quarta-feira, março 05, 2014

Ajustes directos: Troika quer investigar 250 contratos por suspeitas de ilegalidade


Diz o JornaI I, num texto da jornalista Ana Suspiro que “a troika exige mais informação e fiscalização dos contratos públicos. E quer travar divisão de valores para fugir às regras A troika não está satisfeita com o nível de informação sobre a contratação pública e o controlo e fiscalização dos contratos. As dúvidas centram-se sobretudo nos ajustes directos, que continuam a dominar as adjudicações do Estado em valor, representando mais de 50% dos montantes contratados o ano passado. De acordo com o relatório da Comissão Europeia à décima avaliação do programa português, os dados fornecidos em Janeiro deste ano assinalavam 250 contratações suspeitas de ser ilegais e que exigiam mais atenção e monitorização sistemática por parte das entidades competentes. O relatório adianta que uma lista abrangente de ajustes directos foi remetida ao Tribunal de Contas e à Inspecção-Geral de Finanças, para que a fiscalização destas entidades dê mais transparência a este fenómeno. A iniciativa surge depois de a troika ter considerado insuficiente uma segunda versão do relatório, entregue em Novembro, sobre a implementação do código revisto da contratação pública, bem como sobre o cumprimento das regras europeias de contratação. À data foram sinalizados 750 ajustes directos, de um total de 1200 procedimentos, num valor de 70 milhões de euros, que foram adjudicados entre Agosto de 2012 e Agosto de 2013. Em muitos casos, as dúvidas de irregularidades de contratos resultam de erros de reporte ou falhas na comunicação por parte das entidades públicas que colocam a informação no portal base onde devem estar todos os contratos de ajuste directo. Por outro lado, há assimetrias de informação, alguns contratos estão acessíveis em anexo e outros não, e há entidades públicas que pura e simplesmente não comunicam os seus contratos: a Caixa Geral de Depósitos e a Parpública são exemplos. O relatório da Comissão diz que não foi possível aferir o grau de cumprimento das regras europeias, uma das exigências do Memorando de assistência, durante a última missão devido à falta de informação. Os técnicos de Bruxelas asseguram que as autoridades nacionais já aceitaram dar informação mais detalhada sobre os ajustes directos em causa, incluindo os motivos para este tipo de contratação e a distribuição dos contratos por sector e valor médio.
DIVISÃO DE VALORES CONTORNA LEI
O objectivo é introduzir salvaguardas adequadas contra "divisões estratégicas de contratos" que têm a intenção de fugir às regras europeias de contratação, acrescenta o relatório. O código português prevê que o ajuste directo só possa ser usado para contratos abaixo de 150 mil euros para empreitadas de obras públicas e 75 mil euros para aquisição de serviços e bens móveis, mas muitas vezes os limites são ultrapassados. Há excepções que o permitem, como urgência, sigilo ou patentes ou direitos exclusivos, mas há também contratos entregues à mesma entidade e com o mesmo objecto que parecem ter sido fraccionados para permitir o ajuste directo. Em 2013, cerca de 54% do valor contratado pelo Estado, equivalente a 1954 milhões de euros, foi feito por ajuste directo. Desde 2011, o peso dos ajustes no montante total adjudicado subiu 10 pontos percentuais. As estatísticas gerais até 2013 estão no observatório das obras públicas, mas o último relatório anual detalhado sobre os contratos do Estado é de 2011. Contactado pelo i, o INCI (Instituto da Construção e do Imobiliário), que é responsável pela gestão do portal base, diz apenas que o relatório anual relativo a 2012 será "publicado muito brevemente". Outra fonte nacional contactada pelo i assegura que Portugal tem já um dos sistemas de reportes de contratos públicos, através do portal base, mais transparentes e informativos a nível europeu, e sugere que alguns dos dados pretendidos pela troika podem ser excessivos por envolverem matérias consideradas segredo comercial. Por outro lado, algumas das suspeitas relativas a casos concretos acabam por ficar esclarecidas após a confirmação dos dados junto das entidades”