Já
todos perceberam que esta campanha eleitoral, e consequentemente estas
eleições, comportam algumas curiosidades e/ou duvidas que procurarei enumerar:
- qual a capacidade de "resistência" do
PSD da Madeira, pós-João Jardim e qual a capacidade em recuperar pelo menos uma
parte importante dos cerca de 15 mil votos perdidos nas regionais de 2011? O
PSD obteve nas regionais de 2011 o seu segundo pior resultado de sempre em
termos de total de votos (71.556 eleitores, que apenas não foi inferior aos
63.963 votos de 1976, as primeiras eleições regionais!) e o pior em percentagem
(48,6% em 2011, tendo como valor mais próximo os 60,4% das primeiras eleições
em 1976).
- qual a dimensão da eficácia da coligação à esquerda, liderada por Vítor
Freitas, cujos resultados, segundo indiciam as sondagens, podem ficar aquém das
expetativas e, portanto, abrir uma crise política sobretudo no PS? Os
socialistas depois da copiosa derrota sofrida em 2007, graças à polémica sobre
a Lei de Finanças Regionais imposta por Sócrates, em 2011 não recuperaram e
voltaram a ser penalizados (menos 4.7545 votos que em 2007) já que entre o
melhor resultado nas regionais (2004, 37.751 votos) e pior (2011, 16.945 votos)
os socialistas perderam mais de 20 mil votos. Penso que Vítor Freitas, perante
estes números, recusou concorrer isolado a estas regionais por temer que o PS
local pudesse ser ainda mais penalizado e fragilizado, optando (Freitas) por
refugiar-se sob a capa de uma coligação forçada que, em caso de contrariedade
eleitoral, permitirá pelo menos que as culpas sejam partilhadas por 4 partidos
e que não sejam apenas os socialistas a levar "pancada". Mesmo assim
veremos o que vai suceder a 29 de Março.
- qual a capacidade de resistência do CDS em
manter-se como 2ª força política regional, dado que sendo previsível a perda de
eleitorado para o PSD e para a abstenção (influência da governação nacional), a
verdade é que a coligação liderada pelo PS, ao desfazer-se depois das eleições,
nos termos da lei, pode não impedis que o CDS continue a ser o 2º partido
parlamentar, previsivelmente com 5/6 deputados. O CDS tem a particularidade de
tudo fazer para repetir um discurso que procura vender aos eleitores a ideia de
que não tem co-responsabilidades pelo impacto negativo que a governação
nacional teve - consequências graves, diga-se – também na Madeira. Além disso
não esconde que o objetivo principal é impedir que o PSD tenha a maioria
absoluta, para que o CDS seja, depois, o parceiro eleito pelos
social-democratas para garantir essa estabilidade política e parlamentar. Nas
regionais de 2011 o CDS somou mais 18.462 votos (que lhe deram os atuais 9
deputados), ao mesmo tempo que tenta minimizar o facto de que, sem contar então
com o impacto da governação nacional da coligação Passos-CDS, beneficiou
claramente do facto do PS ter perdido 18.783 votos em 2011.
- qual o sucesso eleitoral da estreante JPP, qual a sua
capacidade de preservação do seu eleitorado (cerca de 14 mil votos nas
autárquicas de 2013, parte dos quais eleitores do PSD que mudaram o sentido e
voto por razões que não vou aqui desenvolver neste momento) a que se junta a
esperança dos seus dirigentes de que este partido possa captar eleitores do PS
que, não se revendo na coligação forçada por Freitas e recusando votar à
esquerda do PS, em vez de optarem pela abstenção podem ter na JPP um
"porto de abrigo". Lembro que o agora partido JPP obteve nas
autárquicas de 2013 em Santa cruz quase 14 mil votos. A dúvida reside em
quantificar quantos destes votos serão mantidos, sabendo-se que há partidos,
concretamente o CDS e PS que internamente criticam o facto de haver pessoas das
suas fileiras que estão pouco empenhadas nesta campanha eleitoral contrastando
com o que fizeram em 2013, nas autárquicas. Também não é por acaso que PTP, PND
e PCP tenham vindo a intensificar as críticas ao JPP, dado que já perceberam
que este novo partido vai sobretudo partilhar eleitorado que é
"pertença" dos demais partidos da oposição. Admito que o JPP possa
dar alguma "dentada" aos eleitores do PSD, mas será numa dimensão
substancialmente inferior se comparada com o quer poderá ocorrer com os
partidos subscritores da coligação autárquica de 2013. Vou até mais longe na
minha análise: a eleição de um deputado pelo PND, o regresso do Bloco à
Assembleia e a eventualidade do PCP recuperar o grupo parlamentar podem
depender (e muito) do que acontecer neste concelho. Por isso, esta será para
mim uma das curiosidades destas eleições.
