Segundo o Jornal I, num texto do jornalista Sérgio Soares, “a invasão da Normandia
ocorreu demasiado tarde para aliviar o esforço soviético na frente oriental,
pelo que Estaline a considerou desnecessária. No 70.o aniversário do Dia D, também
chamado o Dia mais Longo, são cada vez mais os historiadores, inclusive
militares, que consideram a invasão da Normandia, a 6 de Junho de 1944, uma
carnificina desnecessária para a derrota da Alemanha nazi, ao contrário do que
se pensa e do que a cinematografia de Hollywood gravou no imaginário colectivo. Mas para os Aliados, que também pagaram um
elevado preço em vidas humanas, o Dia D marcou efectivamente o início da
libertação da Europa do jugo nazi. No entanto, alguns historiadores sustentam
que o exército alemão já tinha sido praticamente derrotado pelos russos na
frente oriental e a indústria de guerra alemã estava totalmente destruída pelos
bombardeamentos aéreos aliados. Esta é também a tese académica apresentada
pelo tenente-coronel William F. Moore, da Força Aérea americana, ao Air
College, Air University em 1986. O propósito da sua tese foi demonstrar que
a percepção que se tem ainda hoje da Operação Overlord se baseia numa ilusão e
é um mito.
"Os americanos acreditam que a
Alemanha nazi foi derrotada na Segunda Guerra Mundial pelas forças
americanas", sustenta. "O americano comum também acredita que as
forças combinadas dos EUA e da Grã-Bretanha foram os principais responsáveis
pela destruição do exército alemão em 1944 e 1945, após o bem sucedido
desembarque anfíbio na costa da Normandia", afirma.
Os feitos dos generais Patton e Montgomery,
que penetraram na França em direcção à Alemanha, a partir da Normandia,
tornaram-se lendários e objecto de numerosos livros e filmes de Hollywood. O Dia D continua a ser a maior invasão
marítima da história, envolvendo no final cerca de 3 milhões de soldados, que
atravessaram o canal da Mancha, entre a Inglaterra e a Normandia, na França
ocupada. A relação bipolar entre o Ocidente e a União Soviética até à década de
90, e mais tarde a Guerra Fria, foram consequência directa desta invasão. Não
tivessem os Aliados desembarcado na Normandia e provavelmente o Exército
Vermelho não se teria detido em Berlim. Doze nações aliadas forneceram as unidades
de combate que participaram na invasão, entre as quais a Austrália, o Canadá, a
Bélgica, França, a Checoslováquia, a Grécia, a Nova Zelândia, a Holanda, a
Noruega, a Polónia, o Reino Unido e os Estados Unidos. Na mensagem proferida à força
expedicionária, o general de cinco estrelas Dwight D. Eisenhower disse ter
plena confiança na coragem dos soldados, na sua devoção à tarefa e aptidão para
a batalha. O comandante-supremo aliado reconheceu nessa famosa alocução que a
tarefa que esperava os seus soldados do outro lado da Mancha não seria fácil
porque iriam enfrentar um inimigo bem treinado, bem equipado e que combateria
feroz e selvaticamente. "Não aceitaremos nada que não seja uma vitória
total", proclamou. O primeiro assalto, que visava estabelecer
uma testa-de-ponte segura, foi efectuado sob o nome de código Operação Neptuno.
Esta operação começou no Dia D e terminou a 30 de Junho, quando finalmente os
Aliados estabeleceram uma plataforma segura na Normandia.
VEM AÍ OS RUSSOS
"Quando os britânicos foram finalmente
convencidos pelos americanos a participar na invasão da França, em 1944, pela
Normandia - estes preferiam um desembarque pelo Mediterrâneo -, a invasão foi
essencialmente conduzida no interesse do Ocidente, já que o risco terrível de
um colapso da União Soviética há muito havia passado", afirma William F.
Moore. "Nessa altura, o Exército Vermelho apenas necessitava de
abastecimentos para ocupar a Europa oriental", sublinha a tese que
defende. De acordo com a sua análise, a invasão da Normandia ocorreu demasiado
tarde para ter qualquer significado expressivo em termos de ajuda aos russos.
De facto, Estaline, que tanto pedira a abertura de uma segunda frente a
ocidente, chegou a declarar que a invasão naquela altura já não era necessária.
