2015, garantiu a ministra da Administração Interna, serão recrutados
300 novos agentes para a Polícia de Segurança Pública. Boas notícias também
para os enfermeiros, com o anúncio da contratação de 2 000 profissionais para o
Serviço Nacional de Saúde. Há ainda espaço para contratar 819 médicos. Depois
tem havido concursos pontuais nos vários setores da administração pública no
site Bolsa de emprego Público (www.bep.gov.pt
). (texto dos jornalistas da Visão, Alexandra Correia e Paulo Santos, publicado
na VISÃO 1146, de 19 de fevereiro, com a devida vénia)