- qual a capacidade de resistência do PCP que no quadro da CDU
persegue nestas eleições o regresso ao estatuto de grupo parlamentar na
Assembleia Legislativa (pelo menos dois deputados), sendo evidente que os
eleitores, sobretudo nalgumas zonas da periferia dos centros urbanos (Funchal e
Santa Cruz) costumam premiar a abnegação e persistência do PCP no terreno.
Contudo os comunistas sabem que, regra geral, a votação conseguida no Funchal e
em Santa Cruz (por exemplo, 77,2% da votação total em 2011, 79% nas regionais
de 2007, 80% nas regionais de 2004 e 81,4% em 2000) é decisiva para os seus
objetivos eleitorais. Isto explica, não apenas a presença quase diária do PCP
nas zonas altas do Funchal, mas os olhares sobre Santa Cruz, e presença no
terreno, acompanhada de críticas duras à JPP. Os comunistas nunca integraram a
coligação que apoiou o movimento JPP nas autárquicas, mas percebe que a
transformação deste movimento em partido poderá ter algum impacto negativo no
resultado do PCP nestas regionais. Algo que Edgar Silva não quer sequer
imaginar. Admito por isso que nestes últimos dias Santa Cruz possa ver
reforçada a sua importância na estratégia eleitoral dos comunistas.
- eventual regresso, sim ou não, de um Bloco de Esquerda de
Roberto Almada à Assembleia Regional, obrigado depois das regionais de 2011 -
quando foi afastado pela primeira vez desde 1976 do parlamento regional - a uma
espécie de penosa "travessia do deserto" que apenas não deixou marcas
ainda mais duras devido à persistência e experiência política dos principais
dirigentes do Bloco que perceberam cedo que, havendo um tempo para tudo,
politicamente falando, o regresso do Bloco à ribalta teria que ser ensaiado nas
autárquicas de 2013 (hoje lidera a Assembleia Municipal do Funchal) emas
regionais deste ano. Reconheço que o Bloco se apresenta hoje, a par de um
radicalismo ideológico que não tem gerado sucessos eleitorais a nível nacional,
bem pelo contrário, claramente com um discurso mais moderado - comparativamente
ao radicalismo fundamentalista de 2011 e que porventura esteve na base do seu
afastamento do parlamento regional? Exemplo disso é o tom mais pragmático e
menos radicalizado do discurso do Bloco na Madeira relativamente ao CINM e a
forma como tem sabido gerir o facto de estar na Camara do Funchal coligado ao
PS e de ter optado por concorrer isoladamente, e portanto também contra o PS,
nestas regionais.
- qual a capacidade dos partidos políticos em cativarem a
atenção dos eleitores para impedir que os cerca de 110 mil abstencionistas nas
regionais de 2011 - 44,5% - aumentem. Nas regionais de 2011 a abstenção atingiu
um valor recorde (42,6%) que superou o anterior máximo (39,6% em 2004). A
abstenção será importante para o desfecho eleitoral e muitos dos propósitos de
alguns partidos que também dependem diretamente da dimensão da abstenção. A
este propósito reconheço que há partidos, sobretudo os mais pequenos, que não
realizam campanha eleitoral coisa nenhuma. Limitam-se, para além dos tempos de
antena na rádio e televisão legalmente estabelecidos, a marcar presença diária
em localidades ou junto a organismos públicos levando a comunicação social a
reboque, para depois perorarem uns tantos bitaites que obviamente são alvo de
cobertura informativa. Contato com eleitores, pequenos comícios, programas de
governo (ou manifestos eleitorais com as ideias essenciais) porta-a-porta,
nada. O erro destes partidos e saber se tanto os tempos de antena como os
espaços de informação regionais - em horas de telenovelas ou por vezes de
transmissão de jogos de futebol na concorrência - têm ou não as audiências que
eles julgam, para mim erradamente, que têm. Enfim, esperemos por 29 de Março...
- qual o papel que Santa Cruz terá no contexto eleitoral
regional, dado que é o "ninho" original da JPP. Caso o movimento, que
conquistou a autarquia em 2013 seja capaz de manter o eleitorado originalmente
reclamado pelos principais partidos apoiantes da JPP na corrida camarária
(pelas minhas contas a rondar os 80% dos quase 14 mil votos de 2013), e alargue
aos eleitores descontentes do PS e a alguns abstencionistas crónicos, no
Funchal e demais centros urbanos, o resultado da JPP também pode condicionar os
propósitos eleitorais dos principais partidos, sobretudo do PS e do CDS
principais apoiantes da JPP enquanto movimento autárquico. Não nos podemos
esquecer que Filipe Sousa, Presidente da CMSC e figura de proa da JPP foi
durante vários anos dirigente do PS, tendo mesmo exercido durante anos as
funções de deputado regional pelos socialistas com quem entrou depois em rota
de colisão por razões políticas internas (LFM/JM)