sexta-feira, junho 06, 2014

Último navajo autor de código secreto na II Guerra

Li no DN de Lisboa que “Chester Nez, o último sobrevivente dos 29 índios navajos que criaram um código de comunicação que os japoneses nunca conseguiram decifrar durante a Segunda Guerra Mundial, morreu ontem aos 93 anos no estado norte-americano do Novo México. O cabo Chester Nez fazia parte dos 29 índios Navajos recrutados pelo Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (Marines) em maio de 1942, quando era ainda um adolescente, para criar uma linguagem criptográfica assente na complexidade da língua navajo. Língua tonal, e não escrita, que viria a ser usada para encriptar mensagens enviadas de telefones e rádios no campo de batalha do Pacífico. O código secreto partia de uma língua que, para além de não ter escrita, apenas era falada no sudoeste dos EUA e aos índios navajos contratados para os marines apenas menos de três dezenas de pessoas a conheciam. "Tenho muito orgulho em dizer que os japoneses fizeram tudo para decifrar o código, mas nunca conseguiram", afirmava Nez ao jornal militar 'Stars and Stripes', no ano passado. "A força da nossa língua foi partilhada com o mundo durante a Segunda Guerra Mundial quando os 29 primeiros "Code talkers" (falantes do código) se tornaram voluntários. Infelizmente, perdemos o último sobrevivente desses 29 homens", afirmou ontem o presidente da nação Navajo, Ben Shelly, à AFP. As bandeiras estarão a meia haste até 8 de junho no território da tribo.
No total, cerca de 400 índios americanos navajos participaram nos combates do pacífico como "code talkers". As suas qualidades em combate, que por várias vezes foram enaltecidas, são retratadas, por exemplo, no filme de 2002, "Windtalkers" de John Woo, que conta a história de dois marines destacados para proteger dois "code talkers" durante a batalha de Saipan (uma das ilhas Marianas, no Pacífico). O código secreto traduzia termos quotidianos em navajo para termos militares: "pássaro" tornou-se "avião", "pássaro grávido" "bombardeiro", "tartaruga" "tanque" e "falcão" "bombardeiro de mergulho". Para referirem a América usavam "Ne-he-mah", que em navajo diz "nossa mãe". O sistema criptográfico atribuia também uma palavra indiana para cada letra do alfabeto latino: em Navajo, a palavra "moasi", que significa "gato", era utilizada para significar a letra "c". A linguagem permaneceu secreta até aos anos 1968, pois o exército americano considerou durante muito tempo que este código ainda poderia vir a ser útil, em caso de novo conflito. Os "code talkers" estiveram, assim, mais de vinte anos sob proibição de falar do código, mesmo às suas famílias ou a membros dos Marines.
Em 2001, os 29 primeiros "code talkers", recrutados em 1942 foram homenageados com a Medalha de Ouro do Congresso, pelo então Presidente, George W. Bush. Em 2013, o American Veterans Center galardoou Chester Nez com o Audie Murphy Award, um prémio em honra do soldado norte-americano que, conhecido no início da carreira como "Shorty" ("baixote"), acabaria como o soldado mais condecorado da Segunda Guerra.
Depois da Segunda Guerra, Nez voluntariou-se e serviu durante mais dois anos na Guerra da Correia. Retirou-se em 1974, após uma carreira como pintor no hospital de veteranos (Veterans Administration hospital) em Albuquerque, Novo México. Em 2011, lançou o livro Code Talker, onde conta como "quando as bombas caiam, geralmente nós, os "code talkers", não podiamos abrigar-nos". "Nós éramos quase sempre necessários para transmitir informações, pedir mantimentos e munições, e comunicar estratégias. E depois de cada transmissão, para evitar os ataques japoneses, tínhamos de mudar de local."