Nessa altura do conflito, a liderança americana, incluindo Roosevelt, entendeu
que as forças americanas deveriam assumir uma parte significativa do esforço
para a derrota do exército alemão, porque de contrário os russos não se
mostrariam cooperantes no pós-guerra. Do ponto de vista ocidental, a invasão e
ocupação a ocidente eram cruciais para impedir a conquista total do Norte e do
Ocidente da Europa pelo avanço imparável das forças soviéticas. Apesar da
superioridade bélica esmagadora dos aliados na parte ocidental da Europa, os
soviéticos sempre fizeram questão de sublinhar que a parte de leão do esforço
militar e humano caíra sobre o Exército Vermelho, que tinha sido decisivo para
derrotar a máquina de guerra de Hitler. Desde então, Moscovo e os seus
satélites comemoram o dia 9 de Maio como o Dia da Vitória, e não o dia 6 de
Junho. Foi precisamente no dia 8 de Maio de 1945 que o marechal da União
Soviética, Gueorgui Jukov, o marechal da Grã-Bretanha, Arthur Tedder, e o
marechal de campo da Wehrmacht, Wilhelm Keitel, assinaram no subúrbio
berlinense de Karlshorst um acto tripartido de capitulação incondicional do
Terceiro Reich. Na capital russa, nesse momento os relógios marcavam as 0h43
(hora de Moscovo) do dia 9 de Maio.
A CAMINHO DO TRIUNFO OCIDENTAL
Mas um ano antes os aliados tinham
desembarcado na Normandia uma primeira vaga de 170 mil soldados, que incluía
pára-quedistas, seis divisões de infantaria e blindados. A frota reunida para a
invasão foi a maior concentração de navios e embarcações de todos os tipos da
história, com mais de 5 mil navios e lanchas de desembarque. No final, após
vários meses, os combates provocaram baixas avaliadas em cerca de 550 mil
soldados, incluindo mortos, feridos e desaparecidos entre os beligerantes.
Deste total, 19 mil foram civis franceses. A invasão da Normandia saldou-se por
uma vitória dos Aliados devido à força esmagadora dos números, em homens e
equipamento colocados no teatro de operações. Em Julho de 1944, um milhão de
soldados estavam firmemente entrincheirados na Normandia. Para a invasão, os
Aliados reuniram na Grã-Bretanha cerca de 3 milhões de soldados e 16 milhões de
toneladas de armas, munições e abastecimentos. No dia 6 de Junho, cerca das
zero horas, 170 mil soldados aliados já combatiam na Normandia. O comando
aliado mostrava-se optimista. Os reforços continuavam a chegar. As primeiras
baixas foram inferiores ao que fora inicialmente estimado. Nos primeiros dias
os americanos perderam 6600 soldados, os britânicos e os canadianos 4 mil. No
total, cerca de 10 mil homens foram mortos e feridos ou desapareceram em
combate.
A RESISTÊNCIA ALEMÃ
Os Aliados defrontaram-se com o Grupo B do
Exército alemão, bem entrincheirado na orla costeira. Além disso, as forças
alemãs eram compostas pelo sétimo exército na Normandia, pelo 50.o Exército em
Pas de Calais e na Flandres, e pelo 88.o Corpo na Holanda, sob comando do marechal
de campo Erwin Rommel. O comandante-em-chefe de todas as forças germânicas na
Europa ocidental era o marechal de campo von Rundstedt, que dispunha ainda do
chamado Grupo G composto pelo 1.o e pelo 19.o exército. No total, Rundstedt
dispunha de 50 divisões de infantaria e dez divisões Panzer espalhadas pela
França e pelos Países Baixos. Os alemães dispunha ainda da famosa muralha
atlântica, que começara a ser construída em 1942 e incluía campos minados,
muros de betão, bunkers, vedações e valas com arame farpado, além de posições
nas colinas fortificadas com artilharia pesada. Em 1943, Hitler nomeou Erwin
Rommel para o comando do exército do Grupo B e atribuiu-lhe a responsabilidade
da defesa da Normandia. Rommel inspeccionou as defesas costeiras e
considerou-as desadequadas. De imediato providenciou que fossem reforçadas com
campos de minas nas praias. Foram ainda instaladas peças de artilharia de todos
os tipos e implantados obstáculos no mar, além de minas para impedir
desembarques anfíbios. Contudo, o marechal percebeu que mesmo assim as suas
defesas não impediriam uma poderosa invasão aliada. Assumiu que no melhor
cenário tudo serviria apenas para atrasar a invasão. Rommel estava convencido
que não podia deixar os Aliados instalarem-se em nenhum local e que ao primeiro
sinal de invasão as forças aliadas teriam de ser imediatamente destruídas. O
problema é que Rommel dependia do marechal de campo Rundstedt, que era o
comandante supremo alemão na França ocupada. Rommel necessitava da autorização
de Rundstedt para deslocar qualquer unidade militar dos vários exércitos
alemães estacionados nos países vizinhos ocupados. Nenhum pedido de Rommel obtinha
resposta imediata porque Rundstedt submetia primeiro o pedido a Adolf Hitler.
