quarta-feira, abril 17, 2013

Opinião: "Paulo Portas e os bailarinos"

"Por um motivo qualquer que me escapa, tornou-se central no comentário político saber o que estaria Paulo Portas a fazer por volta do meio-dia de sábado. O líder centrista e ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros faltou à tomada de posse de dois colegas de Governo, tendo previamente avisado o primeiro-ministro. Mas isso não nos chega. Queremos saber porquê e que raio estava ele a fazer.
Passos Coelho disse à imprensa que Portas o informara que estava demasiado longe de Lisboa para poder estar presente. No dia seguinte, Portas disse que se tratavam de motivos de Estado. Já estamos contentes? Ainda não! Portas tem de dizer que motivos eram esses. Hoje, o editorial do 'Público' acusa o líder centrista de ter feito uma birra e exorta-o a explicar o que o impediu de estar presente na tomada de posse.
Há uns dias, no Parlamento, o líder da bancada do PS também acusou o CDS de ser um partido bailarino - ora dentro, ora fora, ora a favor, ora contra. Tem razão, mas a minha pergunta é: e qual o problema?
O problema, do meu ponto de vista, é que por cá não nos habituámos a ter governos com mais de um partido e com mais de um interesse. Qualquer sinal de dissidência dentro do Governo é logo tido por crise grave. Um Governo é, para os media e provavelmente para a maioria dos portugueses, não algo operativo, como deve ser, mas algo programático, uma espécie de 'Comité Central' do país, onde todos têm de estar alinhados até ao pormenor.
Se a falta de Portas quis mostrar algum distanciamento em relação à pífia remodelação que Passos fez no Governo, conseguiu-o. Mas isso é um problema? Porquê? Não é normal que PSD e CDS tenham perspetivas diferentes, sendo partidos diferentes?
E o meu ponto é que isso é absolutamente normal. Um Governo formado por mais do que um partido (e também por independentes) tem, obviamente divergências. O CDS (bem como os independentes) não está no Governo para servir a estratégia do PSD ou de Passos, mas (pelo menos assim devia ser) para servir o país. Em Portugal, porém, persiste esta visão unitarista de tudo, em que as divergências, as opiniões diferentes, as diferenças de perspetivas são sempre vistas como algo gravíssimo.
Lembrei-me, a propósito, de uma entrevista ontem concedida pelo primeiro-ministro finlandês também ao 'Público'. Perguntam-lhe: como se lidera um governo de coligação com seis partidos (sublinho o número seis). E responde Jyrki Katainen: "Não é fácil porque não há semelhanças ideológicas que possam servir de base. Mas o que nos une é o pragmatismo. Definimos um objetivo e depois discutimos a melhor maneira de o atingir (...) Não é fácil, mas pomos de lado a ideologia (...)".
Não é fácil, mas vamos ter de nos habituar a viver sem fazer dramas destas pequenas coisas" (texto de Henrique Monteiro, Expresso, com a devida vénia)