Li no DN de Lisboa que “Chester Nez, o
último sobrevivente dos 29 índios navajos que criaram um código de comunicação
que os japoneses nunca conseguiram decifrar durante a Segunda Guerra Mundial,
morreu ontem aos 93 anos no estado norte-americano do Novo México. O cabo
Chester Nez fazia parte dos 29 índios Navajos recrutados pelo Corpo de
Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (Marines) em maio de 1942, quando era
ainda um adolescente, para criar uma linguagem criptográfica assente na
complexidade da língua navajo. Língua tonal, e não escrita, que viria a ser
usada para encriptar mensagens enviadas de telefones e rádios no campo de
batalha do Pacífico. O código secreto partia de uma língua que, para além de
não ter escrita, apenas era falada no sudoeste dos EUA e aos índios navajos
contratados para os marines apenas menos de três dezenas de pessoas a
conheciam. "Tenho muito orgulho em dizer que os japoneses fizeram tudo
para decifrar o código, mas nunca conseguiram", afirmava Nez ao jornal
militar 'Stars and Stripes', no ano passado. "A força da nossa língua foi
partilhada com o mundo durante a Segunda Guerra Mundial quando os 29 primeiros
"Code talkers" (falantes do código) se tornaram voluntários.
Infelizmente, perdemos o último sobrevivente desses 29 homens", afirmou
ontem o presidente da nação Navajo, Ben Shelly, à AFP. As bandeiras estarão a
meia haste até 8 de junho no território da tribo.
No total, cerca de 400 índios americanos
navajos participaram nos combates do pacífico como "code talkers". As
suas qualidades em combate, que por várias vezes foram enaltecidas, são
retratadas, por exemplo, no filme de 2002, "Windtalkers" de John Woo,
que conta a história de dois marines destacados para proteger dois "code
talkers" durante a batalha de Saipan (uma das ilhas Marianas, no
Pacífico). O código secreto traduzia termos
quotidianos em navajo para termos militares: "pássaro" tornou-se
"avião", "pássaro grávido" "bombardeiro",
"tartaruga" "tanque" e "falcão" "bombardeiro
de mergulho". Para referirem a América usavam "Ne-he-mah", que
em navajo diz "nossa mãe". O sistema criptográfico atribuia também
uma palavra indiana para cada letra do alfabeto latino: em Navajo, a palavra
"moasi", que significa "gato", era utilizada para
significar a letra "c". A linguagem permaneceu secreta até aos anos
1968, pois o exército americano considerou durante muito tempo que este código
ainda poderia vir a ser útil, em caso de novo conflito. Os "code
talkers" estiveram, assim, mais de vinte anos sob proibição de falar do
código, mesmo às suas famílias ou a membros dos Marines.
Em 2001, os 29 primeiros "code
talkers", recrutados em 1942 foram homenageados com a Medalha de Ouro do
Congresso, pelo então Presidente, George W. Bush. Em 2013, o American Veterans
Center galardoou Chester Nez com o Audie Murphy Award, um prémio em honra do
soldado norte-americano que, conhecido no início da carreira como
"Shorty" ("baixote"), acabaria como o soldado mais
condecorado da Segunda Guerra.
Depois da Segunda Guerra, Nez
voluntariou-se e serviu durante mais dois anos na Guerra da Correia. Retirou-se
em 1974, após uma carreira como pintor no hospital de veteranos (Veterans
Administration hospital) em Albuquerque, Novo México. Em 2011, lançou o livro Code Talker, onde
conta como "quando as bombas caiam, geralmente nós, os "code
talkers", não podiamos abrigar-nos". "Nós éramos quase sempre
necessários para transmitir informações, pedir mantimentos e munições, e
comunicar estratégias. E depois de cada transmissão, para evitar os ataques
japoneses, tínhamos de mudar de local."