Para agravar a relação complicada entre os
dois militares, a filosofia de Rundstedt era diferente da de Rommel e assentava
na ideia de que para conter uma eventual invasão era preciso manter na
retaguarda as seis divisões de panzers de reserva no Norte de França e usá-las
depois para dar um golpe definitivo aos invasores já do lado de cá da Mancha. O
resultado foi o conhecido. Apesar da feroz resistência, que durou quase um mês,
os alemães acabaram por ser derrotados. Entretanto, enquanto gozava um curto
período de férias, Rommel foi envolvido na tentativa de assassinato de Hitler
no dia 20 de Julho. A 14 de Outubro, dois generais alemães que investigavam o
complot visitaram-no em casa e deram--lhe a escolher entre tomar veneno e ser
presente a tribunal militar sob acusação de alta traição. O marechal escolheu o
suicídio nesse dia. Hitler concedeu-lhe um funeral de herói e a sua morte foi
atribuída aos ferimentos recebidos anteriormente num ataque aéreo contra a sua
viatura.
O
Cenário
O Dia Mais Longo terminou numa orgia de
sangue que banhou as praias escolhidas pelo alto comando aliado para os
desembarques
Utah Beach
Por erro, as fortes corrrentes afastam o
desembarque das tropas 1800 metros para sul do local previsto. Um erro feliz
porque os alemães estavam menos concentrados nesse local.
Omaha Beach
A 1.ª e a 29.ª divisões americanas
desembarcam a 6,5 quilómetros do local previsto. Dos seus 29 blindados
anfíbios, 27 foram afundados. O bloqueio alemão é total e as tropas invasoras
são sujeitas a fogo cerrado.
Point du Hoc
Os Rangers do coronel Ruuder atacam a parte
oriental da montanha de Pointe du Hoc onde se situava uma forte bateria alemã.
Os comandos tiveram de trepar 30 metros nas rochas escarpadas para destruir a
artilharia sobre os desembarques nas praias de Omaha e Utah.
Gold Beach
A 50.ª divisão britânica comandada pelo
major general Graham desembarca a cinco
quilómetros do local previsto. A artilharia alemã atrasa a ofensiva.
Sword Beach
A 3.ª Divisão britânica sob comando do
general T.D. Rennie desembarca à hora marcada. O bombardeamento aéreo e naval
das defesas alemãs foi efectivo, mas pesados combates atrasam o progresso dos
soldados.
Juno Beach
A 3.ª Divisão de Infantaria canadiana
comandada pelo general R.F.L. Keller desembarcou nesta praia às 7h45. Quinze
minutos atrasados. Sete tanques anfíbios de um total 39 são afundados pelo
inimigo. A resistência alemã é cerrada.
Os estrategos
Dwight D. Eisenhover
“Cada arma produzida, cada navio lançado,
cada rocket disparado, significam no final um roubo aos que tem fome e não são
alimentados, aos que tem frio e não são agasalhados.” O autor desta frase foi o
estratega do Dia D e comandante supremo das forças aliadas na Segunda Guerra
Mundial. Dwight D. Eisenhower atingiu a mais alta patente do exército
norte-americano como general de cinco estrelas. Planeou a invasão da Normandia
que ajudou a remover o exército alemão da França ocupada. Quando a guerra
terminou, aceitou a rendição das tropas germânicas. Nunca entrou em acção, e
não ganhou o respeito dos seus comandantes na linha da frente. Sobre ele,
Montgomery disse: “Nice chap, no general.” Teve de lidar com subordinados
complicados como Bradley e Patton, e aliados como Churchill, Montgomery e De
Gaulle. Foi eleito presidente dos EUA em 1952.
Erwin Rommel
Rommel sabia que a única hipótese de obter
uma vitória sobre os invasores seria desencadear rápidos contra-ataques,
nomeadamente com forças blindadas Panzer. Por diversas razões, a poderosa força
blindada ao dispor não esteve imediatamente disponível quando a invasão aliada
começou. A ausência de clareza na estrutura de comando da Divisão Panzer, ainda
em composição, complicou ainda mais a sua difícil relação com o comandante em
chefe, marechal de campo Gerd von Rundstedt. As divergências estratégicas entre
ambos sobre o local onde a invasão seria feita e a melhor forma de distribuir
no terreno as reservas blindadas implicou que a 6 de Junho apenas uma unidade,
a 21.a Divisão Panzer, estacionada em Caen, estivesse em posição de
contra-atacar nesse dia. Esta divisão ganhara reputação com Rommel no Afrika
Korps. A lenta e tardia reacção foi fatal para os alemães”.