"O ocaso de Mário Soares está a ser uma espectáculo lamentável. Durante os anos Sócrates, Soares não se distinguiu dos demais capangas socráticos na defesa do chefe. Ante as trapalhadas e mentiras de Eng., o ex-Presidente usou a cassete dos Lellos desta vidinha. Um pouco triste, não? Soares não se comportou como "pai da democracia" (uma contradição em termos, diga-se), mas como pai do PS. Não mostrou a dignidade do senador, mostrou os dentes do jotinha. Porquê? Para Soares, a democracia é o PS e o PS é a democracia; o PS é a única linha dinástica legítima nesta monarquia republicana chamada III República. Aliás, naquela cabeça, o regime é o ele mesmo, o regime é o próprio Soares, D. Soares I.
Esta presunção de superioridade dinástica subiu de tom após a subida ao poder do actual governo. Numa linguagem arruaceira, Soares tem sugerido um incremento da violência social. Qual miguelista invertido, Soares anda a sonhar há meses com várias Marias da Fonte. E, neste fim-de-semana, passou dos limites quando disse o seguinte sobre Cavaco: "por muito menos do que isto foi D. Carlos morto". Isto é a linguagem de taberna arsenalista, é uma linguagem vergonhosa para um ex-Presidente de uma democracia. Mas, claro, D. Soares I não se sente numa democracia onde ninguém está acima de crítica. D. Soares I julga que está no seu reino, a monarquia republicana onde todos lhe devem respeitinho.
Mas o pior é o silêncio dos média. Soares pode dizer o que quiser. Pode ter atitudes machistas perante eurodeputadas, pode lançar snoneira contra o homem de Boliqueime, pode gozar com os contribuintes quando o seu carro é multado, pode refazer à vontade a sua biografia , pode ser um mero apparatchik do PS, pode até acenar com violência política, pode tudo isto porque passa sempre entre os intervalos da chuva. Ele é o Rei, e o Rei, como se sabe, nunca se molha mesmo quando vai nu. Enquanto esteve no poder, D. Soares nunca se molhou porque recebeu sempre um tratamento principesco nas redacções (Joaquim Vieira explica ). Agora, depois da reforma, é tratado como um ser inimputável. Ou seja, Mário Soares passou as últimas décadas numa redoma situada acima do bem e do mal". (texto de Henrique Raposo, Expresso, com a devida vénia)
Esta presunção de superioridade dinástica subiu de tom após a subida ao poder do actual governo. Numa linguagem arruaceira, Soares tem sugerido um incremento da violência social. Qual miguelista invertido, Soares anda a sonhar há meses com várias Marias da Fonte. E, neste fim-de-semana, passou dos limites quando disse o seguinte sobre Cavaco: "por muito menos do que isto foi D. Carlos morto". Isto é a linguagem de taberna arsenalista, é uma linguagem vergonhosa para um ex-Presidente de uma democracia. Mas, claro, D. Soares I não se sente numa democracia onde ninguém está acima de crítica. D. Soares I julga que está no seu reino, a monarquia republicana onde todos lhe devem respeitinho.
Mas o pior é o silêncio dos média. Soares pode dizer o que quiser. Pode ter atitudes machistas perante eurodeputadas, pode lançar snoneira contra o homem de Boliqueime, pode gozar com os contribuintes quando o seu carro é multado, pode refazer à vontade a sua biografia , pode ser um mero apparatchik do PS, pode até acenar com violência política, pode tudo isto porque passa sempre entre os intervalos da chuva. Ele é o Rei, e o Rei, como se sabe, nunca se molha mesmo quando vai nu. Enquanto esteve no poder, D. Soares nunca se molhou porque recebeu sempre um tratamento principesco nas redacções (Joaquim Vieira explica ). Agora, depois da reforma, é tratado como um ser inimputável. Ou seja, Mário Soares passou as últimas décadas numa redoma situada acima do bem e do mal". (texto de Henrique Raposo, Expresso, com a devida vénia)